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Minding his-story : Dora Russell’s voice on the side of life against the backdrop of her peace mission in the 1950s

Autor(es): Schwarz-S. G. Henriques, Michaela

Data: 2015

Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10451/22239

Origem: Repositório da Universidade de Lisboa

Assunto(s): Russell, Dora, 1894-1986 - Crítica e interpretação; Movimentos pacifistas - História; Movimentos pelos direitos civis; Feminismo; Teses de doutoramento - 2015; Domínio/Área Científica::Humanidades::Línguas e Literaturas


Descrição

Tese de doutoramento, Estudos de Literatura e de Cultura (Estudos Ingleses), Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2015

A dissertação visa duas linhas de investigação: uma centra no pensamento da protagonista, Srª Dora Russell, segunda esposa do pensador Bertrand Russell, a outra num movimento de mulheres pela paz que ela mobilizou em resposta não só à ameaça nuclear nos anos 1950, mas também em reação às manifestações anti-nucleares que, segundo ela, não constituíram uma resposta construtiva. As duas linhas acabam por estar interligadas: a caravana das mulheres pela paz incorpora uma parte essencial da sua filosofia, que por sua vez é exemplificada à medida que o contexto histórico e sócio-cultural pós-guerra se desenrola numa narrativa de descoberta. O que sempre determinou o percurso da história humana, dizia a Srª Russell já nos anos 1920, foi a mente humana na sua interrelação com o corpo, o meio ambiente e o universo. Opunha-se à explicação corrente que considerava o homem inventor de instrumentos e / ou o homem económico responsável pelo percurso civilizacional. Tendo registado a visão dela como uma possível hipótese, prossegue-se fazendo um estudo do desenvolvimento político-social pós-guerra, recriando o pano de fundo contra o qual os movimentos pela paz se irão desenrolar. Ao analisar o projeto Manhattan que, devido à situação da Segunda Guerra Mundial, se desenvolveu sobre sigílio absoluto, mostra-se como o secretismo político-militar sobre a administração militar criou condições para facilitar a satisfação de certos grupos de interesse sem qualquer limitação. O sucesso da produção da bomba gerou uma narrativa heroica, envolvendo cientistas, militares e indústria, que encontraram o seu eco no meio político conservador nos Estados Unidos. A partir desta narrativa desencadeou-se todo um conjunto de apostas pelo poder, motivadas por interesses próprios - militares, económicos, políticos e científicos. Para justificar a corrida aos armamentos, mesmo depois de terminada a guerra, criou-se um discurso de justificação do injustificável: a produção, a custo elevado, de super-bombas, que de tão destruidoras, nunca poderão ser utilizadas. Simultaneamente fabricou-se um inimigo representado pela União Soviética, que por sua vez ripostou na mesma moeda. Esta evolução representa, a ver da Srª Russell, um processo gerado por um pensamento tipicamente masculino, caraterizado pela ambição pelo poder, pela sua indiferença perante o meio social, pela sua visão unilateral e desprezo total quanto às consequências das suas ações. De fato, as condições de uma nova guerra – fria precisamente por não se querer arriscar usar armas de fogo – eram ideais para estudos recentes sobre a guerra psicológica (recurso à propaganda, serviços secretos, manipulação da opinião pública) que restou aos poderosos – homens na sua maioria – para lutar contra o opositor. Estes estudos confirmaram as convicções da feminista, que no início da guerra fria estava a trabalhar num departamento de informação ultramar do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Testemunhou de perto a mudança na relação entre o Oeste e Leste. Como editora da secção científica de revistas com circulação no Leste da Europa, estava a par das iniciativas que cientistas e intelectuais tomaram para informar o público acerca da ameaça da bomba e dos efeitos dos testes nucleares, e para assegurar um controlo internacional da energia nuclear. Convicta da ineficácia destas medidas por dizer respeito apenas a uma pequena elite, ela por sua vez inicia uma campanha para mobilizar as organizações de mulheres para a luta pela paz. Pelo seu empenho começa-se a perceber que aquilo que a motivou para esta ação tinha uma dimensão pessoal muito superior ao que a situação aparentemente merecia. Procurou por todas as formas encorajar um entendimento entre povos opositores, trabalhando para organizações internacionais que, no início dos anos 1950, já se encontravam sobre a influência dos países de leste. Apesar dos incómodos que isto lhe causou devido a reações hostis por parte de entidades britânicas, ela persistiu, alegando que a única maneira de assegurar uma relativa estabilidade seria através da cooperação entre Leste e Oeste - uma luta pela paz face ao perigo da aniquilação nuclear não devia reconhecer fronteira ideológicas, artificialmente criadas. E as pessoas mais indicadas para alcançar esta união seriam as mães / mulheres por terem uma visão pro-vida e uma perspetiva social mais informada devido à sua natureza e os seus empenhos regulares na e para a sociedade – um discurso, deve-se dizer, que na altura era bem aceite. Quando o Governo britânico anunciou o seus primeiros testes termo-nucleares, o público inglês começou, afinal, erger-se em protesto, organizando pouco a pouco as conhecidas marchas de Páscoa para o centro de investigação nuclear de Aldermaston. O seu objetivo de desarmamento nuclear unilateral era para a Srª Russell apenas mais uma forma de acentuar a divisão. Em 1958 conseguiu, na sua função de Presidente do Comité Permanente Internacional das Mães, unir um pequeno grupo de mulheres de todas as idades para viajar de Oeste para Leste numa missão de amizade e boa fé. A viagem durou três meses e levou-as de Edimburgo a Moscovo e de regresso (passando por 16 países). Tão importante era o acontecimento para a Srª Russell que organizou uma câmara cinematográfica para criar um registo mais duradouro. A análise da Dora Russell desta década assim como as suas campanhas invulgares deixaram transparecer uma filosofia de vida algo invulgar. Numa segunda parte expõe-se esta sua visão para a qual a consciência humana fisicamente situada é o ponto de partida para sua narrativa própria. As questões levantadas pela narrativa dela são debatidas sobre diversos pontos de vista, cobrindo áreas como a neurociência, a biologia, a filosofia, a antropologia, e a psicologia, debruçando-se sobre a natureza humana e a consciência. As conclusões que este debate permite fazer esclarece uma série de aspetos da filosofia da protagonista, e deixa bem claro o porquê da importância que esta caravana de mulheres pela paz tinha para ela. Na parte final da dissertação, regressa-se à caravana, explicando melhor o seu itinerário e avaliando as suas consequências. No Epílogo deixa-se umas observações finais.

