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(Un)making the (post)human : biopolitics and the corporatization of the body in Margaret Atwood's Oryx and crake

Autor(es): Santos, Sara Catarina Melo dos

Data: 2017

Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10451/29640

Origem: Repositório da Universidade de Lisboa

Assunto(s): Atwood, Margaret, 1939-….. Oryx and crake; Romance canadiano de língua inglesa - séc.20 - História e crítica; Biopolítica - Na literatura; Teses de mestrado - 2017; Domínio/Área Científica::Humanidades::Línguas e Literaturas


Descrição

Oryx and Crake (2003) de Margaret Atwood, o primeiro romance na trilogia Maddaddam, retrata um mundo pós-apocalíptico em que a espécie humana está praticamente extinta devido à disseminação de um vírus sintético, evento referido no texto como “o dilúvio.” Seguindo Snowman, o último homem à face da Terra, nos seus esforços para sobreviver num ambiente biológico e ecológico hostil, o romance produz uma narrativa fracturada que permite a Atwood comentar acerca de práticas sociopolíticas e económicas contemporâneas, bem como concepções tradicionais do sujeito presentes na cultural ocidental, ao mesmo tempo imaginando um futuro sem o ser humano. Esta dissertação desenvolve o argumento de que a narrativa de Atwood reproduz uma rede de estruturas de vigilância, disciplina e controlo biopolítico dominadas por autoridades corporativas, que integram o indivíduo, simultaneamente, num contexto de apropriação científica e capitalista que resulta na comercialização e reificação do corpo do indivíduo. O biopoder capitalista exercido pelas corporações perpetua uma tradição patriarcal e antropocêntrica que coloca o indivíduo humano, branco, do sexo masculino, no seu centro, desta forma retirando ao corpo não humano, não branco e não masculino o direito à subjectividade, à agência política e, como consequência, o direito à vida, e assim o reduzindo ao estatuto de “disposable other” (Braidotti 2013:28). Nesta dissertação, defende-se ainda que, através de Oryx e do mundo pós-apocalíptico dominado pelos Crakers, Atwood fornece-nos formas alternativas do sujeito, formas estas liminares que, encontrando-se na fronteira do poder corporativo mas nunca a este pertencendo, têm a capacidade de se mover através destes espaços vigilados pelas tecnologias biopolíticas. Deste modo, estas personagens desestabilizam dicotomias discursivas e políticas aparentemente estáticas. Finalmente, proponho que estes sujeitos alternativos abrem um espaço na narrativa para questionar outras formas de “ser” que não serão talvez puramente humanas, mas poderão constituir um indivíduo pós-humano ou pós-antropocêntrico. Começo esta dissertação com uma análise de género da obra de Atwood, com particular atenção à história genológica de Oryx and Crake, numa tentativa de situar o romance dentro um conjunto (mais ou menos flexível) de géneros literários. Tal análise é especialmente relevante para esta obra, visto que a bifurcação da narrativa, por um lado, numa distopia biocorporativa, e, por outro, num futuro pós-apocalíptico, colocam o texto na fronteira entre géneros, apropriando várias tradições e temáticas literárias, mas nunca se comprometendo apenas com um. Este capítulo propõe que o hibridismo genológico do romance reproduz uma crítica presente em Atwood ao modelo binário, muitas vezes selado, que, durante muito tempo, tem dominado as tradições literárias e sociopolíticas das culturas ocidentais. Desta forma, as escolhas de género de Atwood permitem examinar e questionar estruturas socioculturais, económicas e políticas que dominam o discurso ocidental, e que se reflectem nas relações binárias entre humano/não humano, masculino/feminino, sujeito/objecto. O Capítulo II examina a relação entre o laboratório biotecnológico e o mercado capitalista, com o intuito de iniciar a minha teorização da reificação e comodificação do corpo humano. Aqui, propõe-se que a representação de uma sociedade neoliberal e híper-científica dominada pelo interesse capitalista serve para Atwood criticar a realidade contemporânea marcada pela globalização de práticas político-económicas que concentram todo o poder político, jurídico, legal e económico nas mãos de corporações transnacionais, desta forma criando um fosso cada vez maior entre uma minoria privilegiada e as massas de cidadãos marginalizados. Este argumento é suportado por uma leitura do binário “compounds/pleeblands.” Este capítulo também teoriza o conceito de biopoder no contexto corporativo capitalista da obra de Atwood. Tomando como base de análise os conceitos originais de “biopoder” e “sociedades disciplinares” de Michel Foucault, identifico um conjunto de instrumentos de vigilância e controlo utilizados pelas corporações para conter e regular (e regularizar) os corpos dos “compounders” e dos “pleeblanders” dentro de uma rede de fronteiras e espaços rigidamente definidos. Concentro-me, principalmente, no uso dos corpos dos “pleeblanders” como cobaias insuspeitas no contexto de progresso e lucro biotecnológicos, analisando o modo como a utilização do corpo do “pleeblander” como espaço de experimentação o/a transforma, por um lado, em propriedade da corporação, e, por outro, num instrumento biopolítico utilizado contra si mesmo, desta forma impedindo o indivíduo de reclamar qualquer direito sobre si ou o seu corpo. Neste contexto, e adoptando alguns conceitos de Jacques Derrida, começo a avançar uma análise de Oryx enquanto presença intersticial que interrompe e subverte o discurso patriarcal e binário desta sociedade. Finalmente, o Capítulo III produz uma leitura do corpo da mulher e do corpo do animal dentro deste contexto de biopoder corporativo. Este capítulo afasta-se um pouco do conceito de Foucault, de modo a dar mais atenção a outros discursos teóricos pertinentes ao estudo do binário humano/não humano. Concentro-me na relação estabelecida entre o humano e o animal dentro do laboratório, onde se identifica a predominância de uma hierarquia antropocêntrica que centra o poder sobre o corpo e sobre a vida nas mãos do cientista humano, desta forma retirando qualquer subjectividade ou agência ao animal. Esta relação dentro do laboratório está intimamente ligada a um medo de contaminação e desejo de contenção que vê todos os corpos não tradicionais, como o animal, como ameaças ao espaço puro e limpo do laboratório, e que precisam, portanto, de ser eliminados. O capítulo vira-se, depois, para uma discussão mais detalhada da reificação e capitalização do corpo do animal, através da análise da presença dos pigoons e dos ChickieNobs no texto. Associado a estes animais está o acto de comer a carne animal, que denota a presença de uma tradição “carnofalogocêntrica,” termo concebido por Jacques Derrida (1991), que subjuga o corpo do animal e da mulher ao poder do “Homem.” Começo, então, aqui a analisar o corpo da mulher, que, como o do animal, é entendido como volátil, perigoso e que precisa de ser contido. Examino a reprodução de uma estrutura sociocultural patriarcal no espaço doméstico, que identifica a mulher com questões de maternidade, assim eliminando-a enquanto indivíduo e reduzindo-a à sua biologia. A relação entre o acto de comer e o corpo feminino também é aqui analisada, em particular com Ramona, notando-se assim uma identificação da mulher com o animal. Finalmente, o capítulo retorna a Oryx, cuja posição privilegiada coloca em questão a aparente estabilidade das hierarquias estabelecidas no laboratório e no âmbito doméstico. Proponho aqui que a objectificação do corpo de Oryx confere à personagem um maior controlo sobre o seu corpo, permitindo-lhe fugir ao discurso patriarcal e, consequentemente, abrindo-o ao escrutínio do “outro.”

