Mundividência e percepção de si e dos outros em adolescentes com diagnóstico de ansiedade social

• Author(s): Falcão, Carlos Manuel Rosa Marinho
• Date: 2014
• Persistent ID: http://hdl.handle.net/10174/9635
• Origin: Repositório Científico da Universidade de Évora
• Subject(s): Ansiedade social; Adolescência; Fenomenologia; Mundividência
• Document Type: Doctoral thesis
• Language: Portuguese

Description

Esta investigação baseia-se no paradigma dos estudos empíricos realizados na perspectiva da Análise Fenomenológica Interpretativa (IPA), abordagem relativamente recente de pesquisa qualitativa. O principal objectivo é a compreensão da forma como adolescentes diagnosticados com ansiedade social dão sentido às suas experiências de vida relativamente à representação de si, percepção das relações humanas e do mundo, relacionamento social com pares, experiência da exclusão e percepção da mudança. Pretende-se também verificar em cada um destes temas a existência de associações com grupos etários e sexos. A amostra é constituída por 30 adolescentes diferenciados em três subgrupos etários (13-14 anos; 15-16 anos e 17-18 anos), tendo cada um deles o mesmo número de sujeitos de ambos os sexos. Os dados foram obtidos através de entrevistas semi-estruturadas, tendo sido utilizados procedimentos qualitativos e quantitativos na sua análise e tratamento. Os principais resultados reportam-se à identificação das diversas percepções relativamente a cada um dos temas e às semelhanças e diferenças entre essas percepções nos diferentes grupos etários e em ambos os sexos. Relativamente à representação de si, em termos de percepção de si e de imagem especular, ressaltam como aspectos mais relevantes o negativismo e a auto-desvalorização com que estes jovens se percepcionam a si mesmos. O mundo é visto como um espaço social predominantemente marcado pelo egoísmo, pela falta de solidariedade e pelo isolamento. Relativamente à vivência amorosa esta é entendida como um “desejo impossível” devido a traços intrapessoais de falta de valor e medo da rejeição. No respeitante à solidão, a sua vivência é dolorosamente experienciada por estes jovens. Na globalidade, o relacionamento social revela uma visão muito negativa dos pares marcada por constrangimentos relacionais devidos não só a factores depreciativos auto-imputáveis, mas também a atitudes dos outros marcadas pela indiferença e pela incompreensão gerando sentimentos de rejeição, humilhação e desconfiança. A experiência da exclusão revela uma consciência magoada de se sentir irremediável e injustamente rejeitado, registando-se alusões à responsabilidade auto-atribuída pela rejeição sofrida. A percepção da mudança é perpassada pela ideia de impossibilidade de mudar devido a limitações auto-atribuídas e a um locus de controlo externo. Somente no tema relativo à exclusão e nos subtemas relativos à percepção dos pares e da família, na sua globalidade, se encontram ausentes associações estatisticamente significativas com as variáveis idade e sexo, parecendo constituir-se assim como grandes núcleos centrais de comunalidades vivenciais em relação a estes jovens e quiçá à perturbação que os afecta. Em síntese, estes adolescentes apresentam uma mundividência marcadamente negativa, onde predominam ideias de solidão e isolamento em relação aos outros, projectadas a partir de uma percepção de si caracterizada por fortes sentimentos de auto-desvalorização e de culpa. De uma maneira geral verificou-se consonância entre os resultados obtidos e a literatura; Worldview, Self Perception and Perception of Others in Adolescents With Social Anxiety Diagnosis Abstract The present study is based on the paradigm of empirical studies based in the Interpretative Phenomenological Analysis, a recent approach in the domain of qualitative research. The main goal is the understanding of the way adolescents with a diagnosis of social anxiety give sense to their life experiences regarding the representation of themselves, perception of human and world relationships, social relationships with peers, experience of exclusion and perception of change. We also intend to search the association between age and sex groups regarding each of these themes. The total sample is formed of 30 adolescents divided in three age groups (13-14 years; 15-16 years; 17-18 years old), each one with an equal number of subjects from each sex. The data was obtained through semi-structured interviews which were analysed by means of qualitative and quantitative procedures. The main results are referred on one hand to the mapping of the several perceptions regarding each of the themes and on the other hand to the identification of similarities and differences between these perceptions in what concerns the different age groups and sexes. Regarding the representation of themselves in terms of self-perception and mirror image, negativity and self-devaluation with which these adolescents perceive themselves stand out as the most relevant aspects. The world is seen as a social space mainly marked by selfishness, lack of solidarity and isolation. Love experience is understood as a desire impossible, due to intrapersonal traits of worthlessness and fear of rejection. Loneliness is painfully experienced by these adolescents. Overall, the social relationship reveals a very negative view of peers marked by relational constraints due not only to self-deprecating attributable factors, but also to the attitudes of others marked by indifference and incomprehension generating feelings of rejection, humiliation and distrust. The experience of exclusion reveals a painful consciousness of hopelessness for being unjustly rejected, registering allusions to self-responsibility assigned by the rejection suffered. The perception of change is permeated by the idea of impossibility to change due to limitations self-assigned and an external locus of control. As a whole, only on the theme concerning exclusion and on the subthemes concerning peer perception and the family, statistically significant associations with age and gender are absent. This fact seems to be the major cores of experiential commonalities regarding not only these adolescents but also the social anxiety that affects them. In summary, these adolescents have a negative worldview, dominated by ideas of loneliness and isolation from others, which are projected by strong feelings of self-devaluation and guilty. In general it has been found consistency between the results obtained and literature.