Autor(es):
Cavichi, Lucas V.
Data: 2023
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10198/28687
Origem: Biblioteca Digital do IPB
Assunto(s): Commelina erecta; Commelina benghalensis; Composição nutricional; Compostos fenólicos; Bioatividade
Descrição
Ao longo dos séculos, as plantas silvestres têm sido utilizadas por diferentes culturas como recursos medicinais e alimentares dada a sua composição química e nutricional rica em compostos com propriedades funcionais. Nos últimos anos, dada a crescente procura por parte dos consumidores aliada a novas tendências gastronómicas e finalidades industriais, tem havido um aumento de interesse neste tipo de plantas bem como por compostos bioativos extraídos a partir de fontes naturais. A utilização de plantas silvestres na alimentação, nomeadamente de plantas alimentares não convencionais (PANCs), representa uma fonte de subsistência para comunidades rurais, sendo atualmente consideradas uma alternativa sustentável e que permite a diversificação alimentar e o consumo por um número crescente de pessoas. Por isso, diferentes PANCs têm sido alvo de diversos estudos, uma vez que, para algumas espécies, o conhecimento quanto ao seu valor nutricional, químico e à presença de compostos bioativos é ainda escasso. Assim, o presente estudo teve como objetivo principal contribuir para o conhecimento de duas espécies de ervas daninhas vulgarmente conhecidas como Trapoeraba, Commelina erecta e Commelina benghalensis, com vista ao estímulo da sua inclusão numa dieta saudável e balanceada. Para o efeito foi avaliado o perfil nutricional (proteinas, lipidos, cinza, hidratos de carbono e energia)e químico (açucares livres, ácidos orgânicos, ácidos gordos, tocoferóis e compostos fenólicos) de diferentes partes das espécies referidas (caule, folha e flor) e em diferentes estádios de desenvolvimento (pré e pós-floração), bem como as propriedades bioativas (atividades antioxidante, citotóxica e antimicrobiana) de diferentes extratos das mesmas. As trapoerabas apresentaram um interessante perfil nutricional, que se revelou similar ao descrito para PANC’s popularmente consumidas, apresentando os glúcidos como os macronutrientes encontrados em maior quantidade. Foram detetados 4 ácidos orgânicos, 18 ácidos gordos, maioritariamente PUFA, e tendo sido identificado a presença de todas as isoformas de tocoferol. No que respeita o teor de tocoferóis, este foi particularmente elevado na amostra de folha pós-floração de C. benghalensis. Quanto à composição em compostos fenólicos, foram detetados 13 compostos. Entre eles vários derivados de apigenina, composto com potencial bioativo, tendo sido esta a aglicona com maior frequência entre as partes edíveis avaliadas. Ambas as espécies apresentaram resultados promissores no que respeita a avaliação de bioatividades, especialmente para a atividade antimicrobiana, na qual todas as partes avaliadas demonstraram eficácia contra bactérias e fungos, com algumas amostras a revelaram atividade superior aos dois aditivos alimentares testados como controlo positivo. De salientar ainda os resultados de citotoxicidade obtidos para a linha celular de cancro de mama (MCF-7) para o extratos hidroetanólico da flor. Em suma, os resultados obtidos suportam o uso das trapoerabas em medicina tradicional, bem como das folhas e caules na alimentação. Desta forma, pode ser interessante quer o desenvolvimento de estudos adicionais com vista ao seu possível uso com finalidades conservantes quer a promoção da sua inserção em novos pratos gastronómicos de modo a retirar maior proveito do seu potencial nutricional e bioativo.