Autor(es):
Castro, Margarida ; Tavares Coelho, Joana ; Ferreira, Ana Rita ; Salgado, Henrique
Data: 2025
Origem: Acta Médica Portuguesa
Assunto(s): Hospitalization; Inpatients; Involuntary Treatment; Mental Disorders; Patient Compliance; Portugal; Psychiatry; Readmission; Risk Factors; Cooperação do Doente; Doentes Internados; Factores de Risco; Hospitalização; Perturbações Mentais; Portugal; Psiquiatria; Readmissão; Tratamento Involuntário
Descrição
Introduction: Involuntary hospitalization of a patient with a mental disorder is broadly defined as the admission to an inpatient unit without the patient’s consent. Literature suggests that involuntary hospitalizations are associated with low levels of treatment satisfaction, avoidance of mental health care, and an increased risk of emergency involuntary re-hospitalization. Despite being a lifesaving treatment, involuntary admissions can also be stigmatizing, undermine the long-term therapeutic relationship and reduce adherence to care. In this context, little research has been conducted to evaluate how shifting a patient’s hospitalization from involuntary to voluntary affects health outcomes, such as psychiatric decompensation and healthcare use. The main aim of this study was to identify and assess the frequency of readmissions within one year among patients who transitioned to voluntary treatment, compared with those who remained involuntarily treated.Methods: An observational retrospective study was conducted using secondary data from medical records of adult inpatients involuntarily admitted to the inpatient psychiatry department of Unidade Local de Saúde São João. All involuntary hospitalizations occurring between January 1st and December 31st, 2022, were classified into two distinct groups: patients who were initially admitted involuntarily and subsequently converted to voluntary hospitalization during their stay or patients who remained under involuntary hospitalization until discharge. Data registered in medical records within one year after the index hospitalization was collected and assessed (whether structured data or free text entries). Descriptive and comparative analyses were performed. Results: A total of 120 patients were included. More patients converted to voluntary hospitalization (60.8%) than remained involuntarily hospitalized (39.2%). In comparison to voluntary inpatients, involuntary inpatients had significantly higher readmission rates within one year (36.2% vs 15.3%, p = 0.009) and were more often readmitted under involuntary status (88.2% vs 45.5%, p = 0.030).Conclusion: Involuntary hospitalization was associated with worse outcomes within one year, underscoring the need for its use to be proportional to the risk and subject to periodic review. Conversion to voluntary hospitalization is reasonable, respects patient autonomy and, provided that appropriate treatment is maintained, does not worsen psychiatric decompensation.
Introdução: O internamento involuntário de um doente com doença mental é definido como a admissão numa unidade de internamento sem o seu consentimento. A literatura sugere que o internamento involuntário está associado a baixos níveis de satisfação com o tratamento, ao evitamento dos cuidados de saúde mental e um risco aumentado de reinternamentos involuntários urgentes. Apesar de ser um tratamento que pode salvar vidas, o internamento involuntário também pode ser estigmatizante, prejudicar a relação terapêutica a longo prazo e reduzir a adesão ao tratamento. Nesse sentido, há pouca investigação científica sobre o impacto da mudança de internamento involuntário para voluntário na saúde do doente, como a descompensação psiquiátrica e utilização de cuidados de saúde. O principal objetivo deste estudo foi identificar e avaliar a frequência de readmissões, a um ano, de doentes que transitaram para tratamento voluntário, em comparação com aqueles que permaneceram em tratamento involuntário. Métodos: Foi realizado um estudo observacional retrospectivo utilizando dados clínicos dos doentes internados involuntariamente em Psiquiatria na Unidade Local de Saúde São João. Todos os internamentos involuntários decorridos entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2022 foram categorizados em dois grupos: doentes inicialmente admitidos involuntariamente, posteriormente convertidos em internamento voluntário e doentes que permaneceram em internamento involuntário até à data de alta. Os dados registados nos processos clínicos no período de um ano após o internamento inicial foram recolhidos e analisados (tanto dados estruturados como entradas de texto livre). Foram realizadas análises descritivas e comparativas. Resultados: No total, foram incluídos 120 doentes. Um maior número de doentes passou para internamento voluntário (60,8%) comparativamente ao número de doentes que permaneceu em internamento involuntário (39,2%). Comparativamente aos doentes em internamento voluntário, os doentes que permaneceram em internamento involuntário apresentaram um número de reinternamentos ao fim de um ano significativamente superior (36,2% vs 15,3%, p = 0,009) e apresentaram maior número de reinternamentos involuntários (88,2% vs 45,5%, p = 0,030). Conclusão: O internamento involuntário mostrou estar associado a piores resultados a um ano, sublinhando que a sua utilização deve ser proporcional ao risco apresentado e sujeita a reavaliação regular. A transição para internamento voluntário é uma abordagem razoável, respeita a autonomia do paciente e, desde que seja assegurado o tratamento adequado, não agrava descompensação psiquiátrica.