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O Impacto da SARS-COV-2 na Actividade Cirúrgica Vascular num Hospital Terciário

Author(s): Garcia, R ; Bastos Gonçalves, F ; Ferreira, R ; Catarino, J ; Vieira, I ; Correia, R ; Bento, R ; Pais, F ; Ribeiro, T ; Cardoso, J ; Ferreira, ME

Date: 2021

Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.17/4579

Origin: Repositório do Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE

Subject(s): HSM CIR VASC; COVID-19; Cirurgia Vascular


Description

Introdução: A doença do coronavírus de 2019 (COVID-19) e consequente período de confinamento teve um impacto significativo no sistema nacional de saúde, com restrições em toda a actividade clínica — actividade assistencial na consulta, exames complementares de diagnóstico e número e tipo de intervenções cirúrgicas. A apreensão dos doentes em recorrer aos cuidados médicos e aos hospitais levou a admissões tardias, e na nossa percepção, a apresentações mais graves da patologia de base, nomeadamente na Isquémia Crítica de Membro (ICM). A necessidade de testar os doentes previamente a uma cirurgia não-emergente aumentou o tempo de referenciação inter- e intra-hospitalar,o que, somando à diminuição dos tempos cirúrgicos e da disponibilidade de vagas em unidades de cuidados intensivos, potencialmente prejudicou os resultados. O objectivo deste estudo é avaliar objetivamente o tipo de patologia que foi tratado durante o estado de emergência e comparar o desfecho dos procedimentos cirúrgicos com o mesmo período em 2018 e 2019. Métodos: Foi realizada uma análise retrospectiva dos processos clínicos dos doentes submetidos a cirurgia nos meses de Março e Abril do ano de 2020 e foi feita a comparação com o mesmo período dos dois anos prévios. O endpoint primário foi mortalidade aos 30 dias ou intra-hospitalar. Os endpoints secundários foram classificação patológica e do grau de isquémia, taxa de amputação, nível de amputação, tipo de cirurgia (aberta, endovascular ou híbrida), tempo de internamento e re-intervenção. Resultados: Foram operados 98 doentes no Período COVID (PC) comparado com 286 no Período Não-COVID (PNC). Não houve diferenças estatisticamente significativas na idade (70 anos (17–98) no PC vs. 69 (17–92) no PNC, p=.13) ou sexo dos doentes operados (76% masculino (n=74) no PC vs. 70% (n=196) no PNC, p=.26). Também não houve diferença estatisticamente significativa na mortalidade (5% (n=5) no PC vs. 5% (n=13) no PNC, p=.88). Houve uma diminuição estatisticamente significativa da cirurgia aberta (43% (n=42) no PC vs. 57% (n=164) no PNC, p=.04). Não houve diferenças significativas no tempo de internamento hospitalar (10 (0–77) dias no PC vs. 7 (0–118) no PNC, p=.6) e na taxa de re-intervenção (18% (n=18) no PC vs. 16% (n=45) no PNC, p=.58). A Doença Arterial Periférica (DAP) correspondeu a 75% (n=73) das admissões no PC, vs. 48% (n=137) no grupo PNC (p=.02). A ICM correspondeu a 99% (n=70) das admissões por DAP no PC, vs. 93% (n=114) no PNC (p=.1), com um aumento significativo da proporção de doentes cuja apresentação na admissão foi de grau 5 ou 6 de Rutherford (81% (n=57) vs. 68% (n=77), p=.03). Houve ainda uma diminuição sem significado estatístico da taxa de amputação (35% (n=25) no PC vs. 40% (n=49) no PNC, p=.49) com um aumento não significativo da taxa de amputação major (52% (n=13) no PC vs. 39% (n=19) no PNC, p=.27). O segundo grupo de patologia mais tratado foi a doença aneurismática da aorta e artérias ilíacas, mas houve uma diminuição estatisticamente significativa do número de doentes tratados (5% (n=5) no PC vs. 13% (n=36) no PNC, p=.05). Todos os aneurismas da aorta tratados durante o PC estavam em rotura (100% (n=5) vs. 42% (n=15) in the NCP, p=0.2). Não houve diferenças significativas entre os grupos na mortalidade por reparação urgente de aneurismas (60% (n=3) no PC vs. 47% (n=7) no PNC, p=.77). Conclusão: As restrições impostas pela COVID-19 manifestaram-se principalmente no tipo de patologia tratado e no número de doentes operados. A apresentação mais grave da patologia de base, manifestada por graus de isquémia crítica mais avançados, não aumentou a mortalidade nem se reflectiu de forma significativa nas taxas de amputação. A doença aneurismática da aorta foi a segunda patologia mais tratada, mas com uma diminuição significativa do número total de casos, sem diferença significativa na mortalidade.

Document Type Journal article
Language Portuguese
Contributor(s) Repositório da Unidade Local de Saúde São José
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