Author(s):
Janeiro, Maria do Rosário Trindade Ferreira Marques Ferreira, 1970-
Date: 2012
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10451/4896
Origin: Repositório da Universidade de Lisboa
Subject(s): Doença de células falciformes; Peturbação respiratória do sono; Polissonografia; Hipoxémia; Crise vaso-oclusiva; Teses de mestrado - 2012
Description
Tese de mestrado, Medicina do Sono, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 2012
Introdução: A existência de alterações respiratórias durante o sono está claramente estabelecida e ocorre tanto no adulto como na criança. A doença de células falciformes (DCF) caracteriza-se pela existência de uma anomalia na molécula da Hb, condicionando a diminuição da afinidade para o oxigénio e polimerização quando desoxigenada. A ocorrência de hipoxémia nocturna nestes doentes foi já documentada, desconhecendo-se ainda qual o mecanismo envolvido e a sua repercussão na evolução da doença. Objectivo: Descrever alterações do sono, nomeadamente respiratórias, em crianças com doença de células falciformes e correlacionar a presença destas alterações com a gravidade clínica. Material e métodos: Estudo transversal observacional. Foram seleccionadas as crianças com DCF seguidas na consulta de Hematologia Pediátrica do HSM, com idades compreendidas entre os dois e os nove anos. Os dados demográficos e a avaliação clínica e laboratorial prévia foram recolhidos através de revisão dos respectivos processos clínicos. Aplicou-se o questionário habitualmente utilizado no Laboratório Pediátrico de Sono. Foi avaliada a SPO2 basal. Realizou-se polissonografia (PSG) nocturna em laboratório. O estadiamento do sono foi efectuado manualmente, bem como a classificação e registo de eventos respiratórios e dessaturação da hemoglobina. A classificação dos estadios do sono e dos eventos associados foi efectuada de acordo com as recomendações da American Academy of Sleep Medicine, 2007. Os resultados foram avaliados por estatística descritiva, coeficicentes de correlação de Spearman e Pearson e o teste Wilcoxon, conforme apropriado. Foi considerado um nível de significância de 5%. Resultados: Foram estudadas 17 crianças, cuja idade média foi de 6,26 anos. 41% das crianças tinham roncopatia frequente ou diária. Na avaliação da PSG a eficiência de sono estava diminuída, enquanto que a latência de sono e de REM estavam aumentadas. O estadio N1 estava aumentado e o sono REM diminuído. O valor médio de SPO2 foi de 98,00% e o de SPO2 durante o sono foi de 97,00% (±2,74); o valor mínimo de SPO2 foi de 84,88% (±12,81) . A média do índice de apneia/hipopneia (IA/H) foi de 0,22/h. Identificou-se uma forte correlação entre a SpO2 em vigília e a SpO2 média durante o sono (r: 0,913; p=0,000), bem como uma relação positiva entre a a Hb basal e a SpO2 mínima durante o sono (r: 0,580; p=0,015). Verificou-se uma diferença estatisticamente significativa entre a SpO2 em vigília e a SpO2 média durante o sono (p=0,004). O índice de dessaturação correlacionou-se negativamente com a SpO2 em vigília (r: -0,665; p=0,004). Não se encontrou qualquer relação estatisticamente significativa entre o número de crises no último ano e a presença de roncopatia, alterações da SPO2 ou do IA/H. Conclusão: Existem alterações da oximetria de pulso durante o sono em crianças com DCF, significativamente correlacionáveis com os valores em vigília. A determinação da SPO2 em vigília é indicativa da presença de alterações durante o sono, tornando-a um factor preditivo muito importante. Não foi possível identificar a presença de eventos respiratórios nocturnos significativos ou a sua associação com a gravidade de expressão da doença hematológica.