Document details

Riso e choro patológico no pós-AVC : uma revisão da prevalência e do impacto na qualidade de vida

Author(s): Ribeiro, Tiago João de Freitas

Date: 2017

Persistent ID: http://hdl.handle.net/10451/34023

Origin: Repositório da Universidade de Lisboa

Subject(s): Choro e riso patológico; Qualidade de vida; Acidente vascular cerebral; Psiquiatria; Domínio/Área Científica::Ciências Médicas


Description

Trabalho Final do Curso de Mestrado Integrado em Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 2017

Introdução: Choro e riso patológico (PLC) constitui uma comorbilidade secundária a várias doenças do foro neurológico, das quais se destaca o acidente vascular cerebral (AVC). Trata-se de uma perturbação ao nível da expressão emocional, que se caracteriza pela apresentação de episódios mais ou menos frequentes, súbitos e incontroláveis de choro, riso, ou de ambos, influenciando negativamente a vida dos doentes. Existem múltiplas denominações para esta entidade clínica, com ligeiras diferenças entre si. Vários estudos relatam o PLC como uma consequência comum ao AVC e que os doentes com esta patologia têm uma pior qualidade de vida em relação aos outros doentes pós-AVC sem PLC. No entanto, estes estudos não são homogéneos, existindo discrepâncias metodológicas entre eles, designadamente, a população estudada encontrar-se em diferentes estádios de recuperação da doença, ser oriunda de variados contextos, além de terem sido aplicados diferentes métodos de diagnóstico. Além do mais, nestes estudos também foram associados aos doentes com PLC maiores défices físicos, psíquicos e cognitivos, variáveis essas que não foram controlados nos resultados obtidos e que se sabe poderem influenciar negativamente a qualidade de vida, o que impossibilitou o estabelecimento de um nexo de causalidade. Objetivo: A presente revisão de literatura pretende avaliar a prevalência do PLC em doentes com AVC, uniformizando as diferentes variáveis nos diferentes estudos, bem como a variação da prevalência durante o período de 18 meses pós-evento. Também é objetivo desta revisão avaliar o potencial impacto do PLC na qualidade de vida dos doentes, no período pós-AVC. Métodos: Foi realizada uma pesquisa literária nas bases de dados Pubmed, Scielo e b-on com as seguintes palavras-chave: “stroke” em combinação com “emotional lability”, “pseudobulbar affect”, “emotional incontinence”, “emotional volatility”, “emotionalism”, “pathologic laughter and crying”, “lability of mood”, “involuntary emotional expression disorder” e “affective lability”. Para pesquisa sobre o impacto na qualidade de vida, usou-se também em associação a expressão “quality of life”. Foram excluídos estudos cuja amostra fosse inferior a 100, bem como estudos que não avaliassem o efeito do PLC, como fator independente, na qualidade de vida. Resultados: Em relação à prevalência, foram revistos oitos estudos, num total de 2740 doentes. Estima-se uma prevalência de PLC de 15% no 1º mês; de 18% entre o 1º e 6º mês; e de 11% a partir do 6º mês e até 18 meses. Também se verificou, embora com dados limitados, que a apresentação mais comum desta doença consiste em episódios isolados de choro. Quanto ao impacto na qualidade de vida, dois estudos foram revistos, totalizando 808 doentes. Após controlo de variáveis confundentes demográficos e clínicos, foi demonstrado um impacto negativo e estatisticamente significativo nos domínios do SF-36 nos doentes com PLC quando comparados com o grupo controlo, ao nível de GH(DP): 34.1(17.4) vs 53.3(19.4); SF(DP): 77.2(19.2) vs 92.7(13.9); MH(DP):56.1(22.2) vs 77.6(16.7); RE(DP): 44.3(43.4) vs 86.9(28.8), MCS(DP):45.4(11.4) vs 57.7(8.8), PCS(DP): 46.4(10.0) vs 57.0(10.0). Também foi evidenciado um impacto negativo e estatisticamente significativo através do questionário WHOQOL-BREF nos doentes com PLC, ao nível das relações sociais (DP): 50.8(12.0) vs 56.4(11.8), quando comparado com o grupo de controlo, quer ao nível da saúde psicológica (DP): 45.5(20.1) vs 51.5(16.0), quando comparado com o grupo de controlo. Conclusões: Os resultados mostraram que o PLC é uma manifestação clínica comum secundária ao AVC, que pode surgir durante os primeiros 18 meses entre um em cinco a um em nove doentes, consoante o tempo decorrido pós-ictus. O PLC tem impacto significativo e independente na qualidade de vida dos doentes a nível físico, da saúde mental/psicológica e ao nível das relações sociais. A prevalência significativa associada ao impacto em vários aspetos da vida do doente é suficientemente relevante para que os clínicos e instituições de saúde possam estar atentos e promover um tratamento dirigido ao PLC. No sentido de confirmar estes dados serão necessários mais estudos uniformes, longitudinais e multicêntricos.

