Author(s): Pereira, Sara Maria Azevedo e Souza Marques
Date: 2014
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10174/11239
Origin: Repositório Científico da Universidade de Évora
Subject(s): O pensamento pedagógico de Sampaio Bruno; A ideia de educação para a República; De Pereira Sampaio s Sampaio Bruno; Da realidade à idealidade educativa; Pedagogo
"Sem Resumo feito pelo autora"; A presente tese tem como objecto o estudo do pensamento pedagógico de Sampaio Bruno (1857-1915), no sentido de demonstrar a ideia de educação para a República que este autor defendeu. Todavia, ter escolhido um autor como Sampaio Bruno não foi tarefa fácil'. A empresa mostrava-se, desde logo, eriçada de dificuldades. Para além de ser, reconhecidamente por vários dos seus estudiosos, um escritor de prosa difícil, imbricada, incompreensível mesmo — talvez motivada pela sua dieta de leituras um tanto anárquicas, como pelo estilo, onde a oração intercalar e o hipérbato, ou inversão, fazem tropeçar a clara exposição das ideias — Sampaio Bruno vinha já sendo estudado por grandes nomes da nossa cultura contemporânea. Desde a década de cinquenta, por alturas do centenário do seu nascimento (1857), inicia-se em Portugal o desocultamento deste autor, até aí quase esquecido, com a publicação da biografia feita pelo seu sobrinho, José Pereira de Sampaio (Bruno). Esta publicação foi contemporânea do número que lhe foi dedicado em Estrada Larga – Suplemento de Cultura e Arte de O Comércio do Porto, organizado por Costa Barreto, a que logo se haveria de seguir o livro de Joel Serrão, Sampaio Bruno – O Homem e o Pensamento. Antes disso, para além dos escritos dispersos produzidos na época do seu falecimento (1915), só o livro de Álvaro Ribeiro, Sampaio (Bruno), escrito em 1947, e o pequeno texto de José Marinho "José Pereira de Sampaio (Bruno) — (1857-1915)", publicado em Perspectivas da Literatura Portuguesa do Séc. XX (1948) —, tentavam afastar o pensador portuense do olvido em que se encontrava. Após o falecimento, em 1915, o pensamento deste autor haveria de despertar o interesse da Filosofia e da Literatura, sobretudo no que concerne à sua obra maior, A Ideia de Deus (1902), bem como O Brasil Mental (1898), A Geração Nova (1886) ou Os Modernos Publicistas Portugueses (1906). Mais recentemente, tanto a História como o Pensamento Político, ligados aos últimos anos da Monarquia e primeiros da República, têm vindo a revisitar os textos de Bruno, especialmente a sua extensa colaboração periodística, onde ressalta mais transparente a sua ideologia política. Nos dias de hoje, felizmente, muitas têm sido as monografias e os estudos que lhe vêm sendo dedicados, dos quais destacamos, temendo sempre cometer a injustiça de omissão, os de Amorico de Carvalho (1960), de Maria Helena Varela (1990) e de Manuel Gama (1994), a que se veio juntar um número temático da Revista Nova Renascença (Vol. XV, 1995), que recolhia algumas das comunicações apresentadas no Colóquio Antero de Quental, dedicado a Sampaio Bruno, realizado em Aracajú (Sergipe-Brasil), entre 14 e 15 de Setembro de 1993. Apesar dos vários estudos que vêm sendo realizados, nenhum ainda abordou, com profundidade exclusiva, a questão do seu pensamento pedagógico. É o que pretendemos levar a cabo nesta dissertação. Inserindo-se este trabalho na área das Ciências da Educação, ele resulta da intersecção entre a História da Pedagogia e da Educação, a Teoria da Educação e a História das Ideias Educativas. Na realidade, o estudo do pensamento pedagógico de Sampaio Bruno, considerado um dos mais complexos pensadores portugueseS4, obrigou a percorrer os trilhos de múltiplas áreas epistemológicas e saberes diversos: da História e Teoria da Educação, propriamente ditas, passando também pela Filosofia, Literatura, História, Ciência Política, até à Gnose, relacionando-se esta com os temas mais acentuadamente místicos e esotéricos que Bruno abordou. A transdisciplinaridade — para além da interdisciplinariedade — é, assim, evidente no seu pensamento, acabando por se tornar sensível na produção deste estudo, se bem que, como já dissemos, a tónica se coloque no âmbito do Pensamento Pedagógico do Portugal dos Sécs. XIX e XX5. Vários espelhos para reflectir uma realidade ainda assim diversa e esquiva, decorrente de um pensamento muitíssimo original, como foi o de Sampaio Bruno. Heterodoxo e pluralista, essencialmente autodidacta, o seu labor intelectual incidiu numa multiplicidade de interesses.
