Document details

The effectiveness of environmental enrichment in two captive south-african fur seals (Arctocephalus pusillus pusillus)

Author(s): Lã, Mariana Vieira, 1988-

Date: 2012

Persistent ID: http://hdl.handle.net/10451/7523

Origin: Repositório da Universidade de Lisboa

Subject(s): Mamíferos aquáticos; Comportamento animal; Conservação ex-situ; Enriquecimento ambiental; Teses de mestrado - 2012


Description

Tese de mestrado. Biologia (Biologia da Conservação). Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, 2012

A otária Sul-Africana (Arctocephalus pusillus pusillus) é uma subespécie encontrada em zoos por todo o mundo, que se adapta geralmente bem a condições de cativeiro, reproduzindo-se com frequência. Não se encontra ameaçada pelo que, tal como a maioria dos pinípedes, é mantida em zoos principalmente por ser emblemática e ter um papel importante na atração e sensibilização dos visitantes. Apesar de potencialmente controversa, a manutenção de animais em cativeiro é o que permite aos zoos desenvolverem o seu papel na conservação, através da educação, investigação e envolvimento em projetos de conservação in situ e/ou ex situ. De qualquer modo, as condições em cativeiro estão longe de ser ideais, o que levou a uma preocupação em relação ao bem-estar destes animais nas últimas décadas. O bem-estar é geralmente avaliado em termos de saúde física, sucesso reprodutivo e bem-estar mental. Um dos indicadores mais comuns de baixos níveis de bem-estar mental é a ocorrência de estereotipias, que se definem como comportamentos repetitivos, invariáveis e sem nenhuma função aparente. Estes comportamentos desenvolvem-se como forma de lidar com instalações inadequadas e/ou um maneio inapropriado, quer no presente quer em fases cruciais da ontogenia do animal. As condições em cativeiro são frequentemente estéreis, excessivamente previsíveis e pouco complexas, podendo diferir bastante do ambiente em que a espécie evoluiu. Em cativeiro, o comportamento estereotipado mais comum em pinípedes é a natação circular, que pode chegar a representar 50% da atividade diária de alguns indivíduos. Na natureza, as otárias Sul-Africanas vivem na costa sudeste de África. A sua vida divide-se em três fases: acasalamento na primavera, renovação do pelo no verão e longos períodos de alimentação no outono e no inverno. No mar, conseguem mergulhar até mais de 200 m (embora a maioria dos mergulhos seja por volta dos 50 m). Durante a época de acasalamento, os machos estabelecem e defendem territórios e haréns. As fêmeas dão à luz quando chegam a terra e acasalam durante os dias seguintes. Fora da época de acasalamento não há territórios delimitados e não existe muita interação entre os animais, embora vivam vulgarmente em grupos quando em terra. Em zoos, as otárias não conseguem expressar todo o seu reportório comportamental, não podem caçar nem comer livremente e têm pouca escolha e controlo em relação ao ambiente em que se encontram. Estas condições são geralmente associadas a baixos níveis de bem-estar, sobretudo quando associadas a elas se diagnostica a exibição de comportamentos estereotipados. Um dos métodos mais comuns para contrariar estas condições é a utilização de técnicas de enriquecimento ambiental. Enriquecimentos frequentemente utilizados em pinípedes incluem presas vivas, blocos de gelo com peixe congelado, dispensadores de comida, objetos manipuláveis, mistura de mais do que uma espécie na mesma instalação e treino. Neste projeto foram aplicadas técnicas de enriquecimento ambiental a duas otárias Sul- Africanas (um macho e uma fêmea) mantidas em cativeiro no Aquário Vasco da Gama (Lisboa, Portugal). Os objetivos eram determinar 1) alterações no comportamento dos animais como resultado dos enriquecimentos e 2) o efeito de diferentes técnicas de enriquecimento. Foi previsto que ambos os animais interagiriam com os enriquecimentos, o que levaria a uma diminuição da natação circular, a um aumento de outros padrões comportamentais e à promoção de uma utilização mais equilibrada do espaço disponível (duas piscinas e duas plataformas interiores e uma instalação exterior). Todos estes resultados seriam indicadores de uma melhoria do bem-estar destes animais. O design experimental consistiu num período de quatro dias de amostragem antes, durante e após cada enriquecimento. As fases pós-enriquecimento funcionavam como baseline para o enriquecimento seguinte. Em cada dia ocorria uma sessão de amostragem de uma hora. O primeiro enriquecimento, “Random Fish”, consistiu em atirar peixes (quatro vezes, três peixes de cada vez) para diferentes áreas da instalação, sem nenhum aviso. O segundo, “Felt Curtain”, baseou-se na colocação de uma estrutura com tiras de feltro numa abertura através da qual os animais nadavam, criando uma cortina análoga a algas a flutuar. O terceiro enriquecimento foi a combinação dos dois anteriores. O quarto, “Textured Rugs”, consistiu em dois tapetes de plástico com pequenos pinos de um dos lados, criando uma textura diferente. Um foi preso a um local tipicamente usado para comportamentos de manutenção do pelo e o outro foi deixado livremente a flutuar. Para o quinto enriquecimento, “Fish in Ice”, utilizaram-se peixes congelados dentro de blocos de gelo. O último enriquecimento usado foi a combinação dos dois anteriores. Os resultados foram comparados através da interpretação de gráficos e análise estatística. As proporções de tempo passado em diferentes comportamentos e áreas antes, durante e após cada enriquecimento foram comparadas através de um teste de Friedman. A primeira e última baseline foram comparadas através de um teste Wilcoxon Signed Ranks, Em ambos os testes foi