Autor(es):
Costeira, Cristina Raquel Batista ; Moreira, Isabel Maria Pinheiro Borges ; Pais, Nelson Jacinto ; Sousa, Ana Filipa Domingues
Data: 2021
Origem: Repositório Científico da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Assunto(s): morte; gestão de emoções; enfermagem; escrita expressiva
Descrição
Introdução: A dificuldade em lidar com a morte exige aos profissionais de saúde que façam uma gestão adequada das suas emoções/sentimentos perante estas situações. Investigadores têm vindo a explorar o valor de se traduzir experiências emocionais em palavras escritas, como estratégia de traduzir pensamentos, emoções/sentimentos e expressar significados. O uso da escrita expressiva poderá ser um recurso de catarse em situações difíceis de expressar verbalmente pela intensidade das emoções que as envolvem, como sejam as emoções perante experiências de morte. Objetivos: Identificar as emoções/ sentimentos associados pelos enfermeiros à morte; identificar os destinatários das mensagens dos enfermeiros e analisar o tipo de texto escrito. Metodologia: Estudo descritivo e exploratório de natureza qualitativa. Constitui-se uma amostra de meio com doze enfermeiros de uma instituição hospitalar de oncologia.Recorreu-se a um questionário com dados sociodemográficos e com a questão aberta "A quem escreveria e o que escreveria sobre a morte?". Em 30 minutos foi solicitado a cada participante que através de escrita livre o preenchesse. Após a obtenção dos textos iniciou-se a análise do corpus de dados através de análise de conteúdo segundo Bardin. O estudo teve aprovação da Comissão de Ética. Resultados: As enfermeiras (12) com idades médias 42.75±7.57 (min=31; máx= 54 anos) são todas católicas, 66.7% casadas. Relativamente à formação 25% são enfermeiras especialistas e 16.7% têm mestrado. A maioria das enfermeiras 58.4%, trabalham em áreas cirúrgicas e as restantes em áreas médicas. Da análise de conteúdo emergiram emoções/sentimentos positivos como: felicidade, amor, segurança e saudade e negativos: tristeza, sofrimento, arrependimento, inquietação/incómodo perante a morte.Os destinatários foram: marido/companheiro (T1), "queridos amigos" (T2), padrinho (T3), filhos (T4, T11), avós (T5), pessoal (T6), criança(s) (T7, T9). Em três textos os autores escrevem para alguém sem referência explicita (T8, T10, T12). Os textos revelam ideias de esperança e expectativa na crença de vida após morte (T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8, T10, T11, T12).A estrutura de escrita mais frequente foi o modelo tipo carta (T1, T2, T3, T5, T6, T8, T11) e cinco apresentaram uma estrutura narrativa sobre o que é a morte (T4, T7, T9, T10, T12). Conclusões: O estudo revelou que existiram mais emoções negativas associadas à morte do que positivas. A tristeza, arrependimento foram as mais identificadas. As positivas foi a felicidade associada à saudade do amor e segurança vividos. Os destinatários dos documentos são familiares (avós, filhos, padrinho), crianças, amigos e a pessoas inespecíficas. A escrita expressiva analisada apresenta uma intensa componente emocional e catártica, com pedidos de perdão, agradecimento e despedidas. O amor e a crença do reencontro são transversais na maioria dos documentos. A escrita expressiva foi uma ferramenta de reflexão e introspeção perante a morte e seu significado.