Author(s):
Rodrigues, Ana Rita ; Barreto, Joana ; Duarte, Delfim ; Oliveira, Nuno
Date: 2025
Origin: Revista Portuguesa de Otorrinolaringologia-Cirurgia de Cabeça e Pescoço
Subject(s): Acidente vascular cerebral; disfagia orofaríngea; videoendoscopia da deglutição ; oropharyngeal dysphagia; fiberoptic endoscopic evaluation of swallowing; Stroke
Description
Introduction: Stroke is one of the main causes of morbimortality in developed countries. Oropharyngeal dysphagia (OPD) is the second most frequent complication in the acute post-stroke phase and it is an independent predictor of unfavorable outcome and institutionalization, being associated with longer hospital stays and a huge economic impact. There is a documented association between the presence of certain sociodemographic and clinical characteristics and the incidence of post-stroke OPD, namely: advanced age, presence of cognitive impairment, higher degree of dependence, National Institute of Health Stroke Scale (NIHSS) at admission greater than four and brainstem involvement. Objectives: This study aimed to characterize, from a sociodemographic and clinical point of view, patients in the acute post-stroke phase in a tertiary hospital who underwent functional endoscopic evaluation of swallowing (FEES) due to suspected dysphagia and to correlate the results obtained in FEES suggestive of OPD with each of the variables. Methods: A retrospective analysis of 68 patients who underwent FEES in the acute post-stroke phase at our hospital from 2018 to 2023 was conducted, with description of their sociodemographic profile, event characteristics and FEES findings. Results: Regarding sociodemographic characteristics: 73.53% were at least 70 years old, 60.29% were male, 36.76% had some degree of dependence and 13.24% had dementia. When it comes to stroke’s features: 83.83% were of ischemic etiology, 80.88% had involvement of the cerebral hemispheres, 16.18% of the brainstem and 7.35% of the cerebellum, and 85.29% had an NIHSS at admission greater than 4. Concerning FEES’ findings: 42.65% of patients showed significant salivary stasis, 60.29% had delayed swallowing reflex, 48.53% had residue after swallowing, 10% had vocal chords paralysis and 57.59% had penetration or aspiration, of which 12% were silent aspirations. After a comparative analysis of all sociodemographic and clinical variables with the presence of OPD, a statistically significant relationship was only obtained for the presence of NIHSS at admission greater than 4 (p=0.015). Discussion: Although the presence of some of these risk factors may signal an increased risk of OPD in patients in the acute post-stroke phase, it does not replace an instrumental assessment of swallowing. Moreover, FEES has the ability to identify salivary stasis or a delay in the swallowing reflex and to detect silent aspirations. Aspiration pneumonia is the most common complication of OPD in the acute post-stroke phase and is the leading cause of hospital admission and death, with silent aspirations being the main risk factor. Conclusion: Although the clinical assessment of swallowing plays an important role in the evaluation of oropharyngeal competence, it lacks sensitivity in screening OPD in the acute post-stroke phase, not only in cases of altered state of consciousness, but also in the presence of silent aspirations. In these situations, FEES is a more reliable tool to assess airway protection, with the otolaryngologists playing a primary role in post-stroke patients’ evaluation.
Introdução: O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais causas de morbilidade e mortalidade nos países desenvolvidos. A disfagia orofaríngea (DOF) é a segunda complicação mais frequente na fase aguda pós-AVC e é um preditor independente de evolução desfavorável e institucionalização, estando associada a internamentos hospitalares mais prolongados, com um impacto económico significativo. Existe uma associação documentada entre a presença de determinadas características sociodemográficas e clínicas e a incidência de DOF pós-AVC, designadamente: idade avançada, presença de défice cognitivo, maior grau de dependência, National Institute of Health Stroke Scale (NIHSS) à admissão superior a quatro e envolvimento do tronco cerebral. Objetivos: Neste estudo pretendeu-se caracterizar do ponto de vista sociodemográfico e clínico os doentes em fase aguda de AVC num hospital terciário submetidos a avaliação instrumental da deglutição com videoendoscopia (VED) por suspeita de disfagia e correlacionar os resultados obtidos na VED sugestivos de DOF com cada uma das variáveis. Métodos: Foi realizada uma análise retrospetiva de 68 doentes submetidos a VED na fase aguda pós-AVC no Hospital Pedro Hispano de 2018 a 2023, com descrição do seu perfil sociodemográfico, características do evento e achados da VED. Resultados: Quanto ao perfil sociodemográfico: 73,53% tinham pelo menos 70 anos, 60,29% eram do sexo masculino, 36,76% apresentavam algum grau de dependência e 13,24% tinham antecedentes de demência. Quanto às características do evento: 83,83% dos AVCs eram de etiologia isquémica, 80,88% cursavam com envolvimento dos hemisférios cerebrais, 16,18% do tronco cerebral e 7,35% do cerebelo, e 85,29% tinham um NIHSS à admissão superior a quatro. Relativamente aos achados da VED: 42,65% dos doentes apresentavam estase salivar significativa, 60,29% tinham atraso no reflexo orofaríngeo da deglutição, 48,53% apresentavam resíduo após a deglutição, em 10% casos constatou-se paralisia das cordas vocais e 57,59% tiveram penetração ou aspiração, das quais 12% foram aspirações silenciosas. Após análise comparativa de todas as variáveis sociodemográficas e clínicas com a presença de DOF, obteve-se uma relação estatisticamente significativa apenas para a presença de NIHSS à admissão superior a quatro (p=0,015). Discussão: Embora a presença de alguns destes fatores de risco possa sinalizar um risco acrescido de DOF em doentes na fase aguda pós-AVC, a sua pesquisa não substitui uma avaliação instrumental da deglutição. Por outro lado, a VED permite identificar estase salivar ou atraso no reflexo orofaríngeo da deglutição e detetar aspirações silenciosas. A pneumonia de aspiração é a complicação mais frequente da DOF na fase aguda pós-AVC e é a principal causa de internamento hospitalar e de morte, sendo a presença de aspirações silenciosas o principal fator de risco. Conclusão: Embora a avaliação clínica da deglutição desempenhe um papel importante na avaliação da competência orofaríngea, carece de sensibilidade no rastreio da DOF nos doentes na fase aguda pós-AVC. Nestas situações, a VED é uma ferramenta mais fidedigna para avaliar a proteção da via aérea, cabendo aos otorrinolaringologistas um papel fundamental na avaliação destes doentes.