Author(s):
Ravara, Sofia Belo
Date: 2016
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.6/4216
Origin: uBibliorum
Subject(s): Controlo de tabagismo; Tabagismo; Cessação tabágica; Médicos; Profissionais de saúde; Hospital; Políticas de espaços livres de fumo de tabaco; Fumo ambiental de tabaco; Educação médica e continuada; Atitudes; Papel de modelo; Norma social; Tobacco control; Smoking cessation; Smoke-free policies; Domínio/Área Científica::Ciências Médicas::Medicina Clínica
Description
A epidemia tabágica é uma das principais causas de morbilidade e morte prematura e continua a expandir-se globalmente. O tabagismo é também a principal causa evitável de morte. No entanto, mudar o paradigma é possível. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a principal estratégia para travar a epidemia passa por contrariar as táticas da indústria do tabaco através da implementação de políticas para regular as atividades desta indústria. Acresce que é também crucial sensibilizar e educar a opinião pública sobre os riscos para a saúde associados ao consumo do tabaco e envolver ativamente a sociedade civil no controlo do tabagismo. A perceção dos riscos do tabaco pela população e as normas sociais relativas ao tabagismo mudam lentamente ao longo do tempo. Por tal motivo, é necessário uma liderança firme e uma ação sustentada de saúde pública. Os profissionais de saúde, educadores, decisores políticos, governos, organizações não-governamentais (ONGs), os media e a sociedade em geral devem trabalhar conjuntamente, numa parceria concertada para promover as melhores práticas de controlo de tabagismo e diminuir a aceitação social do tabaco. Entre os vários atores sociais envolvidos no ativismo político de controlo de tabaco, os profissionais de saúde têm um papel crucial a desempenhar. Todos os profissionais de saúde, e muito especialmente os médicos, devem ser exemplos e líderes de saúde pública, comportando-se como modelos sendo “não fumadores”; educando a população sobre os riscos do tabaco e da exposição ao fumo ambiental de tabaco (FAT) e os benefícios da cessação tabágica; promovendo a cessação; identificando sistematicamente os fumadores na prática clínica, aconselhando-os a parar de fumar e apoiando a cessação; e, por último, intervindo no processo da negociação política da implementação das medidas de controlo do tabaco, influenciando a decisão. Em Portugal, a prevalência de tabagismo, avaliada nos inquéritos nacionais de saúde e outros inquéritos à população geral, mostra que o consumo de tabaco é elevado em muitos grupos etários, além de ter aumentado substancialmente nas mulheres dos 15 aos 70 anos ao longo das últimas três décadas. Acresce que o consumo aumentou recentemente nos jovens. Além disso, apenas uma minoria dos fumadores atuais expressa o desejo de cessar de fumar ou recorre ao tratamento de cessação tabágica. Estas tendências sublinham a necessidade de uma estratégia nacional de controlo de tabagismo efectiva e sustentada. Em 2012, foi aprovado um programa nacional de prevenção e controlo de tabaco, o que é certamente uma oportunidade para avançar o controlo do tabagismo em Portugal. No entanto, sem um financiamento adequado e a participação plena da sociedade civil e sua capacitação, o plano dificilmente conseguirá alcançar os objetivos. Entre os vários atores sociais, os médicos e os profissionais de saúde portugueses deverão ser modelos como não fumadores e líderes de saúde pública e de ativismo político na prevenção e controlo do tabagismo. No entanto, é escasso o conhecimento do comportamento tabágico dos médicos portugueses e do seu envolvimento no controlo de tabagismo. Neste contexto, o projeto de investigação conduzido nesta tese teve como objetivo explorar o envolvimento no controlo do tabagismo dos profissionais de saúde portugueses e, em particular dos médicos, e a associação deste envolvimento com a mudança da norma social em relação ao tabaco, descrevendo as tendências do comportamento tabágico entre os médicos e os profissionais de saúde, assim como as suas atitudes e crenças em relação ao FAT e às políticas de espaços livres de fumo, e por último investigar a sua participação em atividades de prevenção e controlo do tabaco. Foram também investigados os fatores associados com as atitudes de controlo de tabagismo e com a participação dos médicos e profissionais de saúde em atividades de controlo do tabagismo. As atitudes e crenças em relação à exposição ao FAT e às políticas de proteção ao FAT foram estudadas como medidas indiretas robustas das normas sociais respeitantes ao tabaco. Com efeito, de acordo com a literatura científica, estas medidas estão fortemente relacionadas com o apoio às políticas de prevenção e controlo de tabagismo e com a mudança da norma social a favor da diminuição da aceitação social do