Author(s):
Camarneiro, Ana Paula Forte ; Sebastião, Maria da Graça Gonçalves Bento ; Monteiro, Ana Paula Teixeira de Almeida Vieira
Date: 2021
Origin: Repositório Científico da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Subject(s): Literacia em Saúde; Saúde Mental Perinatal
Description
O período perinatal é o que ocorre, de forma abrangente, desde a conceção até ao final do primeiro ano após o parto. É um tempo de grandes turbulências psicofisiológicas e sociais, na mulher e no homem que se tornam pais, obrigando a que se dê particular atenção à saúde mental. A primeira resposta em saúde, neste período, é dada pela equipa de saúde, nos cuidados de saúde primários, respondendo aos desafios colocados. Todavia, a área da saúde mental perinatal não tem sido amplamente divulgada e nem sempre é devidamente valorizada neste contexto assistencial. Objetivo: é objetivo deste estudo, analisar e compreender a perceção dos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) sobre as suas práticas relacionadas com a saúde mental perinatal, no atendimento a grávidas e mães/pais em cuidados de saúde primários. Metodologia: Realizou-se um estudo qualitativo, descritivo e exploratório. Participaram no estudo 7 profissionais de saúde a exercerem funções num centro de saúde do ACES Médio Tejo, 2 médicos de medicina geral e familiar e 5 enfermeiros de diversas especialidades, que atendem grávidas, mães e companheiros/maridos nas suas consultas. Recorreu-se à técnica de focus grupo para a entrevista. Estas foram gravadas e transcritas. Análise de dados em N-Vivo. Princípios éticos respeitados. Resultados: Foram encontradas três dimensões. A primeira refere-se às dificuldades dos profissionais de saúde na abordagem aos aspetos da saúde mental materna em cuidados de saúde primários, apresentadas em 5 categorias: 1) práticas profissionais centradas nos aspetos biofísicos vs. saúde mental; 2) falta de formação e treino na área da saúde mental; 3) limitações decorrentes da padronização do tempo de consulta; 4) sistemas informáticos não sensíveis à saúde mental materna; 5) limitações comunicacionais nas abordagens psicoeducativas. Na segunda dimensão encontrou-se o reconhecimento pelos profissionais de saúde das características pessoais da mulher, como facilitador ou dificultador da sua vivencia da maternidade ou paternidade. São elas: 1) antecedentes psiquiátricos; 2) sono; 3) consumos nocivos; 4) personalidade materna; 5) idealização da maternidade; 6) imagem corporal; 7) crenças; 8) disposição para a amamentação. A terceira dimensão refere-se às características do recém-nascido: 1) saúde do bebé; 2) temperamento. Conclusões: Os profissionais de saúde referem dificuldades em lidar com a saúde mental perinatal, alegam vários dificultadores, quer ao nível da sua formação quer ao nível dos sistemas informáticos de registo, todavia reconhecem um conjunto importante de sinais a ter em conta, nas mulheres e seus bebés que são indicadores do seu estado de saúde mental. Depreende-se que que os profissionais de saúde em cuidados de saúde primários estão atentos à saúde mental perinatal, embora possam não explicitar esse enquadramento, necessitando, porventura, de sistematizar conhecimentos na área o que poderá passar por formação ou atualização interequipas. Também, os sistemas eletrónicos necessitam de ser revistos no sentido de prestar ajuda a estes profissionais num melhor atendimento a grávidas, mães/pais e bebés no período perinatal.