Author(s):
Passos, Vânia Patrícia Mendes
Date: 2015
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10451/20853
Origin: Repositório da Universidade de Lisboa
Subject(s): Expressão e regulação dos HERVs; Desenvolvimento de células T; Timo humano; Diferenciação de células T; Amígdalas humanas; Teses de mestrado - 2015; Departamento de Biologia Vegetal
Description
Tese de mestrado, Biologia (Biologia Molecular e Genética), Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, 2015
The Human genome comprises almost 8% long terminal repeat (LTR)-retroelements, in which Human Endogenous Retroviruses (HERVs) are included. More than 30 HERV groups have been identified. They share a similar provirus structure with exogenous retroviruses, despite harboring many inactivating mutations. Interestingly, HERVs have been increasingly associated with cancer, autoimmunity and infectious diseases. Data on HERV expression in T cells is sparse. Here we investigated, for the first time, the expression of several HERV families during human T cell development and differentiation. HERV-K, -W, -P and -R envelope (env) expression were analyzed in purified T cell subsets from the human thymus, peripheral blood or tonsils using real time RT-PCR. In addition, Env protein expression was studied in thymic and tonsillar tissue using immunohistochemistry. We observed a similar pattern of HERV env transcriptional expression during the development and maturation of thymocytes in the thymus. HERV levels tended to be higher in mature thymocytes than in the early developmental stages, supporting their differential regulation during T cell development. Regarding the peripheral blood compartment, HERVs showed similar transcriptional levels within naïve and memory CD4 and CD8 T cells, with small inter-individual variation. Moreover, HERV expression was modulated during T follicular helper (TFH) differentiation in human tonsils. Importantly, we further confirmed Env protein production in lymphoid tissues, as HERV-K Env protein was expressed in the medullary compartment of the thymus, as well as in the T cell zone of the tonsil. Our data regarding HERV env expression profiles during T cell development and maturation prompted us to test potential pathways of HERV regulation. We demonstrated, using real time RT-PCR, that T cell receptor (TCR) stimulation and Phorbol-12-myristate-13- acetate (PMA)-Ionomycin were able to down-regulate HERV-W, -P and -R transcriptional levels in CD4SP thymocytes. Additionally, a positive correlation was found between HERV env expression and the transcriptional levels of the retroviral restriction factor deoxycytidine deaminases apolipoprotein B mRNA-editing enzyme-catalytic polypeptide-like 3G (APOBEC3G) throughout T cell development and differentiation, which was not observed for APOBEC3F. Overall, our data support a tight regulation of HERV expression during T cell development and differentiation. This appears to be particularly pertinent in the thymus, with possible implications for the process of T cell selection.
O genoma humano é composto por aproximadamente 8% de retroelementos contendo repetições terminais longas (LTRs), nos quais se incluem os Retrovírus Endógenos Humanos (HERVs). Os HERVs são sequências de ADN que se fixaram no genoma humano após uma primeira infeção da linha germinativa por um retrovírus exógeno, sendo subsequentemente transmitidos verticalmente. A sua diversidade depende das interações com o hospedeiro, no entanto somente alguns HERVs foram capazes de persistir, sofrendo mutações e deleções que resultaram na perda da capacidade de replicação. Os HERVs dividem-se em mais de 30 famílias e 3 classes, de acordo com a sua homologia a retrovírus exógenos, sendo denominados pela letra que define o ácido ribonucleico de transferência (tRNA) usado para a transcrição reversa do seu genoma. Apesar de a maioria dos HERVs estar defetivo, vários estudos demonstraram a expressão de RNA e de proteína em vários tecidos humanos e linhas celulares, e em raras situações a produção de partículas virais intactas. Pensa-se que eles persistiram no genoma humano por duas razões: exercerem funções biológicas ou devido à incapacidade de o hospedeiro os eliminar. Curiosamente, apenas a função das proteínas do invólucro (Env) do HERV-W e HERV-FRD é reconhecida. Por outro lado, o estudo dos HERVs num contexto de doença tem aumentado, uma vez que eles têm sido associados com a ocorrência de cancro, autoimunidade e doenças infeciosas. Como não podemos excluir a existência de um HERV infecioso, é importante perceber o que pode regular a sua expressão. Canonicamente, a sua transcrição depende dos seus promotores. No entanto esta pode ser igualmente ativada por fatores de transcrição celulares (i.e., NF-κB) ou proteínas virais. Posto isto, o hospedeiro desenvolveu mecanismos para controlar a sua expressão. O enzima “apolipoprotein B mRNA-editing enzyme catalytic polypeptide-like” 3G (APOBEC3G) e outros membros da família das citidina desaminases foram descritos como fatores de restrição virais em células humanas, atuando sobre a replicação de retrovírus, tais como o HIV e alguns HERVs. Sabe-se igualmente, que a sua transcrição é reprimida por mecanismos de metilação do DNA, modificação das histonas e RNA de interferência, no entanto os estudos em humanos são limitados. A eficiência do sistema imunitário depende da resposta da imunidade inata e adaptativa para eliminar invasões patogénicas. A imunidade inata representa a primeira linha de defesa, sendo constituída pela barreira epitelial, proteínas solúveis e moléculas