Author(s): Barros, Júlia Teresa Pinto De Sousa
Date: 2019
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.21/12620
Origin: Repositório Científico do Instituto Politécnico de Lisboa
Subject(s): Censura; Propaganda; Salazar; Ditadura Militar
Author(s): Barros, Júlia Teresa Pinto De Sousa
Date: 2019
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.21/12620
Origin: Repositório Científico do Instituto Politécnico de Lisboa
Subject(s): Censura; Propaganda; Salazar; Ditadura Militar
Proponho-me analisar a crescente afirmação do aparelho de censura, no interior da ditadura militar, e o seu impacto nas práticas jornalísticas no período de pré institucionalização do Estado Novo. Coloco-me entre aqueles que consideram que a História deve olhar para a área da comunicação social como um fator condicionante de mudança, a quem deve ser dada autonomia explicativa. A censura foi um instrumento político disponível, de valor incalculável, sem o qual não é possível entender a afirmação no poder da corrente autoritária nacionalista católica. Mas está por estudar o papel da censura na luta política da ditadura militar (1926- 1933). Com base no espólio da Ephemera, irei analisar os primeiros boletins semanais de cortes à imprensa, até hoje inacessíveis aos historiadores, redigidos semanalmente, pela Direção dos Serviços de Censura à Imprensa, entre março e novembro de 1932. A importância desta documentação só pode ser avaliada se tivermos em conta que é neste período que o ministro das Finanças, António Oliveira Salazar, ascende, finalmente, em julho, à Presidência do Conselho de Ministros. No exato momento o projeto de uma nova Constituição foi apresentado publicamente, e a direita radical se autonomiza e lança em março o seu primeiro órgão de imprensa, o Revolução, que será a base de uma nova organização política, o movimento nacional-sindicalista, liderado por Rolão Preto. Este é ainda o ano em que o meio sindicalista, comunista e anarco-sindicalista, avança com várias iniciativas de luta contra as medidas legislativas no campo laboral. E por último, mas não de menor importância, este é o ano em que o sector autoritário investe no espaço público na afirmação da sua narrativa política. O que assistimos durante o ano de 1932, ainda antes da promulgação da Constituição de 1933, é ao estabelecimento de fortes constrangimentos na divulgação de informação atual que interferem continuamente nas já de si precárias, insuficientes, e imprecisas práticas de jornalísticas em vigor. Interessa-nos aqui realçar que uma grande parcela da atividade censória recaía não sobre opiniões, ou comentários, mas sobre a matéria prima em que se vinha edificando a imprensa escrita e o trabalho jornalístico: a informação. Tratava-se de uma atividade com implicações que estavam longe de se limitar à luta política travada entre grupos e individualidades que reclamavam protagonismo no campo político. A atuação da censura implicava toda a sociedade portuguesa condicionando a experiência e perceção daquele tempo histórico. No final de 1932, ainda antes da institucionalização do Estado Novo, já se desenhava o primeiro esquisso da representação do país imaginado pelo autoritarismo católico conservador.