Author(s): Pereira, Maria Fernanda Birrento
Date: 2011
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10362/6967
Origin: Repositório Institucional da UNL
Subject(s): Representações; Religião; Maria Madalena; Género; Desigualdades
Author(s): Pereira, Maria Fernanda Birrento
Date: 2011
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10362/6967
Origin: Repositório Institucional da UNL
Subject(s): Representações; Religião; Maria Madalena; Género; Desigualdades
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Estudos Sobre Mulheres. As Mulheres na Sociedade e na Cultura
Na presente dissertação, analisa-se a história de Maria Madalena e a sua importância para a Igreja Católica, bem como a alteração da influência da sua imagem, depois do discurso feito pelo Papa Gregório I, em 599 d.C. no qual considerou Maria Madalena pecadora adúltera e possessa, porque Jesus lhe teria expulsado do corpo sete demónios. Os sete demónios, símbolos dos sete pecados mortais - que Maria Madalena nunca cometeu - não passam de uma confusão entre os chamados “Sacerdotes dos Sete Demónios”, a quem competia controlar os casamentos dinásticos, preparando as almah, as raparigas jovens, para o casamento sagrado, costume ainda em vigor nos tempos de Jesus.O casamento de Jesus com Maria Madalena vinha repor a polaridade feminina que faltava ao Deus patriarcal judaico, de que Jesus tanto falava. Deste modo, esse casamento concretizaria as profecias do Sacerdotes de Qumram, registadas no Manuscrito de Cobre sobre a vinda de dois Messias. Maria Madalena seria o Messias feminino esperado, “o Messias das Virtudes” da linhagem dos Macabeus, Sacerdotes Angelicais de Qumram. Jesus, o outro Messias esperado, descendia da linhagem guerreira de David. Estes factos talvez causassem temor à Igreja de Gregório I, levando-o a afastar a imagem benéfica de Maria Madalena e o seu culto substituindo-a com uma nova versão de Madalena, evitando assim perguntas sobre a sua verdadeira história, que era também a história dos primórdios do Cristianismo. Maria Madalena, considerada por Jesus sua companheira e sua igual, era constantemente contestada pelos outros apóstolos. Com efeito, a sua condição feminina e de mulher culta suscitava nos apóstolos um sentimento de grande rivalidade, por se considerarem superiores enquanto homens, de acordo com a mentalidade da época. Depois da crucificação, Maria Madalena reuniu os discípulos, transmitindo-lhes força através das palavras do Mestre, assim nos mostra o seu Evangelho cuja autoria lhe é atribuída, bem como o Evangelho de Filipe. Mais tarde, parte para Sul de França, buscando refúgio, acompanhada por alguns apóstolos. Durante séculos a sua história influencia toda a região da Aquitânia e nessa região nasce uma cultura original, a do povo cátaro, “ou puro”, baseada nos valores igualitários do Cristianismo primitivo, transmitidos pela sua Igreja do Amor ou a Igreja Invisível, como também era conhecida, por se manter independente da Igreja de Roma. No âmbito da cultura cátara, na região rica de Provença, surge o movimento da poesia trovadoresca, o “Amor Cortês”, cujos valores de respeito pela dama se inspiravam “para muitos”, em Maria Madalena considerada a Dompna cantada pelos trovadores. O modelo do amor cavalheiresco foi surpreendentemente aceite. Os valores de igualdade entre homens e mulheres começaram a ser cantados e divulgados, numa tentativa, embora não muito consciente, que iria contribuir para o renascimento da ideia de igualdade de géneros, nos séculos XII e XIII, na Europa.