Author(s):
Simões, Maria Eduarda
Date: 2001
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.12/953
Origin: Repositório do ISPA - Instituto Universitário
Subject(s): Psicologia educacional; Representações sociais; Educação; Ambiente rural; História; Educação em Portugal; Educational psychology; Social representations; Education; Rural environment; History; Education in Portugal; Politics
Description
Dissertação de Mestrado em Psicologia Educacional
Contribuindo para o estudo da génese e implantação do presente Sistema Educativo em Portugal, o objectivo deste trabalho de pesquisa incidiu no estudo das Representações Sociais, por parte de um grupo de sujeitos nascidos entre 1926 e 1936, relativamente à sua Escola, à Escola do seu tempo. Este estudo teve lugar, na sequência de uma monografia de licenciatura que tratou igualmente a mesma freguesia rural do Concelho de Ferreira do Zêzere, e cujo objectivo constou de uma análise evolutiva do estatuto da criança em duas gerações diferentes, a dos "avós" e a dos "netos", tendo-se comparado entre elas, imagens sociais relativas à Escola e sua relação com Trabalho, Tempos Livres e Rotinas do Quotidiano. De igual modo, tentou-se ainda evidenciar nessa monografia que questões relacionadas com a evolução dos processos de alfabetização se encontravam inquestionavelmente associadas a transformações sociais e económicas mais abrangentes. Assim, na passagem para o actual trabalho, escolhemos sujeitos desta "geração de avós", mais concretamente aqueles que frequentaram a Escola por um período não inferior a dois anos, e tentámos perceber o seu impacto nas suas vidas. A base de amostragem incidiu em 30 sujeitos, e controlaram-se as variáveis género, idade, nível educacional, local de nascimento e área de residência durante a infância. Em termos metodológicos e de acordo com os nossos objectivos, efectuou-se um estudo das Representações Sociais com base numa investigação qualitativa, utilizando-se como estratégias, entrevistas em profundidade e observação participante. De acordo com a técnica de análise de conteúdo, a informação recolhida e relativa ao objecto de representação " A Escola de 1933 /47 ", reportou-se ao instrumento por nós utilizado, concretizado em entrevistas semiestruturadas, subjacentes a um guião previamente construído. Deste modo, procedeu-se à elaboração de uma entrevista semiestruturada a cada um dos sujeitos da amostra, tendo como propósito uma análise aos dois principais elementos das Representações Sociais, entendidas como produto do pensamento constituído: a informação e a atitude. Ao efectuarmos uma análise dos conteúdos concretos das Representações Sociais por parte deste grupo, e dado que estes indivíduos não se limitaram a receber e a processar informação, mas também a construir significados e a teorizar a realidade social, ficámos com uma ideia da forma como eles se apropriaram, transformaram e utilizaram a sua Escola, conferindo-lhe sentido. Assim, cristalizaram-se num conjunto de elementos, assumindo os seguintes contornos específicos: O facto de se ir à Escola neste período, era algo determinado pela influência exercida por parte das famílias, identificado como factor preponderante, e pelo facto de a Escola ser percebida por alguns sujeitos, como sendo legalmente obrigatória. A excepção de dois ou três sujeitos, do sexo masculino e dos mais novos, que esboçavam a existência de expectativas em termos de mobilidade social, a maioria frequentava a Escola com o objectivo de aprenderem. Trata-se de uma Escola que não era frequentada por todos e cujas limitações à sua frequência, se concretizavam ao nível das raparigas inseridas em família numerosas e com menores recursos económicos. Como vantagens da frequência escolar, foram apontadas a capacidade de assinar, a aprendizagem da leitura e da escrita, formação pessoal e obtenção de um emprego. Em termos físicos e ambientais, a Escola de 1933 / 47 é caracterizada por espaços em que ressaltam salas de aula sem quaisquer condições de higiene e conforto, turmas muito numerosas com várias classes, com crianças de vários grupos etários e diferentes capacidades. Crianças que percorriam grandes distâncias a pé e muitas vezes descalços, para poderem ir à Escola, alimentando-se debaixo do alpendre o que levavam de casa, traduzindo-se em refeições bastante deficientes e chegando a passar fome. Como reflexo de grandes carências e grandes dificuldades, o recreio escolar é visto sob duas perspectivas diferentes, significando para a maior parte dos sujeitos, um espaço agradável, de brincadeira e convívio. Uma Escola cujas aprendizagens são interpretadas como difíceis, com um nível de exigência bastante elevado, relativamente à complexidade dos conhecimentos adquiridos, dando lugar a alunos bem preparados. Contudo, o tempo dedicado à frequência escolar foi visto como de curta duração, dado que as crianças, a partir dos dez, onze anos já não iam para a Escola, porque tinham de ir trabalhar e ajudar seus pais. A doutrina católica traduziu-se em algo prioritário no projecto educativo de cada um, conferindo uma boa educação e uma boa formação pessoal. Uma Escola em que os alunos são vistos como crianças submissas que veneravam as suas professoras e lhes obedeciam, ajudando-as muitas vezes nas tarefas caseiras. Eram crianças que tinham medo das punições infligidas pelas professoras, desencadeando com frequência, atitudes de fuga à Escola. Bastante sacrificadas em termos de trabalho, enquanto umas conciliavam os deveres escolares com as tarefas do campo e as lides caseiras, outras não obtinham diploma, sendo forçadas a abandonar a Escola de modo prematuro e por indicação dos pais, para irem trabalhar, ajudando no sustento do agregado familiar. Uma Escola em que as professoras são representadas como severas, autoritárias e repressivas, mas muito competentes e empenhadas. Bastante controladas por parte das hierarquias, elas tinham como preocupação a apresentação de resultados finais que se concretizavam em termos do número de alunos levados a exame e com sucesso. Uma Escola, em que as famílias dos alunos são vistas como pobres e numerosas, trabalhando de sol a sol, analfabetos a maior parte, com uma educação rígida e conservadora. De um modo geral e segundo a nossa leitura, os conteúdos da representação da Escola de 1933 / 47, assumem características associadas aos afectos e simbologias, denotando uma forte ligação com a vertente atitudinal, com significações emocionais e avaliativas. Assim, os sujeitos deste grupo, em termos de naturalização, conferiram uma expressão que se traduziu por uma interpretação ambivalente da Escola. Por um lado, é representada uma Escola associada a pobreza, grandes dificuldades, falta de apoios, interacções negativas e punições, e por outro, é representada uma Escola agradável, espaço de interacções positivas, convívio e brincadeira, que se associa ao facto de os sujeitos lá terem "...aprendido alguma coisa... ".