This thesis is about the educator and woman humanist Dora Russell, second wife of Bertrand Russell. Throughout her long life, she claimed to have had two missions: to help the cause of women and to end the Cold War. This thesis goes to show that these two aspects were intimately bound together by her life-embracing philosophy. This philosophy will be looked at, and her Women's Caravan of Peace project will serve to highlight the connections as she perceived them in her day-to-day life. Because of her philosophy the story that had to be told here is a long one. It begins with the genesis of the Cold War, background to her peace movement. As a 'battle of minds for minds' this period proves better than any other that her basic claim – to understand human nature one has to understand how the human mind works – is the right approach. The first part of this dissertation tells the story of the early Cold War and how people gradually woke up to the threats of a nuclear age. Mrs Russell assumes the lead in the narrative when the need for acting against this new threat gains in urgency. Her insistence with whoever could be converted to her views reveal how intensely she felt about the threat, her enormous investment in time and energy in the Women's Caravan of Peace journey reveal a deeper concern, as will be seen in the next chapters. In Part II Mrs Russell philosophy and how she came by it is detailed. As human consciousness is the key issue, the form of a debate has been adopted in which representatives of relevant fields of knowledge – biology, psychology, anthropology, history, will help clarify and confirm certain points raised by her thoughts. Knots will be tied in an interim chapter, before we will return to the Caravan to relive its journey and study its outcome. Final thoughts about Dora conclude this opus.

Tipo de Documento Tese de doutoramento
Idioma Francês
Orientador(es) Malafaia, Maria Teresa, 1951-
Contribuidor(es) Repositório da Universidade de Lisboa
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