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Educação sexual no 1º CEB : concepções, obstáculos e argumentos dos professores para a sua (não) consecução

Autor(es): Anastácio, Zélia

Data: 2007

Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/1822/7337

Origem: RepositóriUM - Universidade do Minho

Assunto(s): 37.031:392.6; 392.6:73.031; 373.3


Descrição

Tese de Doutoramento no Ramo de Estudos da Criança, área de conhecimento de Saúde Infantil

A educação sexual nas escolas portuguesas tem sido um processo difícil de concretizar apesar do enquadramento legal e das orientações escolares existentes e que promovem a sua implementação. O presente trabalho incide na identificação de concepções, obstáculos e argumentos dos professores do 1.º Ciclo do Ensino Básico (1ºCEB) neste domínio. A investigação desenrolou-se em três fases distintas: - na FASE I construiu-se, validou-se e aplicou-se um questionário a 486 professores de 1ºCEB, tendo sido feita uma análise descritiva e uma análise inferencial dos dados; - na FASE II organizou-se um debate sobre a educação sexual na infância, onde se incluíram 4 professores de 1ºCEB com opiniões diferentes, tendo sido utilizada a técnica dos termos pivot com vista à organização de categorias de concepções e tipificação de argumentos; - na FASE III realizaram-se cinco grupos de foco que integraram no total 19 professores de 1ºCEB, seguindo-se a mesma técnica de análise de dados utilizada para o debate. Os dados recolhidos por meio do questionário indicam que os professores de 1ºCEB: i) concordam mais com a educação sexual no ensino secundário e no 3ºCEB; ii) têm a percepção de que a frequência com que as crianças lhes colocam perguntas aumenta ao longo dos 4 anos do 1ºCEB (perguntando sobretudo como são concebidos, como nascem e como crescem os bebés na barriga da mãe); iii) têm a percepção de que a frequência de várias situações relacionadas com a sexualidade das crianças também é crescente ao longo do 1ºCEB (sendo as mais frequentes crianças a falar dos seus namorados, crianças apalpando os colegas e crianças desenhando órgãos genitais); iv) concordam que a educação sexual das crianças contribuirá essencialmente para facilitar o diálogo destas com os pais, para o auto-conhecimento e para o aumento dos seus conhecimentos sobre sexualidade; v) preferem os pais, seguidos dos médicos e enfermeiros e dos psicólogos, como intervenientes neste processo educativo; vi) sentem mais dificuldades para abordar a área de expressões da sexualidade e os tópicos relacionados com o prazer sexual (relações eróticas, pornografia e relações sexuais coitais) e menos dificuldades para abordar a área de relações interpessoais e os tópicos diferenças corporais, relações afectivas e papéis de género; vii) receiam essencialmente a mentalidade e as reacções dos pais dos alunos e dos próprios alunos, assim como o conservadorismo do meio; viii) contam sobretudo com o apoio dos colegas e do director da escola, enquanto o do pároco é o que menos consideram; ix) concordam com uma formação que lhes dê preparação científica e que os prepare para responderem naturalmente a questões imprevisíveis das crianças e para trabalharem valores. Os factores que revelaram maior influência nas percepções dos professores foram o sexo, a frequência de acções de formação, a habilitação, o tempo de serviço, a idade e a área de trabalho. Das concepções sobre os aparelhos reprodutores emergem as categorias de representação dos órgãos internos femininos e dos órgãos externos masculinos. A análise do debate revelou que as professoras que já tinham concretizado a educação sexual apresentaram argumentos favoráveis à mesma e positivos face à receptividade por parte da comunidade educativa, nomeadamente alunos e pais. Estes argumentos foram opostos aos apresentados pelos participantes sem experiência pedagógica em educação sexual. Argumentos de autoridade e legalidade foram usados contra a educação sexual, em defesa da família, e a favor da educação sexual, em defesa dos professores. A argumentação pelo exemplo também foi utilizada por todos, mas em sentido negativo pelo professor que se opôs à educação sexual e em sentido positivo pelas professoras que já a tinham abordado. Os professores dos cinco grupos de foco revelaram-se, de um modo geral, a favor da educação sexual na escola, mas manifestaram insegurança e apontaram causas explicativas para a não abordagem, salientando como obstáculos: (i) o receio de não-aceitação por parte dos pais dos alunos e até dos seus colegas; (ii) a falta de formação tanto dos professores como dos pais; (iii) a não explicitação da educação sexual no programa do 1ºCEB; (iv) a escassez de recursos materiais; (v) o facto de não saberem como, nem o que, abordar, de modo adequado à faixa etária dos alunos com que trabalham. Estes professores também argumentaram pelo exemplo positivo de situações de abordagem da educação sexual bem sucedida e pelo exemplo negativo de comportamentos socio-sexuais problemáticos das crianças. Como da interacção entre os vários factores se destaca a independência da frequência de acções de formação, o que se associa a menores dificuldades, menores receios, maior à vontade, maior concordância e credibilidade na ES para a promoção da saúde, sugere-se um forte investimento na formação inicial, contínua e pós-graduada no sentido da mudança conceptual e para ultrapassar os obstáculos à educação sexual.

