Detalhes do Documento

Funcionalidade afectiva do pensamento contrafactual descendente : Acontecimentos negativos e variáveis de natureza pessoal

Autor(es): Neto, Sofia Moita

Data: 2015

Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.12/3879

Origem: Repositório do ISPA - Instituto Universitário

Assunto(s): Pensamento contrafactual; Funcionalidade; Afecto; Variáveis individuais; Counterfactual thought; Functionality; Affect; Individual variables


Descrição

Tese de Doutoramento apresentada ao ISPA - Instituto Universitário

O pensamento contrafactual é um processo cognitivo comum e universal, que todos encetamos no nosso dia-a-dia, e que consiste na tendência para considerar como resultados alternativos à realidade que, de facto, aconteceu, poderiam ter ocorrido se apenas algum dos elementos que precederam um dado desfecho - especialmente quando esse desfecho é negativo - tivesse sido diferente, se tivéssemos feito mais alguma coisa, ou, alternativamente, se não tivéssemos feito algo. Assume-se que é um processo funcional, que cumpre essencialmente duas funções: reparar o afecto negativo resultante de situações indesejadas e sugerir cursos de acção que possam evitar semelhantes desfechos, cumprindo assim funções quer de prevenção, quer de controlo da realidade. Uma primeira abordagem teórica partiu do princípio que estas funções seriam desempenhadas, a primeira por contrafactuais descendentes (formas como a situação poderia ter corrido pior) e a segunda por contrafactuais ascendentes (formas como a situação poderia ter corrido melhor). No entanto, resultados posteriores vieram a mostrar que focarmo-nos em como a situação poderia ter tido um desfecho mais trágico também pode amplificar o afecto negativo, e imaginarmos um melhor desenlace também pode conduzir a afecto positivo. Assim, o enquadramento teórico inicial tomava em linha de conta apenas efeitos de contraste, mas a evidência encontrada indica que ao pensamento contrafactual também podem estar associados efeitos de assimilação afectiva. Várias linhas de evidência indicam que acontecimentos negativos são o principal factor de activação da contrafactualidade, sendo que, por vezes, esta contribui não para um reequilibrar do afecto mas para um exacerbar do afecto negativo com um carácter disfuncional. Esta investigação procura determinar se acontecimentos com diferentes graus de gravidade influenciam os efeitos de contraste e assimilação afectiva, e averiguar se características de natureza pessoal influenciam essa relação e/ou podem ser, elas próprias, por si só, factores determinantes desses efeitos. Para tal, recorreu-se a inovadoras metodologias, baseadas na apresentação de contrafactuais previamente elaborados, por um lado, e na construção de novas opções de medida, por outro. Os resultados indicam que a funcionalidade da contrafactualidade descendente em termos de reposição do afecto se encontra muito ligada à magnitude de gravidade da situação original, seguindo uma distribuição curvilínea em que a mitigação do afecto negativo é negligenciável quando o acontecimento se caracteriza por marcada gravidade, cresce à medida que essa gravidade diminui reflectindo um maior contraste afectivo e volta a diminuir, tornando-se em assimilação afectiva quando a situação que a activou se encontra no limiar da positividade. Isto é, o pensamento contrafactual descendente parece desempenhar melhor a sua função de reparação afectiva em situações de negatividade moderada, mas em casos extremos, em que os acontecimentos sobre os quais os contrafactuais versam são ou muito negativos ou já positivos, essa função de compensação afectiva deixa de se cumprir. Diferentes níveis de assimilação e contraste foram também claramente encontrados para diferenciados graus de depressão e auto-estima, bem como, mais moderadamente, a nível do locus de controlo. A conclusão a tirar é que o pensamento contrafactual é funcional sim, mas nem sempre e não para todos da mesma maneira.

Abstract: Counterfactual thinking is a common and universal cognitive process, which we all deploy in our daily lives, and that consists in the tendency to consider how results alternative to the reality that actually took place could have happened if only one of the elements that preceded any given outcome - especially when that outcome is negative - would have been different, had we done something more or, alternately, if we had not done something. It is assumed that it is a functional process, essentially fulfilling two functions: to repair the negative affect resultant of undesired situations and to suggest courses of action that can avoid similar outcomes, accomplishing thus functions both of prevention and of control of reality. A first theoretical approach put forward that these roles would be achieved through, first, descendent counterfactuals (ways in which the outcome might have turned out worse) and, second, through ascendant counterfactuals (ways through which the situation might have turned out better). However, later findings have shown that focusing in how a situation might have turned out more tragic can also amplify negative affect, and imagining a better outcome can also lead to positive affect. The initial theoretical frame considered only contrast effects, but the evidence indicates that counterfactual thought can also lead to affective assimilation effects. Several lines of evidence indicate that negative outcomes are the main activation factor of counterfactual thinking and that, sometimes, this later fails to contribute to equilibrate the affect and instead magnifies negative affect in a dysfunctional manner. The present research tries to ascertain whether outcomes with different degrees of negativity would influence affective assimilation and contrast effects, and whether personal characteristics could influence that relationship and/or could be, by themselves, determining factors of those effects. With that goal in mind, we resorted to innovative methodologies, based on the presentation of previously elaborated counterfactuals, on the one hand, and in the development of new measuring options, on the other. Results indicate that the functionality of counterfactual thought when it comes to equilibrating affect very much depends on the magnitude of negativity of the initial outcome, following a curvilinear distribution in which the ameliorating of negative affect is negligible when the event is rather grievous, the affective contrast improves as the negativity of the initial outcomes diminishes and decreases again, becoming affective assimilation when the triggering situation borders on being positive. That is, descendent counterfactual thought seems to best accomplish its function of affective repair in situations of moderate negativity, but in extreme cases, when the outcome is either very grave or verging on the positive, this function of affective reparation ceases. Different levels of assimilation and contrast were also clearly found for differing degrees of depression and self-esteem, and, more moderately, for different levels of locus of control (internal versus external). The conclusion to be drawn is that yes, descendent counterfactual thought is affectively functional, but not always and not for everyone in the same way.

Tipo de Documento Tese de doutoramento
Idioma Português
Orientador(es) Senos, Jorge
Contribuidor(es) Repositório do ISPA
facebook logo  linkedin logo  twitter logo 
mendeley logo