Author(s):
Folha, Teresa ; Aniceto, Carlos ; Sousa-Uva, Mafalda ; Braz, Paula ; Matias Dias, Carlos
Date: 2023
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.18/8858
Origin: Repositório Científico do Instituto Nacional de Saúde
Subject(s): Paralisia Cerebral; Privação sócio-económica; Determinantes da Saúde e da Doença; Portugal
Description
Antecedentes/Objetivos: O European Deprivation Index (EDI) materializa num score um conjunto de indicadores socioeconómicos que permitem aferir a ocorrência de desigualdades territoriais, e tem sido utilizado em estudos de desigualdades em saúde. Há alguma evidência sobre a associação entre aspetos socioeconómicos e a paralisia cerebral (PC), mas há pouco conhecimento sobre esta problemática em Portugal. O Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral (PVNPC) desenvolve a vigilância voluntária, ativa e sistemática de casos de PC, seguindo o protocolo da Surveillance of Cerebral Palsy in Europe. Assim, o presente estudo tem como objetivo estimar a associação entre o EDI, ao nível do concelho de residência, e os novos casos de PC em Portugal. Métodos: Foi realizado um estudo observacional, analítico, ecológico, entre 2008 e 2014. Os dados da PC foram obtidos através do PVNPC, e o EDI é um índice de acesso livre disponibilizado online e calculado com base nos censos 2011, num estudo anterior. No cálculo da proporção de novos casos de PC o denominador foi constituído pelo número total de nados vivos disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estatística. O EDI foi categorizado em tercis, ao nível do concelho de residência. Utilizou-se um modelo de regressão binomial negativo para estimar a associação em estudo, sendo o nº de casos de PC por concelho, a variável dependente, o nº de nados vivos a variável offset e o EDI a variável independente. Os resultados foram interpretados em% de mudança da variável dependente da seguinte forma: (Exp(B)-1) × 100. O nível de significância estatístico foi fixado em 5% e a análise foi realizada no software estatístico Stata. Resultados: Nos 916 casos de PC notificados no período em estudo, 172 (19%) encontram-se no 1º tercil do EDI, 237 (26%) no segundo e 507 (55%) no terceiro. Os resultados indicam uma associação significativa entre o EDI e os casos de PC, sendo a proporção de novos casos 22% maior (0,6-48%) nos concelhos com maior privação (3º tercil) socioeconómica relativamente aos concelhos com menor privação (1º tercil). Conclusões/Recomendações: Observaram-se gradações na ocorrência de PC segundo os níveis de privação socioeconómica dos diferentes concelhos portugueses. Este resultado é relevante para a prestação de cuidados materno-infantis, bem como para o planeamento de estratégias com vista à prevenção de ocorrência de paralisia cerebral. As situações de especial vulnerabilidade de ocorrência de PC são complexas e plurifacetadas, ocorrem frequentemente em processos em cascata, pelo que é importante aprofundar as relações complementares entre diferentes fatores de risco.