Author(s):
Anastácio, Joana Santos Pinheiro
Date: 2015
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10451/22641
Origin: Repositório da Universidade de Lisboa
Subject(s): Ecologia marinha; Teses de mestrado - 2015; Domínio/Área Científica::Ciências Naturais::Ciências Biológicas
Description
Tese de mestrado em Ecologia Marinha, apresentada à Universidade de Lisboa, através da Faculdade de Ciências, 2015
O lixo marinho é uma das ameaças mais preocupantes à conservação dos Oceanos embora os estudos sobre este problema só tenham começado há relativamente pouco tempo. Na década de 30 foram avistados os primeiros animais emaranhados e, na década de 60, começaram a ser reportados animais mortos pela ingestão de plástico. Atualmente, este problema afeta todos os oceanos em todas as profundidades e uma quantidade significativa de lixo continua a ser produzida diariamente. Esta ameaça, resultado de anos de um deficiente tratamento de resíduos e da ignorância face ao destino dos materiais depositados no mar de forma descontrolada, tem-se tornado mais conspícua. Isto deve-se à acumulação de resíduos sólidos nas zonas costeiras, provenientes tanto de terra como de mar. Assim, o aspeto estético do lixo acumulado nestas zonas, juntamente com o aumento de avistamentos de animais emaranhados atraiu, nos últimos anos, a atenção da população e da comunidade científica. O problema do lixo marinho intensificou-se devido à evolução da composição dos materiais descartados. Antigamente, apesar dos materiais serem descartados de forma imprópria, estes eram biodegradáveis, o que provocava impactos reduzidos para o ecossistema. Com a intensificação do uso do plástico como material de baixa densidade, duradouro, resistente, relativamente barato e extremamente versátil, o ato de descartar incorretamente estes resíduos passou a ter graves consequências. A lenta degradabilidade do plástico, o facto de a maioria ser constituído por poluentes orgânicos persistentes (POP) e de apresentar uma elevada toxicidade, são algumas das características que tornam o material mais usado atualmente, uma grave ameaça ao meio ambiente. Apesar da relevância dada ao plástico, o lixo marinho, de origem antropogénica inclui muitos outros materiais, também prejudiciais ao meio ambiente, como o vidro, papel, resíduos sanitários, resíduos médicos, metal, vestuário, olaria e outro tipo de poluentes. Esta problemática tem-se revelado de tal forma importante que a sua monitorização é essencial para avaliar a quantidade, o tipo, a distribuição e a origem do lixo marinho. É neste sentido que o lixo marinho foi designado como um dos descritores da Diretiva Quadro Estratégia Marinha (DQEM), diretiva esta que tem como principal objetivo alcançar ou manter o Bom Estado Ambiental das águas marinhas e costeiras até 2020. O descritor 10 da DQEM, que indica que as propriedades e a quantidade do lixo marinho não prejudicam o meio costeiro e marinho, necessita de uma boa caracterização do mesmo. Para tal, a diretiva estabelece dois grandes indicadores: as características do lixo marinho no meio costeiro e marinho e os impactos do lixo na vida marinha, sendo a monitorização um dos principais componentes deste primeiro indicador. Atualmente, as amostragens realizadas na praia são o tipo de monitorização mais comum da zona costeira, uma vez que estas não só permitem a recolha de uma grande quantidade de informação, como podem ser realizadas sob praticamente quaisquer condições atmosféricas, apresentando custos reduzidos. Existem vários fatores que influenciam a ocorrência do lixo marinho nas praias, sendo que as principais são: as características do lixo; a dinâmica das praias; as condições atmosféricas; os padrões de circulação oceânica, a limpeza das praias e as práticas recreativas e comerciais realizadas em águas oceânicas. Neste âmbito foi realizado um estudo para relacionar a presença do lixo marinho com as características da costa, de modo a perceber como esta relação pode influenciar possíveis programas de monitorização, enquadrando a necessidade de monitorizar o lixo marinho no âmbito da DQEM. Esta dissertação de mestrado teve também como objetivo relacionar os diversos tipos de lixo marinho encontrados com as suas fontes, encontrando indicadores que auxiliassem essa identificação. Foram assim amostradas onze praias em Portugal, entre o outono de 2014 e a primavera de 2015. A quantidade e o tipo de lixo foram amostrados adaptando o design da Convenção para a Proteção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste (OSPAR). Foram atribuídas determinadas características às praias como a extensão da praia; o tipo de substrato (classificado de acordo com a sua granulometria) e a existência de urbanização (se as praias eram ou não urbanizadas). O declive e a distância ao estuário foram caracterizadas por comparação