Document details

O lugar da ética e da auto-regulação na identidade profissional dos jornalistas

Author(s): Fidalgo, Joaquim

Date: 2007

Persistent ID: http://hdl.handle.net/1822/6011

Origin: RepositóriUM - Universidade do Minho

Subject(s): 659.3:174; 174:659.3


Description

Tese de Doutoramentoem Ciências da Comunicação (Área de Conhecimento de Artese Técnicas da Comunicação)

O objectivo central da nossa investigação é tentar compreender as características específicas da profissão de jornalista, seja nos modos como ela é encarada “de dentro” pelos seus directos protagonistas, seja nos modos como ela é olhada e julgada “de fora”, pelo todo social com que interage. Trata-se de uma profissão reconhecida como tal e ‘institucionalizada’ há escassas décadas, e mesmo assim de modos algo vagos em certos países. O pressuposto de que partimos é o de que esta profissão foi sendo o que quis ou pôde ser, mas também o resultado de tensões, equilíbrios e negociações com os diversos actores sociais com que ela, de diferentes modos em diferentes tempos e espaços, se inter-relacionou. Um segundo objectivo, complementar deste, é compreender qual o papel particular das questões éticas e deontológicas na definição de uma identidade profissional dos jornalistas, bem como os modos em que ela se pode concretizar. Passamos em revista as mais recentes correntes teóricas ligadas à sociologia das profissões, decorrentes dos paradigmas funcionalista, interaccionista e “do poder”. Seguindo a sugestão interaccionista, focamos a nossa atenção mais no processo do que no resultado da estratégia de profissionalização dos jornalistas – o seu “projecto profissional” –, conduzidas ao longo de anos. Discutimos ainda as controvérsias em torno do conceito de profissionalismo, entendido ora como uma negativa ideologia de controlo (traduzida na apropriação, em regime de monopólio e com o aval do Estado, de um segmento fechado do mercado de trabalho e na valorização social do grupo), ora como um positivo sistema de valores que reclama orientar-se para um serviço desinteressado à comunidade. Depois de percorrida(s) a(s) história(s) recente(s) de construção da profissão em diferentes países, olhamos mais em detalhe como os jornalistas lidaram com certos ‘traços’ tradicionalmente associados aos grupos profissionais, nos domínios cognitivo, valorativo e normativo. Especificamente, analisamos as questões relacionadas com os variados perfis das suas associações profissionais, com o saber e saber-fazer que lhes é próprio, com a sua responsabilidade social e com o imperativo ético que se lhes coloca. No capítulo específico da ética, percorremos as mais importantes teorias (éticas deontológicas, teleológicas, consequencialistas, utilitaristas, “ética das virtudes”, “ética dos afectos”, “ética do discurso”), procurando discernir o que nelas há de semelhante e o que há de diferente. Evocamos também as perspectivas que procuram delimitar uma espécie de “mínimo ético comum”, baseado num pequeno número de proto-normas morais universais, nas quais possa ter as suas raízes não só uma “ética de profissionais”, mas uma mais lata “ética de cidadãos” – que os jornalistas também são. O entendimento de que as responsabilidades éticas, numa profissão com a influência e impacto social do jornalismo, implicam obrigatoriamente a necessidade de prestação de contas à sociedade, leva-nos depois a analisar as modalidades concretas que essa prestação de contas pode e deve assumir. Identificamos as vantagens da auto-regulação dos media e dos seus profissionais (considerando-a o melhor modo de equilibrar liberdade de expressão e de imprensa com responsabilidade), e também os seus limites e fragilidades. Passamos em revista um conjunto de mecanismos e instrumentos de auto-regulação, terminando na figura do Provedor do Leitor, que estudamos mais em detalhe, no contexto de um inquérito de opinião junto de jornalistas de três diários portugueses. Este estudo permite concluir que o balanço desta função (recente em Portugal) é genericamente positivo, embora de modos matizados conforme os jornais específicos e conforme os níveis etários dos jornalistas. Tendo presentes as novas condições em que se exerce o jornalismo na era digital, bem como os novos desafios que se colocam ao “campo jornalístico”, adiantamos a hipótese de que as exigências éticas – contendo obrigatoriamente um exercício competente do ofício – serão cada vez mais centrais na definição de uma identidade profissional específica dos jornalistas. Se alguns dos seus saberes ‘técnicos’ são hoje menos necessários do que no passado (porque outros actores, individuais e colectivos, também produzem e difundem informação no espaço público) ou estão mais acessíveis a qualquer um fora das organizações mediáticas tradicionais, tanto mais importa que os jornalistas aprofundem as marcas diferenciadoras do seu ofício, recuperando (e actualizando) os grandes objectivos que desde o início do processo de profissionalização apontaram como específicos da informação jornalística. Ou seja, a selecção, produção e difusão de informação completa e relevante sobre a actualidade, elaborada segundo critérios de verdade, rigor e interesse público, trabalhada de modo responsável, transparente e accountable, e permanentemente aberta tanto à crítica como à auto-crítica, devolvendo aos cidadãos o seu papel de co-protagonistas da comunicação mediática. Esse é, cremos, o caminho necessário para recuperarem toda a confiança do público, com o que tal implica de reconhecimento – e legitimação social – da sua profissão em construção.