também calculado o p-value exato através de testes de permutações, uma vez que esta é a abordagem recomendada em estudos com pequenas amostras. Neste caso os animais foram analisados em separado e, devido às limitações estatísticas, este projeto foi considerado apenas como um caso de estudo, não pretendendo extrapolar em relação à espécie ou outros animais. Durante a baseline inicial, os dois animais passaram a maior parte do tempo em natação estereotipada na piscina direita. Este comportamento foi o mais frequente durante todo o estudo. A natação estereotipada nestes animais é realizada de uma forma circular e (quase sempre) no sentido dos ponteiros do relógio. O macho utiliza apenas a piscina direita mas a fêmea alterna entre usar só a piscina direita ou ambas as piscinas para cada volta. Os enriquecimentos “Random Fish” e “Fish in Ice” aumentaram comportamentos desejáveis, como a natação normal e comportamentos de alerta. Além disso, também promoveram uma utilização mais equilibrada do espaço da instalação. O macho monopolizava toda a comida, revelando uma clara hierarquia. Mesmo quando o macho não estava perto dos enriquecimentos alimentares a fêmea hesitava antes de interagir com eles. De uma maneira geral, estes foram os enriquecimentos mais eficazes e tiveram um efeito mais forte no macho do que na fêmea, tendo sido os únicos que tiveram algum efeito na diminuição da natação estereotipada Os enriquecimentos não alimentares, “Felt Curtain” e “Textured Rugs”, não causaram nenhuma alteração significativa no comportamento dos animais ou no uso do espaço. Os resultados sugeriram até que os animais os evitavam um pouco, mas nunca de um modo suficientemente intenso para serem considerados enriquecimentos negativos. A colocação da cortina levou à criação de uma rota alternativa na natação estereotipada da fêmea. Este resultado é positivo, uma vez que introduziu variabilidade num comportamento que geralmente tem um padrão fixo. A combinação de diferentes enriquecimentos mostrou que, para o macho, o efeito positivo dos enriquecimentos alimentares foi mais forte que um eventual desejo de evitar os não alimentares. Na fêmea observou-se o oposto. Este projeto mostra, assim, que o mesmo enriquecimento pode ter diferentes efeitos quando é apresentado sozinho ou em combinação com outro. É, por isso, importante testar todos os enriquecimentos individualmente e em associações antes de serem incorporados num plano de enriquecimento, assim como ter em conta a variação individual na resposta aos enriquecimentos. Por fim, não se observou nenhuma diferença entre a primeira e a última baseline, sugerindo que os resultados observados durante os enriquecimentos não tiveram um efeito duradouro. Estes animais estão sozinhos há bastante tempo, com pouca variabilidade na sua rotina diária e numa instalação muito pequena, estéril e com dois tanques circulares e pouco profundos. O evidente contraste com as condições naturais sugere que a natação circular seja o comportamento mais parecido com o reportório natural que os animais podem fazer nesta instalação. É também possível que a elevada ocorrência destes comportamentos estereotipados já não seja inteiramente reversível, por se tratarem de mecanismos de adaptação há muito estabelecidos. Nestas condições, o enriquecimento ambiental assume uma particular importância na introdução de variabilidade, como mecanismo de forçar a interrupção do padrão estereotipado da natação, substituindo-o por outros comportamentos. É também importante para estimular os animais a usarem o pouco espaço disponível de forma mais equilibrada. Baseado nos resultados deste estudo, com recomendações adicionais, pode ser aplicado um plano de enriquecimento sobretudo relacionado com alimento no maneio diário destes animais. Estes enriquecimentos demoram menos de cinco minutos a preparar, o que significa que não ocupam muito tempo do horário, geralmente sobrecarregado, dos tratadores. Adicionalmente, novos enriquecimentos devem ser testados para aumentar a variabilidade e evitar a habituação aos enriquecimentos atuais. Potenciais fontes de inspiração para novos enriquecimentos são a instalação exterior (raramente usada pelos animais neste momento) e o uso de técnicas de treino. O treino, baseado em princípios de reforço positivo, é uma das técnicas de enriquecimento ambiental mais usadas em mamíferos marinhos e é considerado bastante eficaz na estimulação cognitiva, física e social dos animais. Este projeto demonstrou que o enriquecimento ambiental teve efeitos benéficos no aumento de comportamentos desejados, na promoção de um uso mais equilibrado do espaço e na diminuição de comportamentos estereotipados, mesmo que apenas residualmente. Estas alterações têm um grande potencial na melhoria do bem-estar destes animais, que é uma obrigação ética essencial para a manutenção destes animais em cativeiro. O enriquecimento ambiental é, também, importante para garantir que estes animais sejam apresentados de forma adequada aos visitantes, de modo a transmitir uma mensagem apropriada. Como membro da EAZA (European Association of Zoos and Aquaria), o Aquário Vasco da Gama está envolvido em práticas conservacionistas, organizando frequentes visitas guiadas para escolas locais. Devido ao seu estatuto emblemático, torna-se então importante que estes dois indivíduos sejam percecionados pelos visitantes como representantes dos seus conspecíficos na natureza. Em conclusão, este projeto junta-se à já existente literatura que mostra que a relação custos/benefícios do enriquecimento ambiental é largamente compensatória para que seja aplicado como ferramenta na rotina de maneio de otárias em parques zoológicos.

