Author(s): Santos, Fernando Miguel
Date: 1996
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.12/893
Origin: Repositório do ISPA - Instituto Universitário
Author(s): Santos, Fernando Miguel
Date: 1996
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.12/893
Origin: Repositório do ISPA - Instituto Universitário
Dissertação de Mestrado em Etologia
A interacção de limpeza em peixes é um dos exemplos mais notado e difundido, dos fenómenos classificados como "simbiose" entre vertebrados. Os peixes limpadores alimentam-se de ectoparasitas, tecidos mortos, escamas e muco que encontram na superfície do corpo, boca e cavidade branquial dos seus peixes cliente. Perto de uma centena de peixes marinhos e de água-doce têm sido descritos como limpadores tanto em regiões tropicais como temperadas. Os casos melhor conhecidos pertencem às famílias Labridae, Embiotocidae, Cichlidae e Gobiidae. Alguns destes limpadores são bastante coloridos e recebem os seus clientes em "estações de limpeza". Os clientes pertencem a quase todas as famílias que habitam nas áreas com limpadores. Em algumas áreas estas interacções de limpeza parecem constituir verdadeiros casos de mutualismo, ambas as partes beneficiando - o limpador com o alimento removido dos clientes que solicitam limpeza, e estes vendo-se livres da acção dos ectoparasitas ou tecidos infectados. Mas noutras áreas, onde os ectoparasitas poderão ser pouco significativos, os limpadores poderão alimentar-se basicamente de escamas e muco, o que torna a relação um caso de comensalismo ou mesmo de parasitismo. Paradoxalmente os clientes parecem solicitar e colaborar em qualquer destes casos de simbiose. A resposta parece dever-se ao facto dos limpadores recompensarem continuamente os seus clientes por intermédio de suave estimulação táctil através dos toque da boca e/ou barbatanas. Desta forma a interacção de limpeza pode continuar sob quaisquer condições, só revelando o seu carácter mutualista quando e onde os peixes de uma área apresentarem grande infestação por ectoparasitas. Os aspectos que modelam a origem e evolução das interacções de limpeza mostram como pode ser heterogéneo este fenómeno, com notáveis variações entre diferentes regiões da área de distribuição das espécies limpadoras e clientes. O comportamento de limpeza encontrado em Portugal na costa da Arrábida revelou bem esta situação, onde Centrolabrus exoletus é o único peixe limpador enquanto Symphodus melops e Ctenolabrus rupestris conhecidos como limpadores noutras áreas ou em cativeiro, não apresentaram este comportamento. A ocorrência do fenómeno de limpeza em peixes costeiros, nesta área, foi estudada em mergulho com a realização de 50 horas de observação directa. Observou-se um total de 12 espécies a serem limpas por C. exoletus que no entanto se revelou um limpador facultativo. Apenas 7% dos actos alimentares foram dirigidos a peixes cliente, mas estes receberam uma incidência de actos de limpeza idêntica (llhora-1) aos clientes nos recifes de coral tropical onde os limpadores podem ser obrigatórios; facto atribuível à abundância dos limpadores na .Arrábida. O estudo das interacções de limpeza na comunidade de peixes da Arrábida permite uma reapreciação do fenómeno das limpezas em peixes.