Autor(es):
Duarte, Rodrigo ; Flores, Raquel ; Pereira, João
Data: 2025
Origem: Revista Portuguesa de Hipertensão e Risco Cardiovascular
Assunto(s): Hipertensão arterial essencial; Pressão arterial elevada; Medicina Interna; Internamento hospitalar; Idoso; Hypertension; Elevated blood pressure; Internal Medicine; Hospitalization; Eldery
Descrição
Introduction: Arterial hypertension is a serious disease, affecting more than 60% of individuals over 60 years-old. It is associated with the development of cardiac disease, terminal renal failure and cerebral disease, with increased risk of cognitive decline and dementia. The World Health Organization and the European Society of Cardiology forewarn about a low therapeutic compliance and impact, thus being controlled in just 14% of cases. They recommend starting with combined agents in a single pill to increase its compliance and efficacy, lowering adverse effects and minimizing the serious events associated with hypertension. Objectives: Characterize the hypertensive patients in an internal medicine ward; evaluate the applicability of the Hypertension guidelines with combined therapy in the hypertensive patients admitted to an internal medicine ward; identify the main classes prescribed. Methods: Hypertensive patients admitted in 12 beds in an internal medicine ward during 2021 were identified and characterized on their age, gender, target organ damage (ischemic cardiopathy records, cerebrovascular disease, chronic renal failure, atrial fibrilation, dementia) and antihypertensive class (angiotensin-converting enzyme (ACE) inhibitors [ACEi], angiotensin II receptor blockers [ARBs], calcium channel blockers [CCB], beta blockers or diuretic) at admission and discharge and it was recorded the combined single pill prescribed. Transferred or deceased patients were excluded. Results: 130 patients were included, of which 53.1% (n=69) were male, with mean age of 82 years. Of these, 82.3% (n=107) had one or more target organ damaged, being heart failure (n=60, 46.2%) and cerebrovascular disease (n=49, 37.7%) the most commonly observed. At admission, 15 patients (11.5%) did not have antihypertensive drugs and 63.1% (n=82) used 2 or more antihypertensive agents. Combined therapy was identified in 42 patients (32.3%), mainly the combination of ARB and diuretic (n=19), ACEi and diuretic (n=8) or ACEi and CCB (n=7). At discharge it was shown that 13.1% (n=17) did not do antihypertensive treatment and 61.5% (n=80) used 2 or more antihypertensive agents. Combined therapy was prescribed in 17.7% (n=23) patients, more frequently ARB and diuretic, ACEi and diuretic and ACEi and CCB (n=13, n=5 e n= 4, respectively) the most commonly used. Only a patient was started on combined therapy (ACEi and CCB). Conclusion: Contrary to the recommendations, a reduction in the prescription of combined therapy was observed, with suspension of antihypertensive agents in 13.1% of patients. The authors consider the lack of motives for the suspension of the agents as the main limitation to the study. In the elderly, compliance is directly conditioned by several risk factors, such as cognitive alterations, dependency status, multiple pathologies, polymedication, management of their secondary effects and medical interactions. Individualizing and simplifying therapies are essential tools to clinical practice.
Introdução: A hipertensão é uma doença grave, presente em mais de 60% dos indivíduos acima dos 60 anos. Está associada ao desenvolvimento de doença cardíaca, renal terminal e cerebral, com risco acrescido de declínio cognitivo e demência. A Organização Mundial de Saúde e a Sociedade Europeia de Cardiologia alertam para uma parca taxa de adesão e impacto terapêutico, estando apenas controlada em 14% dos casos. Recomendam o início de terapêutica farmacológica combinada em comprimido único para aumentar a adesão e eficácia terapêutica, com menores efeitos adversos comparativamente à monoterapia em dose máxima, com potencial redução dos eventos graves associados à hipertensão. Objetivos: Caracterizar os doentes hipertensos num serviço de medicina interna (MI); avaliar a aplicabilidade das recomendações de terapia anti-hipertensora combinada em comprimido único nos doentes hipertensos admitidos num serviço de MI; identificar as principais classes combinadas prescritas. Método: Foram identificados os doentes hipertensos internados durante o ano de 2021 em 12 camas de um serviço de Medicina Interna e caracterizados quanto à idade, género, lesão de órgão alvo (história de cardiopatia isquémica, insuficiência cardíaca, doença cerebrovascular, doença renal crónica, fibrilhação auricular, demência) e classe de anti-hipertensores (inibidores da enzima conversora do angiotensinogénio [IECA], antagonista dos recetores da angiotensina II [ARA], bloqueador dos canais de cálcio [BCC], beta-bloqueante ou diurético) à data de admissão e à data de alta e registada a prescrição de terapia combinada em comprimido único. Foram excluídos os doentes transferidos para outros serviços e os óbitos. Resultados: Foram incluídos 130 doentes, dos quais 53,1% (n=69) eram do sexo masculino, com idade média de 82 anos. Destes, 82,3% (n=107) apresentava pelo menos uma lesão de órgão alvo, sendo as mais frequentes a insuficiência cardíaca (n=60, 46,2%) e a doença cerebrovascular (n=49, 37,7%). À admissão, 15 doentes (11,5%) não realizavam agentes anti-hipertensores e 63,1% (n=82) utilizavam 2 ou mais agentes anti-hipertensores. A utilização de terapêutica combinada em comprimido único foi identificada em 42 doentes (32,3%), na sua maioria combinação de ARA com diurético (n=19), IECA com diurético (n=8) ou IECA com BCC (n=7). No momento da alta verificou-se que 13,1% (n=17) não realizava terapêutica anti-hipertensora e que 61,5% (n=80) utilizavam 2 ou mais agentes anti-hipertensores. Em 17,7% (n=23) dos doentes foi prescrita terapêutica combinada em comprimido único, sendo as combinações ARA mais diurético, IECA mais diurético e IECA mais BCC (n=13, n=5 e n= 4, respetivamente) as mais usadas. Apenas um doente iniciou terapêutica combinada (IECA mais BCC). Conclusão: Contrariamente às recomendações estabelecidas, verificou-se uma redução na escolha de terapêutica com duplo agente nestes doentes, havendo até suspensão de anti-hipertensores em 13,1% dos doentes. Considera-se como principal limitação ao estudo efetuado a ausência do motivo de suspensão da terapêutica. Na população idosa, a adesão à terapêutica é diretamente condicionada por diversos fatores de risco, nomeadamente, pelas alterações cognitivas, grau de dependência, pluripatologias, polimedicação, gestão dos seus efeitos secundários e interações medicamentosas. A individualização e simplificação da terapêutica constituem ferramentas essenciais para a prática clínica.