tabagismo. O consumo de tabaco e a formação em tabagismo foram sistematicamente explorados como as principais variáveis independentes, uma vez que o consumo do tabaco e a falta de formação são considerados as principais barreiras que travam o envolvimento dos profissionais de saúde no controlo do tabagismo. Foi investigado se os médicos portugueses se comportam como modelos não-fumadores, fumando menos do que a população em geral, relatando uma maior motivação para cessar de fumar, ou deixando de fumar mais cedo do que a população geral. Além disso, foi investigado se os médicos portugueses atuam como líderes de saúde pública, seja relatando atitudes mais positivas e maior apoio às políticas de proteção à exposição do FAT do que a população geral ou de que outros profissionais de saúde, seja participando ativamente em atividades de controlo de tabagismo. Finalmente, foi avaliada a associação entre o envolvimento dos profissionais de saúde e dos médicos no controlo do tabagismo e a mudança da norma social em relação à exposição ao FAT.
The tobacco epidemic continues to expand globally and remains a leading cause of morbidity and premature death. Changing the paradigm is however possible: tobacco is also the single most preventable cause of death. According to the World Health Organization (WHO), the key strategy to curb the epidemic is counteracting tobacco industry tactics by implementing tobacco control (TC) policies to regulate tobacco industry activities; raising public awareness regarding tobacco addiction and tobacco health hazards; and actively engaging civil society in tobacco control. Social norms regarding smoking and tobacco hazards change slowly over time: sustained action and leadership are needed. Healthcare professionals (HCPs), educators, policy-makers, governments, non-governmental organisations (NGOs), media and society at large should work on a strong partnership to promote TC best practices and denormalise tobacco use. Among those, HCPs have a critical role to play. All HCPs, and particularly physicians, should be TC exemplars and leaders by being role models as non-smokers; educating the general population about tobacco and second-hand tobacco smoke (SHS) hazards and the benefits of quitting; promoting cessation and systematically identifying smokers as part of their routine clinical practice; advising and supporting them to quit; and advocating for TC policies. In Portugal, smoking rates over time reported by the national health surveys and other population-wide surveys illustrate that tobacco use is high in many age groups; has recently risen among youths and is steadily rising among females in all group ages between 15 to 70 years. Moreover, few smokers express desire to quit or use cessation aids. These trends emphasize the need for a comprehensive and sustained national TC strategy. In 2012, a national TC programme was approved. This is certainly an opportunity to move tobacco control forward in Portugal. However, without appropriate funding and capacity building promoting civil society participation, the plan will not succeed. Among stakeholders, Portuguese physicians and HCPs should be non-smokers exemplars and lead TC advocacy. Nonetheless, little is known regarding smoking behaviour trends and TC engagement among Portuguese physicians. This thesis, therefore, aimed to explore Portuguese HCPs’ and, in particular, physicians’ awareness of and engagement with tobacco control and its association with social norm change regarding smoking by describing their smoking behavior trends, attitudes and beliefs regarding SHS and smoke-free policies (SFPs), and participation in TC activities. In addition, factors associated with attitudes to and engagement with TC were investigated. Attitudes and beliefs to SHS and to SFPs were studied as indirect measures of smoking social norms; since those measures are strongly related with support for TC policies and social norm change towards denormalisation of tobacco use. Tobacco use and TC training were systematically explored as the main independent variables, since tobacco use and lack of training are among the major barriers to overcome regarding HCPs’ engagement in TC. It was investigated whether Portuguese physicians behave as role-models either by being non-smokers themselves and smoking less than the general population or by reporting greater motivation to quit, or quitting at an earlier age than the general population. Additionally, it was studied whether Portuguese physicians act as TC leaders, either by reporting more positive attitudes and stronger support to SFPs than the general population or other HCPs, or by actively participating in TC activities. Finally, it was assessed the association between HCPs’/physicians’ engagement in TC and social norm change regarding SHS exposure.