Author(s):
Batista, Luís António Brito
Date: 2011
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.6/1423
Origin: uBibliorum
Subject(s): Cinema - Relatório de estágio; Cinema - Realização - Curta-metragem; Cinema - Pré-produção - Curta-metragem; Cinema - Produção - Curta-metragem; Cinema - Pós-produção - Curta-metragem
Description
O cinema permite-nos sonhar, permite transportar-nos para tempos e espaços somente reservados à imaginação. O cinema induz o nosso sistema sensorial um conjunto de factores desencadeadores que nos remetem, por associação, para experiências vividas ou, muito facilmente, para campos que transcendem a própria imaginação. É esse o poder da imagem, do som, do cinema. Perante o desafio de criar uma obra cinematográfica na qual fosse tratado o tema da memória no cinema, foi pertinente encetar uma análise às duas dimensões em presença, o cinema enquanto registo do tempo, logo memória temporal e, por outro lado, as diversas formas possíveis de abordar o conceito da memória propriamente dita na película. Em primeiro lugar, foi importante realizar um reflexão sobre a memória em si e a forma de a abordar no cinema. A memória, enquanto capacidade humana em armazenar experiencias sensoriais diversas divide-se em dois tipos fundamentais, a de curto prazo e a de longo prazo. A memória de curto prazo tem o objectivo essencial de ajudar-nos a gerenciar a nossa realidade, o nosso quotidiano. A memória de longo prazo, que pode ser explicita ou implícita, é aquela a partir da qual é geralmente construído o sistema de valores e de competências, baseando-se no conjunto de coleções de experiências vivenciadas ou testemunhadas. As diferentes construções e modelos mentais possíveis à volta da memória podem levar a abordagens diversificadas do tema em cinema. Entre a desconstrução e complexidade da abordagem à memória e à mente humana de Christopher Nolan em “Memento” ou “Inception” à forma mais simples e convencional usada por Giuseppe Tornatore no seu “Cinema Paraíso”, existe um leque quase infinito de possibilidades. A memória pode ser tratada como tema em si, sendo o foco central da história ou, por outro lado, estar implícita no tratamento do fluxo narrativo, como recurso estilístico. Numa análise de género, o documentário pareceu ser o formato na base do registo da memória cinematográfico. Considerando que um documentário deve ou deveria consistir num registo de uma determinada realidade temporal, num testemunho de um lugar, de um tempo, a escolha deste género cinematográfico parecia óbvio como forma de tratar o tema proposto. No entanto, o gosto e a facilidade por inventar e contar estórias levou-nos na direção da ficção. Depois de uma primeira fase na qual não surgiam ideias de contos capazes de se encaixarem no tema da memória, surgiram algumas ideias que, depois de devidamente amadurecidas, foram transpostas para o papel. Dessas, uma foi selecionada a fim de ser desenvolvida e produzida. Todas as etapas dessa produção foram cumpridas e uma vez chegada a fase da montagem, chegou-se à conclusão que o projeto teria de ser abandonado por terem existidas algumas falhas técnicas durante a produção. Como existia um plano B, optou-se por avançar com esse como projeto final de mestrado. Por se ter perdido bastante tempo e recursos com a primeira proposta, a produção da segunda opção teria de ser leva a cabo num tempo limitado. O projeto ao qual foi dado o título “O 21 da Rua da Esperança” consiste num exercício no qual é trabalhado o tema da memória no cinema de uma forma que poderá ser considerada clássica. A narrativa centra-se numa fábula que se desenrola numa pequena aldeia do interior de Portugal onde vive um idoso que se debate com a solidão e uma criança, única na aldeia, cujo principal passatempo é chatear esse mesmo idoso. A criança serve aqui o propósito de ser o catalisador para o desencadear de memórias de infância no idoso, levando o mesmo a redescobrir o gosto pela vida e encetar, até, uma nova vida de tropelias. As memórias de infância são tratadas como sonhos, clássicos “flashback” cinematográficos. Procurou-se manter um paralelismo entre as ocorrências do presente e as memórias juvenis do idoso, sugerindo que umas tivessem desencadeado as outras. O resultado alcançado apresenta-se como uma curta-metragem fluída, com espaços melancólicos, acentuados por uma “durée” à escala de uma vida na terceira idade, intercalados com momentos de vivacidade impressos pela fugacidade da personagem juvenil.