Author(s):
Pacheco, António Fernando Bento
Date: 2008
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10362/23168
Origin: Repositório Institucional da UNL
Subject(s): Hospital Real de Todos os Santos; Hospitais; Prestação de cuidados de saúde; Medicina; Instituições de ensino; Cirurgia; Assistência social; História local; Terramoto 1755; Domínio/Área Científica::Humanidades::História e Arqueologia
Description
A presente dissertação tem como objecto de estudo o Hospital Real de Todos-os- Santos e a sua actividade no terceiro quartel do século XVIII, numa leitura que não partilha da interpretação. difundida por alguns trabalhos historiográficos, de que o Terramoto de 1755 ditou, pela escala de destruição que lhe está associada, o fim da instituição. O Hospital Real de Todos-os-Santos, fundado em Lisboa, em 1492, por D. João II, surgiu no âmbito da reforma dos pequenos e inoperantes hospitais medievais. Primeira grande estrutura hospitalar de uma Lisboa cosmopolita que se assume como plataforma de contacto entre o velho e o novo mundo, o Hospital revela influência indiscutível da arquitectura hospitalar de tipologia cruciforme, cuja origem se enquadra no Quattroeento florentino, bem como uma percepção humanista do homem, enquanto ser a quem devem ser facultadas respostas terrenas à dor, ao sofrimento, à marginalização. Instituição de iniciativa régia, o que a distingue das suas congéneres ocidentais, o Hospital Real de Todos-os-Santos assumiu-se como uma das primeiras instituições hospitalares medicalizadas do seu tempo, distinguindo de forma muito clara. o que é inovador, a prestação de cuidados hospitalares tendentes a promover a recuperação do enfermo, de intervenções outras. a situar no campo da assistência social. A partir de documentação integrada no fundo documental «Hospital de S. José» e do trabalho de autores de referência como Augusto da Silva Carvalho, Fernando da Silva Correia e Mário Carmona, o presente estudo esboça um quadro geral sobre os mais de dois séculos e meio de vida da instituição, defendendo que o «esprital grande de Lixboa» continuou a ser, até à abertura do hospital Real de S. José, em 1775, a instituição primeira no que concerne à prestação de cuidados de saúde em Lisboa. A abordagem ás duas décadas que medeiam entre 1755 e 1775 revela não um estabelecimento hospitalar que a catástrofe de 1 de Novembro eclipsou, mas uma instituição que respondeu positivamente ás medidas de emergência tomadas pelo gabinete de Sebastião José de Carvalho e Melo. Contrastando com a ideia de destruição do edificado e de anarquia administrativa, o acervo documental disponibiliza inequívocos sinais de permanência. O Hospital reconstruíu muitos dos espaços destruídos a contratação de pessoal não cessou, os objectivos institucionais mantiveram-se intactos: prestar, com a dignidade possível, cuidados de saúde. em múltiplas valências. à população lisboeta, com particular ênfase para os enfermos pobres: na vertente pedagógica, manter o ensino da cirurgia e a formacão empírica de pessoal hospitalar. com destaque para ajudantes e enfermeiros. 0 estudo sustenta afínal que o fim do velho Hospital do Rossio se prende não à acção das catástrofes que ao longo dos anos o atingiram, mas antes às exigências de uma iluminista cidade nova que vê no Rossio um dos seus mais significativos espaços de sociabilização.