Author(s): Marmeleira, José Manuel Marques da Silva
Date: 2021
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10451/51791
Origin: Repositório da Universidade de Lisboa
Subject(s): Hannah Arendt; Filosofia da ciência; Arte; Estética; Domínio/Área Científica::Ciências Sociais
Neste estudo, pretende-se iluminar o pensamento fragmentado, disperso e original de Hannah Arendt sobre arte e o artista, a estética e a cultura. A autora não foi uma teórica da arte ou da estética, mas escreveu amiúde sobre escritores e poetas, debruçou-se sobre a experiência estética, o objecto artístico e o conceito de cultura. Em articulação com o seu pensamento político, elaborou questões, teses e perspectivas que permitem compor um sentido acerca arte, do artista e da cultura no mundo. Nas leituras de Heinrich Heine, Charlie Chaplin e Franz Kafka, Arendt inaugura uma reflexão sobre a obra literária, o artista e o mundo, no qual esboça um dos seus mais nucleares conceitos: o da natalidade. Esta noção, no sentido de um começo, associada à obra artística adquirirá uma relevância incontornável na atividade da compreensão do mundo. São os escritores Marcel Proust e Joseph Conrad que permitirão a Hannah Arendt reconstituir os antecedentes do fenómeno político, dado que estabeleceram um tipo de relação com o mundo, norteada pelo desejo de compreender, de se espantarem e responderem ao mundo. Captaram algo que escapou à teoria e à historiografia. O pensar do artista é uma faculdade que Hannah Arendt preza em termos políticos e estéticos. Ao contrário do filósofo, o escritor ou artista tem uma relação mais intensa com o mundo das aparências. É seu espectador responde, com admiração, ao que lhe aparece, por mais terrível que seja. Procura dar-lhe sentido, tornando-o menos estranho e tornando se ele próprio menos estrangeiro. Num sentido contrário, encontra-se a fuga do mundo, que Arendt encontra no escapismo da beleza e na idolatria da cultura. A arte e a estética podem ser sinónimas da experiência da alienação, alimentá-la. O fugir do mundo para as regiões da beleza encontra a sua outra face na violência do homo faber, na brutalidade que o artista coloca serviço da fabricação de um não-mundo, na criação dos campos de extermínio e na dominação total do totalitarismo. O escapismo e fabricação alucinada do horror são duas experiências do domínio do homo faber e de uma degradação da estética e da arte. A tese concluirá, propondo uma análise do conceito de amor mundi, à luz dos seus principais conceitos políticos e dos textos que a pensadora dedicou a Bertolt Brecht e à relação entre a arte e a memória daqueles que a História esqueceu. Nesta secção do trabalho, o significado da estética em Arendt será interpretado à luz dos conceitos de narrativa, história, poesia ação, memória e dignidade humana, mediante a análise de um conjunto diverso de textos e obras, incluindo os seus Diários Filosóficos.
This study intends to illuminate Hannah Arendt's fragmented, dispersed and original thought on art and the artist, aesthetics and culture. Arendt is not an art or aesthetics theoretician, but she often wrote about writers and poets, looked at the aesthetic experience, the artistic object and the concept of culture. Along with his political thinking, she developed questions, theses and perspectives that allowed her to compose a particular and original perspective on art, the artist and culture in the world. In the readings of Heinrich Heine, Charlie Chaplin and Franz Kafka, Arendt opens a reflection on the literary work, the artist and the world, in which she outlines one of his most nuclear concepts: natality. The idea of natality as beginning, related with the artistic work, will acquire an unavoidable relevance in the activity of understanding. The writers Marcel Proust and Joseph Conrad will allow Hannah Arendt to reconstruct the antecedents of the political phenomenon of totalitarism, as they established a special type of relationship with the world Guided by the desire to understand, being amazed and shocked, to respond to the world, they captured something that escaped theory and historiography. The artist's thinking is a faculty that Hannah Arendt values in political and aesthetic terms. Unlike the philosopher, the writer or the artist has a more intense relationship with the world of appearances. He is a spectator of the world. He reacts to it, with admiration, to what appears to him, however terrible it may be. He seeks to make sense of the world, making it less strange, so he could become less foreign himself. In the opposite sense, there is a flight from the world, which Arendt finds in the escapism of beauty and in the idolatry of culture. Art and aesthetics can be synonymous with the experience of alienation. The flight from the world to the regions of beauty finds its reverse side in the violence of homo faber, in the brutality that the artist puts at the service of the manufacturing of a non-world, in the creation of the death camps and in the total domination of totalitarianism. Escapism and the manufacturing of horror are two experiences in the domain of homo faber which reveal a degradation of aesthetics and art. The thesis concludes by proposing an analysis of the concept of amor mundi, in the light of Arendt main political concepts and her essays on Bertolt Brecht and the relationship between art and the memory of those that History has forgotten. In this section of the work, the meaning of aesthetics in Arendt will be interpreted through the concepts of narrative, history, poetry, action, memory and human dignity, with the analysis of several texts and works, including his philosophical diaries.
