Author(s): Mendes, Pedro Miguel Gil
Date: 2024
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10362/177966
Origin: Repositório Institucional da UNL
Subject(s): Ciber Poder; Ciberespaço; EUA; RPC; Securitização; Cyber Power; Estados Unidos da América; República Popular da China; Cyberspace; USA; PRC; Securitization; Domínio/Área Científica::Ciências Sociais::Ciências Políticas
Este trabalho pretende examinar a teoria da securitização aplicada ao ciberespaço, a análise do ciber poder entre EUA e RPC e consequente evolução do processo securitário dos EUA face à China durante o período 2009-2021, referente às administrações Obama e Trump. Ao abordar a securitização do ciberespaço torna-se imperioso analisar as características e limitações do ciber poder e o seu impacto na relação dos atores em análise, visto evidenciarem as capacidades adversárias e dar corpo à narrativa de ameaça existencial. Caracterizado pela parca adesão às tradicionais lógicas do domínio físico, graças ao anonimato e fluidez das fronteiras inerentes ao ciberespaço, redundam num contexto internacional anárquico que dificulta as lógicas comuns de imputação e dissuasão. O ciber poder não se restringe ao setor militar, alberga diversas tipologias (compulsório, institucional, estrutural e produtivo), capaz de erodir aspetos da noção de soberania (doméstica, interdependência, soberania legal internacional, e “Westephaliana”). Pode redundar na balcanização do ciberespaço a favor da segurança nacional e constituir um multiplicador de forças, o que desafia a utilização do termo ciber guerra, por oposição a ciber contenda. Ao analisar o impacto do ciber poder na relação dos EUA e RPC é possível evidenciar dois períodos: pré-2010, de colaboração instável, e pós-2010, de crescente antagonismo. Períodos que evidenciam a difusão de poder e crescente número de atores não-estatais nesta dinâmica, nomeadamente a preponderância das denominadas Big Tech, GAFAM e BATX.1 O presente trabalho, denota visões contrastantes sobre o ciberespaço, nomeadamente, o multistakeholderism americano e a soberania digital chinesa, que expõe dimensões endógenas do ciber poder e a sua aplicação interna, exemplificadas pelas revelações de Snowden e a arquitetura securitária digital de Pequim. O ciber poder constitui uma nova arena para o confronto geopolítico e permite ações abaixo do limiar do uso da força que testam, quer as capacidades do adversário, quer a sua intenção para as utilizar. Seguidamente, exploro a securitização do ciberespaço pela administração Obama. Ao analisar a retórica securitária, através da metodologia de análise de discurso, complementada por análise documental, que demonstra o aumento de termos e iniciativas afetos a ciber segurança em documentação oficial. A aceitação da audiência, evidencia-se em sondagens, inquéritos e na capacidade de recolha de fundos orçamentais para ciber segurança. Este processo tem paralelo na administração Trump, que demonstra, com recurso a sondagens, inquéritos e estratégias nacionais, a evolução da narrativa securitária face à China, caraterizado por uma postura mais proativa. Apesar desta ameaça não se materializar, é evidente o apelo para adoção de medidas excecionais, a perceção de ameaça pelo ciberespaço e consequente evolução da mesma, face à China.
The present work is pertinent, when examining the theory of securitization applied to cyberspace, analyzing cyber power between the USA and China, and the consequent evolution of the security process vis-à-vis China, during the period 2009-2021, regarding the Obama and Trump administrations. Securitization points to a speech act, on the part of a security actor who warns of the need for exceptional measures in order to protect a relevant object and overcome an existential threat. Therefore, the success of securitization depends on building a threat perception and its acceptance by the audience, in this case, the US population. When approaching the securitization of cyberspace, it becomes imperative to analyze the characteristics and limitations of cyber power and its impact on the relationship of the actors under analysis, as it highlights adversary capabilities and gives substance to the narrative of na existential threat. Characterized by poor adherence to the traditional logics of the physical domain, thanks to the anonymity and fluidity of the borders inherent to cyberspace, they result in an anarchic international context in which the common logics of imputation and deterrence are difficult. Cyber power is not restricted to the military sector, it encompasses different typologies (compulsory, institutional, structural and productive), capable of eroding aspects of the notion of sovereignty (domestic, interdependence, international legal sovereignty, and “Westphalian”), and can result in the balkanization of cyberspace in favor of national security. Cyber power does not constitute a singular strategic domain, but a force multiplier, challenging the use of the term cyber war, to the detriment of cyber contention. When analyzing the impact of cyber power on their relationship, it is possible to highlight two periods, pre-2010, of unstable collaboration, and post-2010 of increasing antagonism. This highlights the diffusion of power and growing number of non-state actors in this dynamic, namely the preponderance of the so-called Big Tech, GAFAM and BATX. 2 The present work denotes contrasting views on cyberspace, namely, American multistakeholderism and Chinese digital sovereignty, which exposes endogenous dimensions of cyber power and its internal application, exemplified by Snowden's revelations and Beijing's digital security architecture. Cyber power constitutes a new arena for geopolitical confrontation and allows actions below the threshold of the use of force that test both the adversary's capabilities and its intention to use them. It then explores the securitization of cyberspace by the Obama administration. By analyzing security rhetoric, through the methodology of discourse analysis, complemented by document analysis, which demonstrates the success of the process through the increase in terms related to cyber security in official documentation. Also for the acceptance of the audience, in polls, surveys and the ability to collect budgetary funds for cyber security. This process has a parallel in the Trump administration, which highlights, using polls, inquiries and national strategies, the evolution of the security narrative towards China, characterized by a more proactive stance. Although this threat does not materialize, the allusion to the adoption of exceptional measures, the perception of threat through cyberspace and its consequent evolution, vis-à-vis China, is evident.