Background: Pathologic laughter and crying (PLC) is a clinical syndrome which can occur in multiple neurologic diseases, being stroke one of them. PLC is a disorder of emotional expression spectrum. It consists in sudden and incontrolable episodes of laughter, crying, or both, that can be more or less frequent and may have a negative impact in patients lives. Multiple terms have been used to describe PLC, and there are sometimes little differences between them. Various studies have reported PLC as a common consequence of stroke and that this group of patients have a worse quality of life when compared to other patients with stroke. However, in these studies patients have been recruited at different stages of recovery, from distinct settings and we’re diagnosed by different diagnostic methods. In these studies the group of patients with PLC was also associated with worse cognitive, psychological/mental and physical functions, which are known to have a potential negative impact in quality of life, making it difficult to establish a causal nexus. Objectives: The objective of this work is to assess the prevalence of PLC in poststroke patients and its evolution within the first 18 months. The second objective is to evaluate the effect of PLC in quality of life, free from confounding factors. Methods: It was performed a literature research on the Pubmed, Scielo and b-on databases using the following keywords: “stroke” associated with “emotional lability”, “pseudobulbar affect”, “emotional incontinence”, “emotional volatility”, “emotionalism”, “pathologic laughter and crying”, “lability of mood”, “involuntary emotional expression disorder” and “affective lability”. For the review of the impact of poststroke PLC in the quality of life, the expression “quality of life” was also used in combination. Studies with less than 100 patients and those who didn´t evaluate the impact in quality of life free from confounding factors we´re excluded. Results: About prevalence, eight studies met the established criteria, with a total of 2740 patients. The prevalence of PLC is estimated in 15% within the first month; 18% between the first and sixth month; and 11% after six months and until 18 months. It was also perceived that, although with limitations, the most common presentation was crying episodes. About quality of life, two studies met the established criteria, accounting for a total of 808 patients. In both studies 4 after adjusting for possible demographic and clinical confounders, patients with PLC showed lower results in various domains of quality of life, when compared to a controled group without PLC. In SF-36 questionaire GH(SD): 34.1(17.4) vs 53.3(19.4); SF(SD): 77.2(19.2) vs 92.7(13.9); MH(SD):56.1(22.2) vs 77.6(16.7); RE(SD): 44.3(43.4) vs 86.9(28.8), MCS(SD):45.4(11.4) vs 57.7(8.8), PCS(SD): 46.4(10.0) vs 57.0(10.0). In the WHOQOL-BREF these patients had worse results in the social relations domain (SD): 50.8(12.0) vs 56.4(11.8) in the control group; and in the psychologic health domain (SD): 45.5(20.1) vs 51.5(16.0) in the control group. Conclusions: Results show that PLC is a common condition after stroke. It affects approximately one in five to one in nine patients with stroke within the first 18 months. PLC has also a significant and independent effect on quality of life in the domains of general health, physical, psychologic/mental health and social relations. The fact that is a common consequence and associated with a significant impact in various aspects of life makes it relevant for both clinicians and health institutions, in a way they can be aware of the disease and promote appropriate care. Longitudinal, multicentric and homogeneous studies are needed to confirm and extent the data obtained.

Document Type Master thesis
Language Portuguese
Advisor(s) Abreu, Maria Manuela Ferreira Neves
Contributor(s) Repositório da Universidade de Lisboa
facebook logo  linkedin logo  twitter logo 
mendeley logo

Related documents

No related documents