Author(s):
Machado, Diego Santos Ferreira ; Martins, Manuela
Date: 2024
Persistent ID: https://hdl.handle.net/1822/95159
Origin: RepositóriUM - Universidade do Minho
Subject(s): cultura material; cerâmica; Bracara Augusta; consumo; memória; material culture; pottery; Bracara Augusta; consumption; memory
Description
A investigação arqueológica da cultura material alicerçou-se na necessidade de ordenar o vasto conjunto de objetos que se encontravam nos depósitos dos museus europeus de modo a conferir-lhes um princípio de inteligibilidade e organização. Essa estratégia desenvolve-se no século XIX, momento em que foram elaborados os grandes catálogos (corpora) de diferentes tipos de espólio que haviam se acumulado nos museus europeus, dos quais são exemplo o Corpus Vasorum Antiquorum (Pottier 1922 –), Corpus Inscriptionum Latinarum (Mommsen 1852 –), De Vasculis Romanorum Rubris capita selecta (Dragendorff 1894), Coins of the Roman Republic in the British Museum (Grueber 1910), entre outros. Apesar do desenvolvimento epistemológico e metodológico da ciência arqueológica e dos novos métodos de datação dos materiais e dos contextos, o estudo das materialidades não sofreu grandes alterações. Assim, parte significativa da análise da cultura material é, ainda hoje, feita com o intuito de classificar as peças e identificar a tipologia a qual pertencem. Quando analisamos o material cerâmico com fins classificatórios, isto é, para identificar seu fabrico, sua forma e sua função de modo a associá-lo a tipologias previamente definidas, ou propor uma nova tipologia a partir dele, reduzimos o potencial narrativo das peças a uma abordagem que separa as diferentes produções e, dentro delas, as distintas formas dos objetos, criando linhas cronológicas que revelam apenas as modificações da cultura material ao longo do tempo. Dessa forma, ignoramos a capacidade dos materiais proporcionarem inferências sobre as dinâmicas sociais e econômicas, a partir da valorização da diversidade de objetos disponíveis numa época e das relações que eles possuem com os seus pares, ou antecedentes, que subsistem enquanto traços de memória, seja no aspeto formal, tecnológico, decorativo ou simbólico. Os materiais cerâmicos identificados em Bracara Augusta (Hispania Tarraconensis), no âmbito da atividade arqueológica sistemática que é desenvolvida há cerca de 50 anos na cidade de Braga (Portugal), foram objeto de um significativo número de estudos que permitiram seu enquadramento em tipologias, tendo sido analisados os locais de fabrico, evolução formal e cronologia das peças que eram consumidas. No intuito de superar essa leitura, nosso objetivo é revisitar esse material por uma análise que valoriza os aspetos associados à memória, nos quais procuraremos evidenciar o diálogo entre a tradição e a inovação.