The main purpose of our research is to try to understand the specific characteristics of the journalistic profession, both in the ways it is regarded “from the inside” by its direct protagonists, and in the ways it is viewed and judged “from the outside”, by the social whole with which it interacts. This is a profession only recently acknowledged as such, and institutionalized in a rather vague form in some countries. Our departing point lies on the presupposition that this job turned to be the profession it wanted or was allowed to be, but it is also the result of multiple tensions, balances and negotiations with the different social actors it dealt with, according to different places and different times. A second purpose of our work, closely connected with the first one, is to understand the particular role played by the ethical issues in the definition and construction of the journalists’ professional identity, as well as the concrete ways in which they can be actually (and not just rhetorically) assumed. We review the recent theoretical approaches in the area of the sociology of professions, mainly the ones connected with functionalism, with interactionism and with the so-called “power paradigm”. Following the interactionist ideas, we focus particularly in the process, rather than in the result, of the journalists’ professionalization strategy – their “professional project” – carried out through the years. We also discuss the controversies around the concept of professionalism, regarded either as a negative ideology of control (leading to the monopolistic occupation of a closed share of the labour market, allowed by the state, and to the social valuation of the professional group), or as a positive system of values and principles, claiming to provide the community with a relevant service, on a basis of altruism. After looking at the recent history (or histories) of construction of the profession in different countries, we proceed in more detail into the ways how journalists dealt with certain ‘traits’ traditionally associated to the professional groups, in the cognitive, evaluative and normative domains. We specifically analyze the issues related to their professional associations, to their particular knowledge and know-how, to their social responsibility and to the ethical demands they are faced with. In the chapter devoted to ethics, we revisit the most known theories in the field (deontological, teleological, consequentialist and utilitarian ethics, plus “discourse ethics”, “virtue ethics”, “ethics of care”), trying to find out the similarities, as well as the differences, between them. In the same line of thought, we recall several approaches committed to identify some kind of “common ethical minimum”, based on a few universal moral proto-norms in which not only “professionals’ ethics”, but a broader “citizens’ ethics”, could be rooted. The understanding that the ethical responsibilities, in a profession with such a social influence as the journalism, will necessarily imply the need to be accountable to the society, leads us to study the concrete modalities in which such accountability can take form. We identify the advantages of media self-regulation (considered the best form of safeguarding both freedom of speech and of the press, and their inherent responsibility), as well as its limitations. After reviewing a set of self-regulatory mechanisms, we concentrate on the figure of the news ombudsman, which is analyzed in a more detailed way, especially in the context of an opinion survey made among the journalists of three Portuguese daily newspapers. The discussion of the results of the survey suggests that this self-regulatory mechanism (still recent in Portugal) is generally regarded in a positive mood, although somewhat differently according to the newspapers involved, as well as to the journalists’ age and professional experience. Looking at the new conditions of the digital era in which journalism is carried on, as well as the new challenges faced by the “journalistic field” as a whole, we develop the argument that the ethical demands – containing necessarily a skillful and competent work on the job – will be more and more central to the definition of a specific professional identity for the journalists. If some of their technical requests and know-how are nowadays not as necessary as they were in the past (because other people produce and disseminate information in the public sphere too), or if they are more accessible to anyone outside the traditional media organizations, then journalists should engage even more strongly in defining the ‘marks’ that make their job different and unique, thus recovering (and updating) the main purposes of the journalistic information as it was claimed from the very beginning of their process of professionalization. That is to say, the selection, production and diffusion of complete and relevant information of the actuality, following criteria of truthfulness, accuracy and public interest, treated in a responsible, transparent and accountable way, and permanently open to criticism and self-criticism, in order to give back to the citizens their place as active partners in the process of media communication. This is, we believe, the way for them to regain public trust, thus helping to the needs of social legitimization of a profession still in construction.

Document Type Doctoral thesis
Language Portuguese
Advisor(s) Alves, Aníbal; Pinto, Manuel Joaquim da Silva
Contributor(s) Universidade do Minho
facebook logo  linkedin logo  twitter logo 
mendeley logo

Related documents