Document details

Variação no uso de porque em português: fatores linguísticos e sociais

Author(s): Aguiar, Joana

Date: 2019

Persistent ID: http://hdl.handle.net/10198/20436

Origin: Biblioteca Digital do IPB

Subject(s): Variação linguística; Relações de causalidade


Description

Em português, o elemento de ligação porque estabelece uma relação de causalidade entre duas proposições ou dois atos de fala. Adoptando a proposta de Sweetser (1990), considera-se que a relação de causalidade pode ser tripartida em: causa real (1), causa explicativa (2), e causa interacional (3). (1) A Ana escorregou porque o chão estava molhado. (2) A Ana não deve gostar de marisco, porque não comeu nada. (3) Vai desligar as luzes. Porque precisamos de poupar energia. Do ponto de vista sintático, as estruturas introduzidas por porque não constituem uma classe de estruturas homogéneas (Lobo, 2003, 2013; Peres & Mascarenhas, 2006; Mendes, 2013; Aguiar & Barbosa, 2016). Os resultados de testes de escopo e clivagem apoiam a classificação destas estruturas em orações subordinadas adverbiais (não periféricas) (1) e estruturas suplementares (2, 3). Neste sentido, as orações subordinadas não-periféricas estão integradas na oração principal, c-comandadas ao nível de TP (Lobo, 2003), ao passo que as suplementares são estruturas paratáticas, com recurso a um operador, que estabelecem uma relação de dependência semântica com a estrutura à qual estão ancoradas, apesar de não estarem integradas, do ponto de vista sintático, nesta (Huddleston & Pullum, 2002; Peres & Mascarenhas, 2006). Tendo em consideração a classificação semântica e sintática das estruturas introduzidas por porque, este trabalho explora, a partir de uma perspetiva variacionista laboviana (Labov, 1972 e seguintes), a frequência de ocorrência destas estruturas e a sua distribuição de acordo com o sexo, a idade, e a escolaridade do informante. Os corpora em análise são compostos: (i) por textos redigidos a pedido por informantes adultos e não adultos, mediante tarefas controladas; e (ii) por textos recolhidos da blogosfera, redigidos apenas por falantes adultos. Os resultados mostram que a relação de causa explicativa é mais frequente, principalmente nos textos redigidos por informantes mais velhos e com mais escolaridade. Pelo contrário, os informantes mais novos e com menos escolaridade tendem a estabelecer mais frequentemente relações de causa real. Estes resultados ilustram o pressuposto de que a relação de causa real é mais facilmente processada (Noordman & Blijzer, 2000). O recurso a um conector explícito de alta frequência (Costa, 2010), como é o caso de porque é, assim, uma estratégia básica de argumentação e de estruturação textual em falantes mais novos e em falantes com menos escolaridade.

In Portuguese, porque (‘because’) may establish a causal relation between two propositions or two speech acts. By adopting the proposal of Sweetser (1990), it is considered that the causal relation may be subdivided into: real cause, explicative cause, and interactional cause. From a syntactic point of view, the structures introduces by ‘porque’ do not form a class of homogenous structures (Lobo, 2003, 2013; Peres & Mascarenhas, 2006; Mendes, 2013; Aguiar & Barbosa, 2016). The result of scope and cleft tests, among others, support the classification of these structures as subordinated (non-peripheral) (1) and supplements (2, 3). More specifically, the non-peripheral subordinated clauses are integrated into the main clause, and are c-commanded at TP level (Lobo, 2003), whereas the supplementation is a paratactic structure, connected by an operator. In this case, it is established a relation of semantic dependency with the clausal structure at which the supplements are anchored, although they are not syntactically integrated (Huddleston & Pullum, 2002; Peres & Mascarenhas, 2006). Having in consideration the semantic and syntactic classification of ‘because’ structures, this paper explores the frequency of occurrence of theses structures and their distribution according to the sociolinguistic variables gender, age and level of education (Labov, 1972). The corpora of analysis are composed of: (i) texts written upon request by informants (ages from 9 to 65); and (ii) texts collected on blogs, written by adult informants only. The results show that ‘porque’ is more frequent in the texts written by younger informants and informants with less years of schooling. On the other hand, in the texts written by older informants and by informants with more years of schooling, the causal relations are established using predominantly other connectives. These results illustrate the fact that real cause is easier to process from a cognitive perspective (Noordman & Blijzer, 2000). The use of a high frequency connector, such as ‘porque’ (Costa, 2010), is, thus, a basic strategy of argumentation and textual organization in younger speakers and in informants with less years of schooling.

Document Type Conference object
Language Portuguese
Contributor(s) Biblioteca Digital do IPB
CC Licence
facebook logo  linkedin logo  twitter logo 
mendeley logo