entre as diferentes praias. Estas características foram posteriormente relacionadas com a quantidade do lixo através de uma PERMANOVA. As diferenças significativas obtidas na análise anterior foram exploradas utilizando o teste SIMPER. Para visualizar estas relações foi realizada uma Análise de Coordenadas Principais (PCO). Para identificar as possíveis fontes do lixo encontrado, foram estabelecidos indicadores baseados nos três principais tipos de lixo encontrados para cada praia e para cada estação do ano. A principal categoria de lixo encontrado nas praias foi o plástico (plástico < 2.5cm e os pellets), sendo seguido pelo papel (beatas) e pelos resíduos sanitários (cotonetes). A quantidade de lixo foi influenciada tanto pelas diferentes praias como pelas diferentes estações do ano. Todas as estações do ano apresentaram também diferenças significativas e as praias com uma maior média de dissimilaridade foram Sesimbra e Maçãs, Maçãs e São Lourenço e, por fim, Figueirinha e Maçãs. O plástico foi o principal tipo de lixo responsável por estas diferenças. A PCO não mostrou uma boa relação entre as diferentes características das praias e o lixo, destacando, no entanto, a praia das Maçãs das restantes. As praias que foram classificadas como urbanas apresentaram maior quantidade de lixo, bem como as praias que se encontravam mais perto de estuários. No geral, verificou-se uma maior quantidade de lixo no outono e na linha da maré alta, e não na linha da vegetação como aconteceu noutros estudos desta temática. Embora não tenha sido possível identificar a maioria da origem do lixo, que foi, na generalidade, considerado como lixo de origem mista, as categorias de lixo que corresponderam ao conjunto de indicadores específicos, propostos pela OSPAR, foram os cotonetes (resíduos sanitários) e as linhas de pesca e caixas de pescadores (pescas, incluindo aquacultura). É ainda de salientar a elevada presença de beatas de cigarros, cuja origem foi atribuída, por experiência dos investigadores, à restauração e às pessoas que frequentaram as praias. Estes resultados demonstram que o lixo identificado como terrestre teve maioritariamente origem na restauração e nos frequentadores das praias e num potencial défice na gestão de tratamento de águas. No lixo identificado como de origem marinha, a maioria foi devida à atividade pesqueira e ao transporte de mercadorias por via marítima, devido à quantidade de pellets encontrados. Devido à elevada quantidade de lixo de reduzidas dimensões encontrada (como pedaços de plástico < 2.5cm, pellets, beatas e cotonetes), pode-se deduzir que a limpeza da praia é, de certa forma, ineficaz para o lixo de reduzidas dimensões. É importante referir que também foram identificados vários tipos de embalagens alimentares e de bebidas, bem como copos de plástico e palhinhas. Estes items, embora não tenham correspondido à maior percentagem dentro da categoria de plástico, evidenciam a falta de sensibilização da população para o problema do lixo marinho. Considerando a enorme importância da monitorização do lixo marinho e da determinação da sua fonte é interessante realizar estudos futuros de modo a eliminar o problema na origem. Estes estudos poderão relacionar os diferentes transportes do lixo marinho, como o vento e as correntes, com a sua distribuição. Analisar em que medida as condições atmosféricas influenciam a quantidade de lixo na zona costeira é também um dos possíveis objetos de estudos futuros.
Marine litter has been recognized as a serious environmental problem and therefore, it has become an important field of study. With an estimated eight million items being discarded, every day, in oceans and seas, marine litter represents a threat to the marine environment. Monitoring marine debris became a relevant topic of research as marine litter is one of the descriptors of the Marine Strategy Framework Directive. This study relates the different characteristics of the coast of Portugal (urbanization, slope, distance to estuary and length) with the type and abundance of marine litter found on eleven beaches. The surveys were conducted following a transect approach method, according to the OSPAR design. After identified, the litter was related to the coast characteristics through a PERMANOVA, a SIMPER and a PCO analysis. Specific indicators were established in order to determine the source of the litter. The main types of litter found were plastic, paper and sanitary waste. The majority of litter was classified as having mixed origin, despite some litter could be identified as having land and marine origin. The sources of marine litter identified were sanitary and sewage-related waste, as well as fisheries, including aquaculture. This study related the assessed litter with the characteristics of the coast and, when possible, attributed their sources.