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Belém e a exposição do Mundo Português: cidade, urbanidade e património urbano

Autor(es): Nobre, Pedro Alexandre de Barros Rito Nunes

Data: 2010

Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10362/5807

Origem: Repositório Institucional da UNL

Assunto(s): Belém; Exposição do Mundo Português; Comemorações dos Centenários; Património Urbano; Demolição urbana


Descrição

Trabalho de Projecto apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Património Urbano

Em 1940 decorreram em Portugal as Comemorações dos Centenários – da Independência de Portugal e da sua Restauração –, de cujo programa sobressai a Exposição do Mundo Português (EMP), um dos eventos culturais mais destacados do Estado Novo. Belém foi o local estabelecido para a implantação do certame, organizado em torno da então criada Praça do Império. Escolha intencional, que validava o discurso historicista da EMP, ancorado exclusivamente em momentos notáveis do passado da nação, porquanto a delimitava por elementos alusivos aos Descobrimentos – Mosteiro dos Jerónimos, rio Tejo, Praça Afonso de Albuquerque e Torre de Belém. Abordámos a EMP a partir da sua intervenção na cidade, confrontando informações relativas ao que efectivamente existia em Belém antes de 1940, à forma como se agiu sobre essas pré-existências, aos critérios que nortearam a edificação do certame e ao seu impacto naquele local. Ou seja, enveredámos pelo caminho que relaciona a EMP com as ideias de cidade, urbanidade e património urbano. Rapidamente detectámos duas perspectivas contraditórias sobre esta intervenção urbana: uma veiculada pelos instrumentos de divulgação oficial do regime salazarista, confinada ao período de duração do certame; a outra registada em documentos de natureza diversa, que analisámos com vista à compreensão da evolução urbana de Belém, para poder enquadrar a EMP nesse percurso – olhando-a com o conhecimento de um antes, um durante e um depois. A versão oficial apresentava Belém como um lugar não urbanizado e disponível para receber o certame – que por sua vez qualificaria esta zona. Ademais, defendia a necessidade e validade da demolição de algumas construções velhas e feias, que afrontavam o Mosteiro dos Jerónimos e obstruíam a sua relação com o rio. Mas ao averiguar as transformações ocorridas, deparámo-nos com uma realidade divergente daquele discurso. Por um lado, aquelas construções eram afinal o núcleo de onde emanava a urbanidade belenense – pela densidade populacional, pela concentração de imóveis com valências habitacionais, comerciais e de serviços e pela escala normal do edificado vernáculo –, complementando o carácter excepcional, aristocrata e erudito dos demais edifícios de Belém. Por outro lado, a estrutura e o património desse núcleo materializavam um percurso histórico multissecular, que remontava ao século XVI, e que foi demolido entre 1939 e 1940 em cerca de metade da sua área – apesar do reconhecimento do seu efectivo valor patrimonial por parte dos responsáveis. Para além disso, esta operação revelou-se imediatista, na medida em que não perspectivou um plano para Belém após a Exposição – o que se tornou evidente com as décadas de abandono que se seguiram. Assim, os decisores da EMP construíram uma história mitificada, não apenas omitindo os factos menos gloriosos do passado, mas também destruindo conscientemente a história real, através da demolição irreversível de património urbano belenense. Por último, a EMP teve como consequência a transformação indelével do carácter e da imagem do local. A Belém actual é herdeira directa daquele certame, na medida em que consolida a sua índole monumental e representativa e as suas vertentes expositiva, lúdica e turística, adaptando-se à escala e ao desenho da Exposição.

Tipo de Documento Dissertação de mestrado
Idioma Português
Orientador(es) Leal, Joana Cunha
Contribuidor(es) RUN
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