Sex education in Portuguese schools has been a non achievable process though the legal and school guidelines for promoting its implementation. The aim of the present work is to identify primary school teachers’ conceptions, obstacles and argumentation in this domain. The research was developed in three different steps: - STEP I: construction, validation and application of a questionnaire to 486 primary school teachers. Statistical analysis of the data was carried out. - STEP II: a debate about sex education in infancy was carried out with 4 primary school teachers that had opposite opinions. The pivot-term method was used to organize the categories of conceptions and to typify arguments. - STEP III: realisation of 5 focus groups including a total of 19 primary school teachers. The same method of analysis of the debate was used. Questionnaire data suggest that primary school teachers: i) are more favourable to sex education in secondary school and third cycle of the Basic School; ii) perceive that the frequency of children’ questions increase along the four primary school years (asking essentially about conception, birth and baby development in mothers’ belly); iii) perceive that the frequency of children’ sexuality related behaviours also increase along the four primary school years (occurring more frequently children talking about boy/girlfriends, touching colleagues and drawing genital organs); iv) agree that sex education for children will essentially contribute to facilitate the communication with their parents, to self-knowledge, and to increase their scientific knowledge about sexuality; v) prefer parents in first, followed by health professionals and psychologists as participants in this educative process; vi) feel more difficulties to approach the area of the expressions of the sexuality and the topics concerned with sexual pleasure (eroticism, pornography and sexual intercourse) and feel less difficulties to teach the area of interpersonal relationships and the topics related to body differences, affection and gender roles; vii) are essentially afraid of the mentalities and reactions of parents and pupils and of the conservative milieu; viii) consider to be supported essentially by colleagues and school director but not by the priest; ix) agree with training to provide them scientific knowledge, to prepare them to respond to children unpredictable questions and to prepare them to help children to develop values awareness. The more influent factors in teachers’ perceptions were gender, training course, academic qualification, time of career, age and area of work. Concerning conceptions about reproductive apparatus, teachers represent more frequently the categories of female internal organs and male external organs. The debate analysis showed that female teachers who have already done sex education presented more favourable arguments and were more positive to the receptivity of the educative community, namely pupils and parents. These arguments were opposite to the ones presented by teachers who never taught sex education. Authority and legal arguments were presented in two ways: against sex education defending family convictions; and in favour to sex education defending teachers’ practices. Argumentation based on the example was also presented by all, but in negative ways by the male teacher against sex education and in positive ways by the female teachers who had done sex education. The teachers that participated in the five focus groups, generally, revealed to be in favour to sex education at school, although their little confidence, and indicated reasons to explain the non implementation by emphasising the following obstacles: i) the fear of the non-acceptance by pupils’ parents and colleagues; ii) the lack of teachers’ and parents’ training; iii) the non explicit sex education contents in the primary school programme; iv) the lack of didactic resources; v) the fact of not knowing how to implement sex education nor what approach to use adequately to the specific age of primary school children. These teachers’ argumentations were also based on positive examples of well succeeded sex education and on negative examples of children problematic socio-sexual behaviour. Since the interaction between the several factors points out the independency of the training courses, and that it is associated to less difficulties and fears, more confidence, more agreement and more credibility on sex education for health promotion, we suggest a strong reinforcement on the initial training, continuous training and postgraduate training to change conceptions and to overcome the obstacles to sex education implementation.

Tipo de Documento Tese de doutoramento
Idioma Português
Orientador(es) Carvalho, Graça Simões de; Clément, Pierre
Contribuidor(es) Universidade do Minho
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