Author(s):
Ferreira, Milene Alexandra Gregório
Date: 2017
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.12/5487
Origin: Repositório do ISPA - Instituto Universitário
Subject(s): Crianças com incapacidades; Relações sociais; Interações educadora-criança; Competências sociais; Children with disabilities; Social relationships; Teacher-child interactions; Social competence; Domínio/Área Científica::Ciências Sociais::Psicologia
Description
Tese de Doutoramento em Psicologia na área de especialidade Psicologia Educacional apresentada ao ISPA - Instituto Universitário
Em Portugal, quase todas as crianças com incapacidades encontram-se a frequentar contextos de educação pré-escolar regular, tornando-se fundamental promover a sua inclusão de uma forma que potencie o seu desenvolvimento global, bem como o desenvolvimento de sentimentos de pertença, relações sociais positivas e amizades. De facto, recentemente, o desenvolvimento socio-emocional e comportamental das crianças com incapacidade foi considerado um objetivo crucial de uma inclusão de elevada qualidade na infância (DEC/ NAEYC, 2009). Composta por três estudos, a presente dissertação tem por objetivo alargar o conhecimento existente acerca das experiências sociais das crianças com incapacidades que frequentam contextos de educação pré-escolar e da forma como as suas características individuais e a exposição ao contexto, considerando quer a qualidade das interações educador-criança quer e o tempo de exposição a essas interações, influenciam o estabelecimento de relações sociais e o seu desenvolvimento social. Neste estudo, participaram um total de 86 crianças com incapacidades (63 rapazes) com idades que variavam entre os 45 e 88 meses (M = 67.53, DP = 10.54), frequentando 86 jardins-de-infância inclusivos da área metropolitana de Lisboa, bem como os seus respetivos educadores de infância. O primeiro estudo permitiu descrever as experiências sociais das crianças com incapacidades ao nível das relações diádicas e ao nível do grupo, identificando características individuais e perfis de funcionalidade que dificultam a inclusão social. No segundo estudo, procurou-se compreender em que medida as características das crianças associadas a maior risco de exclusão social e as características dos contextos que parecem ser protetoras, como a qualidade das interações educador-criança (e.g., Burchinal et al., 2010), influenciam as suas experiências sociais e como esta relação é moderada pelo tempo de exposição. Por fim, no terceiro estudo, analisou-se o papel moderador da qualidade das interações educador-criança e do tempo de exposição na relação entre o grau de incapacidade das crianças e as suas competências sociais e comportamentais. Os resultados encontrados evidenciam que as crianças com perfis de incapacidade mais graves e que revelam dificuldades socio-comportamentais apresentam um maior risco de exclusão social, verificando-se que os seus educadores de infância poderão não identificar processos de rejeição destas crianças, colocando em causa a sua inclusão social. Crianças com dificuldades comportamentais e baixa competência verbal parecem revelar mais dificuldades em termos de inclusão social quando têm níveis superiores de exposição, ou seja, quando faltam menos dias. A qualidade das interações educador-criança não parece ter um impacto direto nas experiências sociais das crianças; contudo, parece moderar a associação entre o grau de incapacidade das crianças e os seus problemas de comportamento, tendo a baixa qualidade um impacto negativo nos comportamentos das crianças com incapacidades mais ligeiras. Com base nestes resultados, importa no futuro apoiar os educadores no desenvolvimento de competências de identificação de processos de rejeição e exclusão de crianças com incapacidade pelos seus pares, bem como na implementação de estratégias ativas que promovam o envolvimento das crianças com incapacidade em interações de elevada qualidade, potenciando o desenvolvimento das suas competências e relações sociais. Por outro lado, a simples permanência das crianças com comportamentos desafiantes e menos competências de linguagem em contextos inclusivos parece não ser suficiente para assegurar a sua inclusão social, sendo importante implementar intervenções específicas que promovam, efetivamente, as suas competências socio-comportamentais.
ABSTRACT : In Portugal, almost all children with disabilities attend regular preschool classrooms. Therefore, it is crucial to promote their inclusion ensuring their global development, as well as the development of a sense of belonging, positive social relationships, and friendships. Indeed, recently, the socio-emotional and the behavioral development of children with disabilities was considered a critical goal of high-quality early childhood inclusion (DEC/ NAEYC, 2009). Constituted by three studies, the present dissertation aims to extend the existing knowledge on the social experiences of children with disabilities who attend inclusive early childhood education and care (ECEC) settings and on how their individual characteristics and exposure to context, specifically the quality of teacher-child interactions and the amount of their exposure, influence the development of social relationships and social development. In this study, participated a total of 86 children with disabilities (63 boys), aged between 45 and 88 months (M = 67.53, SD = 10.54) from 86 inclusive preschool classrooms from the metropolitan area of Lisbon, as well as their respective teachers. The first study aimed to describe the social experiences of children with disabilities in terms of dyadic relationships and group level experiences, identifying individual characteristics and functional profiles that hinder their social inclusion. In the second study, we sought to understand to what extent children's characteristics associated with a higher risk of social exclusion and context characteristics that seem to be protective, as the quality of teacher-child interactions (e.g., Burchinal et al., 2010), influence their social experiences and how this association is moderated by their exposure. Finally, in the third study, we analyzed the moderating role of teacher-child interactions quality and dosage in the associations between children’s degree of disability and their social and behavioral competences. Findings showed children with more severe disabilities, and children who revealed socio behavioral difficulties present a higher risk of social exclusion, while suggesting their teachers may not be aware of processes of social rejection, jeopardizing their social inclusion. Children with behavior difficulties and low verbal competence seem to have more social inclusion difficulties, when they have higher levels of dosage, that is, when they miss more school days. Teacher-child interactions quality does not seem to have a direct impact on children's social experiences; however, it does seem to moderate the association between the children’s degree of disability and their problem behaviors, with lower quality having a negative impact on the behavior of children with mild disabilities. Based on these findings, it is important to support early childhood education teachers’ in identifying processes of social rejection and exclusion of children with disabilities by their peers, as well as in implementing active strategies that promote the involvement of children with disabilities in high-quality interactions, enhancing the development of their competences and social relationships. On the other hand, the simple exposure of children with challenging behaviors and less verbal competences to inclusive settings does not seem to be sufficient to ensure their social inclusion, and the implementation of specific interventions to effectively promote their social-behavioral skills seems necessary.