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Instrumentos de rastreio e diagnóstico de delirium em doentes idosos

Author(s): Sequeira, Mafalda Sofia Batista

Date: 2017

Persistent ID: http://hdl.handle.net/10451/32269

Origin: Repositório da Universidade de Lisboa

Subject(s): Envelhecimento; Geriatria; Delirium; Ferramentas de diagnóstico e rastreio; Domínio/Área Científica::Ciências Médicas


Description

Trabalho Final do Curso de Mestrado Integrado em Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 2017

O envelhecimento da população constitui uma das maiores preocupações da sociedade moderna do século XXI. Nas últimas décadas assistimos a um aumento da esperança média de vida concomitantemente com o declínio da natalidade o que contribuiu para o envelhecimento da população nos países desenvolvidos. Portugal não é exceção no que toca à idade média da sua população, sendo que no nosso país a esperança média de vida, à nascença, é de 78 anos para os homens e 84,4 para as mulheres indo estes valores de encontro aos dos restantes países da União Europeia. (PORDATA 2014). (16) Os portugueses estão em quarto lugar, atrás apenas de França (88,6), Espanha (88,1) e Suíça (87,7), um pódio a cinco completado pela Eslovénia (87,4), estimando-se que em 2030 apresentem esperança média de vida de 87,4 anos. (2) De acordo com as últimas avaliações, os portugueses já estão a viver uma média de 81,1 anos. Como é do conhecimento geral não é prevista inversão neste indicador, sendo que, segundo as mais recentes projeções demográficas prevê-se que em 2050 três em cada dez pessoas terá 65 anos ou mais. Este aumento da esperança média de vida é influenciado por vários fatores macrossociais como seja a capacidade de distribuição de rendimentos, os sistemas de saúde e segurança social e a educação. Estes fatores definem a capacidade de um país gerar riqueza e, consequentemente, de garantir qualidade de vida à sua população. Esta irá refletir-se em termos individuais em anos de vida, já que estes fatores macrossociais acabam por resultar num melhor acesso aos cuidados de saúde e num comportamento ativo face a saúde e a doença. Fazendo um enfoque no acesso aos cuidados de saúde, como um dos principais fatores para o aumento da esperança média de vida de uma sociedade, foi de extrema importância a rede de cuidados de saúde primária de carácter preventivo para o envelhecimento ativo e com qualidade de vida. O envelhecimento é um fator positivo quer individualmente quer globalmente para as sociedades, sendo o reflexo do progresso económico, social e dos sistemas de saúde das mesmas. Individualmente, o aumento da longevidade trouxe alterações evidentes no que concerne à participação dos idosos na vida social e ao seu estado de saúde. Viver mais 4 implica também estar mais exposto a doenças crónicas, bem como, ao declínio das redes sociais e pessoais. A longevidade é, muitas vezes, sinónimo de perda de autonomia e independência, o que muitas vezes se torna um problema não só para o idoso como para o cuidador e para a sociedade. O avançar da idade traduz-se no aumento da vulnerabilidade do estado de saúde, no isolamento social e no aumento de um dos fatores que mais contribui para a dependência física, mental e económica que é a solidão. Contudo, estas não são condições inevitáveis do envelhecimento, sendo possível haver um envelhecimento saudável, ativo, bem-sucedido, com qualidade de vida para o individuo e beneficio para a sociedade. O envelhecimento representa também um impacto significativo no sistema de saúde de um país, quer estejamos a falar de cuidados primários ou hospitalares. Na minha experiência como aluna do último ano do curso de Medicina, durante os meus estágios nas enfermarias de Medicina Interna dos diferentes hospitais da região de Lisboa, constatei que a idade média dos doentes internados ultrapassava os 75 anos. No decorrer dos meus últimos dois anos como estudante de Medicina, que são os anos que envolvem mais prática clinica, constatei que a larga maioria da população hospitalizada nas enfermarias eram idosos com pluripatologia e plurimedicados. Outro aspeto que despertou a minha atenção e mesmo o meu interesse pela área da Geriatria foi o facto de que, de uma forma geral, a maioria dos profissionais de saúde não está preparada/treinada para lidar com uma população envelhecida com múltiplas co morbilidades e síndromes geriátricos. Com isto quero dizer que, é evidente a falta de investimento na formação dos profissionais de saúde no geral, na área da Geriatria face a condição demográfica do nosso país. A razão pela qual escolhi realizar o meu trabalho final de mestrado na área da geriatria prende-se, por um lado, com o facto de a minha maior área de interesse dentro das especialidades médicas ser a Medicina Interna. A Medicina Interna em ambiente hospitalar, bem como, a Medicina Geral e Familiar no contexto dos cuidados primários são áreas em que uma grande percentagem dos doentes são doentes geriátricos. Os estágios em medicina interna fizeram-me perceber que, para lidar com a realidade demográfica do nosso país que é importante investir em formação na área da Geriatria, bem como desenvolver abordagens especificas e especializadas para lidar com estes pacientes. A Geriatria demonstrou ser uma subespecialidade aliciante, na medida em que, 5 envolve um grande investimento no doente, uma grande preocupação com o seu estado físico, psicológico e social e um grande envolvimento com os fatores que globalmente podem contribuir para a sua fragilidade quer sejam eles os fatores relacionados com a sua patologia orgânica, com a plurimedicação ou mesmo relacionados com o cuidador. Este investimento numa avaliação e intervenção holística, centrada na pessoa, têm potencial impacto na sua qualidade de vida. O meu trabalho foca um quadro orgânico particular, o Delirium, quadro esse que não é exclusivo da população geriátrica sendo, no entanto, mais prevalente nesta população. O Delirium é uma síndrome cerebral orgânica potencialmente reversível de início agudo, caracterizada por desatenção, perturbação na cognição e / ou alteração na perceção. Esta condição é muito comum em pacientes hospitalizados vulneráveis , tal como os idosos com pluripatologia. Estima-se que o Delirium afete 14-56% de todos os idosos hospitalizados. Durante os meus estágios nas enfermarias de Medicina Interna assisti, não poucas vezes, a quadros consistentes com Delirium serem rotulados como Défices cognitivos ou Demências sem que antes fossem aplicados instrumentos de avaliação específicos para aferir um diagnóstico definitivo. O motivo pelo qual escolhi desenvolver o tema sob a forma de um artigo de revisão, prende-se com a oportunidade de treinar a elaboração de um documento integrador de conceitos e estado de arte possível de publicar, com potencial para disseminar o conhecimento. Sendo, como já referi anteriormente, a minha área de interesse a Medicina Interna e em particular a Geriatria perspetiva-se que, futuramente, este tipo de comunicação volte a ser repetido durante a minha carreira médica e formação pósgraduada. A opção pela escolha da língua inglesa prende-se com o facto de as publicações nesta língua aumentarem a comunidade científica capaz de ler e discutir o artigo, o que é crucial para evolução da ciência. Em resumo, a minha escolha em relação a este tópico, é devido não apenas ao meu interesse em Geriatria, mas também ao fato de ter assistido à “rotulagem” de pacientes idosos com demência, várias vezes, quando o diagnóstico correto era Delirium com repercussão negativa no seu tratamento e prognóstico. E por que é que isso acontece? Talvez devido à falta de formação dos profissionais de saúde em geral, a falta de informações sobre o status inicial do paciente ou à fraca difusão das escalas diagnósticas de Delirium entre médicos e enfermeiros. 6 A minha tese enfoca as escalas diagnósticas mais utilizadas e difundidas de Delirium em sistemas de saúde nacionais e internacionais, referindo-se às suas principais características, bem como seus prós e contras. Idealmente, gostaria que meu trabalho contribuísse para um uso mais regular das escalas de diagnóstico de Delirium nas enfermarias de nosso país, no sentido de um diagnóstico mais precoce e assertivo.

