Author(s):
Mendes, Maria do Carmo Raminhas
Date: 2016
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10451/26297
Origin: Repositório da Universidade de Lisboa
Project/scholarship:
info:eu-repo/grantAgreement/FCT/SFRH/SFRH%2FBD%2F70231%2F2010/PT;
Subject(s): Igreja Católica. Diocese (Guarda, Portugal) - História - séc.17-18; Pintura barroca - Portugal; Arte cristã - Portugal - séc.17-18; Simbolismo cristão - séc.17-18; Percepção visual; Teses de doutoramento - 2016; Domínio/Área Científica::Humanidades::História e Arqueologia; Domínio/Área Científica::Humanidades::Artes
Description
Existe na imagem um código simbólico que se vê, ouve e sente. Foi nesta condição que assentou o poder da imaginária barroca durante a Idade Moderna, um tempo profundamente marcado pelo afecto aos modelos de santidade apresentados pela Igreja Católica. Trento incumbiu aos bispos de toda a Cristandade a tarefa de revelar pelo modelo a verdade cristã aos olhos dos crentes. O veículo eleito para transmissão desta mensagem foi a imagem, não apenas pela sua eficácia enquanto linguagem mas principalmente porque era facilmente “transfigurada” para moldar não apenas o intelecto, mas principalmente os dois estratos perceptivos comuns a toda a Humanidade – a memória e a emoção. Portugal, enquanto país militantemente católico, teve nos seus bispos pós-restauracionistas o reflexo dos arquétipos tridentinos, destacando-se a conduta borromiana que se expressou nos vários quadrantes da vida social, da qual a vivência religiosa era parte inalienável. A diocese da Guarda contou, após 1668, com a presença de prelados que alteraram a cultura visual de milhares de fiéis e, por conseguinte, uma realidade em que o sentimento devocional era directamente proporcional à ignorância doutrinária. Promovendo uma imaginária que imiscuía as intenções catequéticas com as devoções locais, e dando particular enfoque à pintura, os prelados egitanienses inculcaram-lhe uma nova dimensão afectiva, elevando a imagem funcional a um estado emocional, muito mais eficaz e efectivo. A compreensão, neste microcosmos, da linguagem pictórica barroca como a chave que abriu o âmago do indivíduo à fé, pelo entendimento empírico dos mecanismos perceptivos subjacentes à apreensão das suas pararepresentações, é revelar o segredo onde assentou o sucesso enquanto processo comunicacional; perceber tal fenómeno na actualidade é mostrar que a mensagem simbólica, modelo de e para as massas, foi reflexo de uma realidade mental projectada e sentida.
In the image there is a symbolic code that we can see, hear and feel. It was in this condition that the power of Baroque imagery has based during the Modern Era, a time marked by deep affection to the holiness models presented by the Catholic Church. Trento instructed the bishops of all Christendom the task of revealing by the model the Christian truth to the eyes of believers. The vehicle chosen for transmission of this message was the image, not only for its effectiveness as language, but mainly because it was easily "transfigured" to shape not only the intellect, but specially the two perceptible strata which were common to all humanity - memory and emotion. Portugal, while a militantly Catholic country, had in their post-restorationist bishops a reflex of Tridentine archetypes, especially the borrominian behaviour that was expressed in various quarters of social life, where the religious experience was an inalienable part. After 1668, the Diocese of Guarda was attended by the presence of prelates who changed the visual culture of thousands of believers and, therefore, a reality in which the devotional feeling was directly proportional to the doctrinal ignorance. Promoting an imagery that mixed catechetical intentions with local devotions, and giving particular focus to painting, the prelates inculcated in it a new affective dimension, raising the functional image to an emotional, much more efficient and effective state. Understanding, in this microcosm, the baroque pictorial language as the key that opened the individual's heart to faith, by the empirical understanding of the perceptual mechanisms underlying the apprehension of its pararepresentations, is to reveal the secret which became success as communication process; actually to understand this phenomenon, is to show that the symbolic message, model from and for the masses, was a reflection of a projected and felt mental reality.