Margaret Atwood’s Oryx and Crake (2003), the first novel in the Maddaddam trilogy, depicts a post-apocalyptic landscape where humanity has gone all but extinct by the dissemination of a man-made virus, referred to in the narrative as the “flood.” Following Snowman, the last human on Earth, as he attempts to survive in a biologically and ecologically hostile environment, the novel produces a fractured narrative that allows Atwood to critique current sociopolitical and economic structures, and traditional Western conceptions of subjectivity, while imagining a future without the human individual. This dissertation argues that Atwood’s narrative reproduces a network of corporately-mandated structures of biopolitical surveillance, discipline and control that integrate the subject within a combined setting of scientific and marketplace capitalism, which results in the commodification of the subject’s body. Corporate capitalist biopower perpetuates an anthropocentric, patriarchal tradition that positions the human, white, male subject at its center, in this way closing off subjectivity, political agency and, ultimately, the right to life, to nonhuman, non-white, non-male bodies, which are, as a result, reduced to the status of “disposable others” (Braidotti 2013:28). This project further argues that Atwood provides us with alternative or liminal forms of subjectivity with the character of Oryx and the Craker-ruled post-apocalyptic imagining. These liminal subjects stand at the borders of corporate power, and can move between and across surveilled biopolitical boundaries, in this way disrupting seemingly well-defined, static binary formations. Finally, these alternative subjects open up a space for thinking about subjectivity as perhaps not entirely human, but instead authorizing the emergence of a posthuman or post-anthropocentric self.

Tipo de Documento Dissertação de mestrado
Idioma Inglês
Orientador(es) Varandas, Angélica; Johnston, Justin
Contribuidor(es) Repositório da Universidade de Lisboa
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