Delirium is a common and serious problem among acutely ill persons. It is estimated that delirium affects 14-56% of all hospitalized elderly patients. This syndrome is characterized by inattention, disturbance in cognition and/or alteration in perception and is linked to higher rates of mortality, institutionalisation functional and cognitive decline, it remains underdiagnosed. Careful consideration of its phenomenology is warranted to improve detection and therefore mitigate some of its clinical impact. The current standard for the diagnosis of delirium is based on DSM-5 (Diagnostic Manual of Mental Diseases version 5 ) but over the years many scales have been designed for screening, diagnosis and assessing the severity of delirium. This paper intends to review the various instruments available to screen the patients for delirium, instruments available to diagnose delirium, assess its the severity, cognitive functions, motoric subtypes, aetiology and associated distress. Among the various screening instruments, the Confusion Assessment Method CAM is considered to be the most useful instrument because of its accuracy, brevity, and ease of use by clinicians and lay interviewers. When comparing the tools, the CAM although it is the most widely used, studied and disseminated and it takes few time to be completed, it seems more difficult to complete by non-psychiatry experts, who may have some difficult to match the patients changes to the features identified in the CAM criteria. For research purposes, it is probably the better option even because it has been used for 16 years, enabling comparisons between centres. Regarding the new scales, the advantaged of 4AT(Assessment test for Delirium and Cognitive impairment) is that the instructions given to the healthcare professional to assess each delirium dimension are very clear and easy to understand and perform, which makes 4AT a nurse-friendly tool. Also its layout is very simple. 4AT is therefore a convenient tool to be used in clinical settings where gerontopsychiatry and geriatrics education and skills are low.

Document Type Master thesis
Language Portuguese
Advisor(s) Duque, Ana Sofia Baptista
Contributor(s) Repositório da Universidade de Lisboa
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