South-African fur seals have been held at various zoos around the world, mostly due to their appeal to visitors. Captivity conditions differ from nature, leading to concerns over captive animals’ welfare. A common behavioural indicator of poor welfare is the occurrence of stereotypies, and a common method used to attempt to decrease them is environmental enrichment. In this project, enrichment techniques were applied to two South-African fur seals. There were two feeding enrichments (unpredictable fish thrown into the enclosure and ice blocks with frozen fish), two nonfeeding (an algae-like felt curtain and textured plastic rugs), and two combinations of the above. During the initial baseline, both animals spent the majority of time in stereotypical swimming, and in only one pool. The feeding enrichments increased non-stereotypical locomotion and alertness, and promoted a more balanced use of area. The non-feeding enrichments didn’t cause major changes but the curtain created a new stereotypical route for the female. Despite the tendency to reduce stereotypical swimming overall, enrichments did not reduce it significantly. There were no differences between the first and last baseline, suggesting that the effects didn’t outlast the enrichment periods. This is probably due to two concurrent reasons: the importance of swimming in their natural behavioural repertoire and their living conditions in captivity. These animals have been kept alone for a long time, with little variation in their daily routine and in an enclosure too small and barren. This project demonstrated that environmental enrichment had beneficial effects even if it only decreased stereotypical swimming marginally and can be developed in future studies, further exploring foodrelated enrichments, especially in their appetitive component. Adding this to the multitude of other positive studies, it seems that environmental enrichment has high enough benefits and low enough costs, to be applied as a common and mandatory husbandry tool.

Document Type Master thesis
Language English
Advisor(s) Galhardo, Leonor; Oom, Maria do Mar Jácome Félix, 1956-
Contributor(s) Repositório da Universidade de Lisboa
facebook logo  linkedin logo  twitter logo 
mendeley logo

Related documents

No related documents