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A prescrição de antidepressivos e calmantes: um estudo de caso sobre ideologias terapêuticas na prática clínica de médicos de família e psiquiatras

Author(s): Zózimo, Joana Isabel Rocha

Date: 2011

Persistent ID: http://hdl.handle.net/10071/3494

Origin: Repositório ISCTE

Subject(s): Psicofármacos; Psicomedicalização; Depressão; Ansiedade; Ideologias médicas; Ideologias terapêuticas; Médicos de família; Psiquiatras; Psychopharmacs; Psycomedicalization; Depression; Anxiety; Medical ideologies; Therapeutical ideologies; General practitioners; Psychiatrists


Description

A depressão é apontada como uma das principais causas de adoecimento nas sociedades ocidentais, prevendo-se que, em 2020, constitua a principal causa de morbilidade nos países desenvolvidos. O aumento da incidência desta patologia é acompanhado pela larga prescrição de psicofármacos em todo o mundo, sendo que em Portugal foram o 2º subgrupo farmacoterapêutico com maiores encargos financeiros para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), em 2009. Levantam-se então questões prementes em termos de saúde pública, da prestação de cuidados de saúde e da sustentabilidade do SNS. Assim, realizou-se um estudo de caso, com recurso a entrevistas em profundidade, da prescrição de antidepressivos e calmantes na prática clínica de médicos de família e psiquiatras, especialidades que assistem este tipo de condições e de cujos discursos emergirá uma narrativa social sobre o modo como as sociedades contemporâneas gerem o sofrimento mental comum e sobre o lugar que os médicos ocupam neste processo de gestão. É a nossa tese de que estaremos perante uma expansão do fenómeno da medicalização às dimensões psicológicas do indivíduo, através da farmacologização de situações de sofrimento mental que antes não constituíam objecto de gestão médica - como a tristeza ou o nervosismo. Esta psicomedicalização do indivíduo prender-se-á com a manutenção de ideologias terapêuticas centradas na biologização e normalização do comportamento individual, culminando no desenvolvimento da farmacologia como principal meio de gestão e tratamento da doença. Esta matriz cultural coloca igualmente um grande enfoque na prevenção e controle da doença, o que legitimará a medicalização e farmacologização destas situações “de fronteira” sob pena de que evoluam para estados verdadeiramente patológicos, e justificando o papel emergente dos médicos de família na manutenção da saúde mental e a incrementação do papel tradicional dos psiquiatras enquanto especialistas dedicados à doença mental.

Depression is one of the major causes of illness in western societies and it is expected that, by the year 2020, it will be the leading cause of disease in the developed world. The growth of depression rates has been followed by the widespread prescription of psychopharmacs, at a global scale, while in Portugal they represented in 2009the 2nd pharmaceutical drug type with greater burden for the National Health Service (NHS) in terms of expenditure. These facts raise important issues regarding public health, the health care delivery system, and the sustainability of the NHS. Therefore, we have designed a case study, using in-depth-interviews, on the prescription of antidepressants and tranquilizers in the medical practice of general practitioners and psychiatrists, the medical specialties that attend to this type of conditions. We thus sustain that we can find, in their discourses, a social narrative of how contemporary societies manage mental suffering as well as the role of doctors in that process. It is our thesis that we are looking at the expansion of the medicalization process to the psychological dimensions of the individual, made possible through the pharmaceuticalization of issues of mental suffering that were not previously not subject to medical intervention, such as sadness or stress. As a consequence, this psycomedicalization of the common citizen would be connected to the therapeutical ideologies of biologization and normalization of the individual behaviour, which which has led to the assumption of pharmacotherapy as the prevailing strategy of managing and treating these diseases. This cultural pattern also favours the prevention and control of diseases, allowing therefore the medicalization and pharmaceuticalization of these uncertain conditions to prevent them from worsening. This justifies the emerging role of general practitioners in maintaining mental health, and the social reproduction of the traditional role of psychiatrists in managing mental illness.

Document Type Master thesis
Language Portuguese
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