Document details

Trama Relatório de Projecto

Author(s): Soares, Luísa das Neves Ferreira

Date: 2014

Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.6/5952

Origin: uBibliorum

Subject(s): Cinema; Filme; Trama


Description

O presente relatório destina-se a acompanhar e a contextualizar todo o processo de criação e produção do filme TRAMA. Este filme acontece como culminar de um processo de trabalho longo, de exploração não só de uma determinada realidade, como também de uma espécie de viagem interior que procurou não só conhecer um mundo específico, como de igual modo dar a conhecer perspectivas pessoais e inquietações próprias. É um filme enquadrado no género documental, mas que se constrói através de uma perspectiva necessariamente pessoal, onde há espaço para a experimentação, para a encenação e para a reflexão. Sendo o documentário um género em que a questão de autoria e da escolha são definidores, poderemos dizer que todo o documentário é pessoal, pois parte sempre do seu autor, das suas interrogações, formas de pensar e de olhar o mundo. Essa perspectiva pessoal estará sempre inerente ao filme. No meu caso, enquanto pessoa com formação e trabalho realizado no campo das Artes Visuais, a ligação entre estas e o filme seria inevitável. Assim, neste filme, a experimentação assume um papel importante, ao nível conceptual mas também de forma real e física. A experimentação das imagens e a sua construção, desconstrução ou sobreposição estão presentes, não apenas na montagem, como também na escolha de determinados formas de olhar o espaço ou as pessoas e de os mostrar aos outros. A experimentação física também existiu, a ligação dos materiais ao gesto e à acção, o interesse pelo contacto real e sensorial com elementos que depois são transpostos para a imagem fílmica. O objecto fílmico surge aqui enquanto encontro de perspectivas, numa procura que condensa a vontade de interligar linguagens que remetem para as artes visuais, para a fotografia, e para linguagens artísticas que trabalham o corpo e com o corpo como a performance, o happening ou a dança. Interessa-me assim pensar este filme como um objecto de criação num sentido mais lato, não tendo a necessidade de o categorizar ou rotular em determinado género, linguagem ou disciplina. Ele acontece enquanto reflexo da abordagem do seu autor, eu, a uma realidade, e da assunção plena de uma perspectiva pessoal dessa abordagem, com base na mistura de possibilidades e de linguagens artísticas que povoam o meu imaginário. Existe a escolha assumida de um ponto de vista, de uma forma de olhar para determinada realidade, de a pensar, estruturar e mostrar aos outros. Interessou-me abordar uma realidade, o da vida dos trabalhadores da indústria de lanifícios de uma região, através do olhar e das vivências das mulheres que fizeram parte de uma realidade que praticamente já não existe. Esta escolha surge em mim de forma natural, não apenas pelo facto de me identificar com elas enquanto género, e enquanto mulher olhar a realidade também por esse prisma, mas devido a outro factor que para mim é bastante relevante, o facto de pensar a relação maquinal e industrial pelo lado feminino. A relação a que se costuma dar o nome de homem-máquina, aqui transposta para a relação mulher-máquina, num sentido mais complexo do que apenas a ligação maquinal imediata do dia a dia de uma função, mas num percorrer de rotinas e memórias, como uma forma de abordar a história de uma região. A memória e o arquivo são também questões que importa referir, pois percorrem todo o filme, são fulcrais na estrutura e na abordagem. O filme é o resultado de um cruzamento de diferentes memórias: as memórias dos lugares, dos espaços, as memórias das pessoas que estiveram nesses lugares durante muito tempo das suas vidas, e as minhas memórias, que percorro e me interesso por estes locais, conhecendo-os e explorando-os há já bastante tempo. E é neste cruzar e nesta mistura, a que se junta um arquivo físico de fichas de trabalhadores, que se começa a produzir o filme, numa analogia à produção de um tecido ou malha, e daí o nome do filme, Trama. Ao pensar e defender este filme enquanto objecto de criação que é em tudo semelhante à criação de qualquer objecto artístico, faço uma interpretação da ideia de fruição, aqui aplicada ao objecto cinematográfico. Se a fruição existe no objecto artístico ela também terá de existir no objecto fílmico, e um pensar da arte, das suas relações, da estética e do posicionamento teórico em relação a ela são importantes. Importará também pensar de que forma a questão da fruição artística foi sendo pensada por diferentes filósofos ou pensadores. Assim como também importa pensar nos elementos formais e técnicos que dão corpo visível à obra, como se organizam, qual a importância que têm e de que forma influenciam a percepção e consequente fruição de uma obra. Poder-se-ão assim acompanhar de seguida nestas páginas todas as reflexões, sobre não apenas o tema tratado, como também sobre as ligações conceptuais e formais do cinema à prática artística e à noção de fruição, qual a importância dada a estas questões, a ligação à fotografia e à composição visual e de que forma todo o filme foi pensado e estruturado.

Document Type Master thesis
Language Portuguese
Advisor(s) Diogo, Vasco Gabriel Bordalo Machado Crespo
Contributor(s) uBibliorum
facebook logo  linkedin logo  twitter logo 
mendeley logo

Related documents

No related documents