bioativas. Subsequentemente, a imunidade adaptativa atua pelo reconhecimento específico de antigénios. Este reconhecimento é feito usando receptores antigénicos expressos à superfície de linfócitos B e T. No entanto, para esta resposta se dar corretamente, as células B e T têm de submeter-se a vários processos de seleção e maturação. Progenitores de células T expressando CD34+ migram da medula óssea para o timo, onde irá ocorrer o desenvolvimento e maturação das células T. Os timócitos serão distinguidos de acordo com a expressão dos corecetores CD4 e CD8, em: timócitos “triple negative” CD34+ (TN CD34+, CD4-CD8-CD3-), timócitos CD4 “immature single positive” (CD4ISP, CD4+CD8-CD3-), timócitos “double positive” (DP, CD4+CD8+CD3-/+), e timócitos CD4 ou CD8 “single positive” (SP, CD4+/-CD8-/+CD3+). Durante o processo de maturação e seleção, os timócitos sofrem rearranjo do recetor de células T (TCR) β e α. Interações de baixa afinidade entre o TCRαβ de timócitos DP e péptidos do próprio complexados com antigénios no complexo major de histocompatibilidade (MHC) são selecionados positivamente. Por outro lado, a seleção negativa ocorre se esta afinidade for demasiado alta. Timócitos selecionados positivamente diferenciam-se em células T CD4SP ou CD8SP, que após maturação migram para a periferia. Na periferia, as células T “naïve” circulam através dos órgãos linfóides secundários (p.ex. amígdalas) até sofrerem ativação, processo que envolve o encontro de antigénios apresentados por células dendríticas e o sinal co-estimulator emitido pelas mesmas (CD28). Após ativação, estas células adquirem uma das funções efetoras de células T auxiliar: Th1, Th2, Th17, Th9, T folicular auxiliar ou T reguladora. Em contrapartida, as células T CD8 “naïve” diferenciam-se em citotóxicas (CTLs). Sabe-se que, 5-10% das células T CD4 e CD8 efetoras persistem como células T de memória, caracterizadas por oferecer uma maior e mais eficiente resposta após segunda exposição antigénica. A expressão dos HERVs em células T tem sido pouco estudada. Neste projeto foi investigado, pela primeira vez, a expressão de várias famílias dos HERVs durante o desenvolvimento e diferenciação de células T. A expressão do gene env do HERV-K, -W, -P e -R foram analisadas em subpopulações de células T purificadas do timo humano, sangue periférico e amígdalas, usando Real Time RT-PCR. Paralelamente, foi avaliada a expressão da proteína Env em tecido do timo e amígdalas usando imunohistoquímica (IHQ). Os resultados revelaram um padrão semelhante de expressão génica dos HERVs durante o desenvolvimento e maturação dos timócitos no timo. Os níveis transcricionais apresentaram uma tendência para serem maiores nas fases mais desenvolvidas (CD4SP e CD8SP) do que nas fases iniciais do desenvolvimento (TN CD34+ e CD4ISP), indicando que possam estar a ser distintamente regulados. Estudos de vários grupos podem explicar este padrão. Conrad e colegas identificaram a expressão no timo humano de superantigénios codificados pelo membro HERV-K18, na fase DP com o intuito de induzir a seleção negativa de timócitos CD4 Vβ7. Adicionalmente, sabe-se que o desenvolvimento de células T no timo é altamente regulado por mecanismos epigenéticos; nas fases iniciais do desenvolvimento o DNA encontra-se hipermetilado, ao passo que ao longo da maturação e seleção o DNA torna-se hipometilado. Os HERVs são reprimidos com a metilação do DNA, por isso é possível especularmos que estes mecanismos possam explicar o padrão de expressão dos HERVs no desenvolvimento dos timócitos. Relativamente à periferia, vários estudos analisaram os níveis de HERVs em células mononucleares totais do sangue periférico. Neste projeto analisamos os seus níveis em subpopulações do sangue periférico. Os HERVs revelaram níveis transcricionais similares entre células T CD4 e CD8 “naïve” e de memória, variando pouco entre os indivíduos analisados. Podemos nesse caso especular que, o processo de proliferação homeostático envolvido na manutenção das populações “naïve” e de memória não afeta a expressão dos HERVs. Adicionalmente, a atividade transcricional dos HERVs parece ser modulada nas amígdalas durante a diferenciação de células T foliculares auxiliares. Apesar do estudo dos HERVs em órgãos linfóides secundários ser inexistente, pensamos que esta modulação se deve à ativação e ação de mecanismos regulatórios que reprimem especificamente a transcrição dos diferentes HERVs durante a diferenciação celular. É importante referir que os resultados da IHQ confirmaram a expressão da proteína Env do HERV-K no timo (medula) e na amígdala (zona das células T), e apoiam os dados obtidos na análise da expressão génica. Os dados gerados durante o desenvolvimento das células T no timo, levou-nos a investigar os possíveis mecanismos de regulação da transcrição dos HERVs. Conseguimos demonstrar, usando Real Time RT-PCR, que a estimulação por via de TCR e “PMAIonomycin” foi capaz de regular negativamente a expressão do HERV-W, -P e -R em timócitos CD4SP. Adicionalmente, observamos uma correlação positiva entre os níveis transcricionais dos HERVs e do fator de restrição APOBEC3G ao longo do desenvolvimento e diferenciação de células T, mas não com o enzima APOBEC3F. Efetivamente, parece que os mecanismos que controlam os níveis dos HERVs são específicos da célula ou população celular em que eles se expressam. Em suma, os nossos resultados indicam que os HERVs são estritamente regulados durante o desenvolvimento e diferenciação das células T. Esta regulação aparenta ser mais relevante no timo, com implicações no processo de seleção das células T.