Autor(es): Aguiar, Ana ; Bezerra, Ana ; Gaio, Rita ; Pinto, Marta ; Duarte, Raquel
Data: 2023
Origem: Acta Médica Portuguesa
Assunto(s): Anxiety Disorders; Cluster Analysis; COVID-19/complications; Depressive Disorder; Mental Health; Portugal; Public Health; Análise de Clusters; COVID-19/complicações; Perturbação Depressiva; Perturbações Ansiosas; Portugal; Saúde Mental; Saúde Pública
Introduction: The COVID-19 pandemic is an illustration of how a physical illness can damage people’s minds. In this regard, the goal of this study was to see how different sociodemographic and behavioral factors were linked to anxiety and depression symptoms in a group of individuals living in Portugal. Methods: Between November 2020 and February 2021, a cross-sectional, snowball online study was conducted. The study’s target population was adults over the age of 18, residents of the country. For the statistical analysis, the clustering technique – K-means algorithm was applied. The chi-squared test was used to determine the relationships between clusters and sociodemographic and behavioral characteristics. Statistical analyses were conducted in R language, with a significance level of 0.05. A total of 453 participants were included. Results: The majority were female (69.8%), under the age of 40 (60.8%), with a higher education degree (75.3%), and not married (54.4%). Furthermore, the majority were from the country’s north region (66%). Cluster 1 (n = 194) was characterized by low or nonexistent levels of anxiety and depression symptoms, which means normal; cluster 2 by severe symptoms (n = 82), meaning case; and cluster 3 by mild symptoms (n = 177), which means borderline. Younger participants (p-value 0.024), female (p-value 0.041), with drinking habits (p-value 0.002), food insecurity (p-value < 0.001), food affordability exacerbation (p-value < 0.001), comorbidity (p-value < 0.001), use of anxiolytics (p-value < 0.001), insufficient household income (p-value 0.017) and income change (p-value < 0.001) were significantly associated with the anxiety-depression clusters. From the three clusters, cluster 2 was mainly represented by younger participants, with more persons stating that their household income was insufficient and that their income has changed as a result of COVID-19 and that they had the highest probability of food insecurity. Conclusion: The impacts of a crisis on mental health extend longer than the event itself. We were able to observe that younger women with insufficient household income who suffered a change in income due to COVID-19 and were classified as food insecure presented higher levels of anxiety and depression symptoms. These results highlight the presence of a social gradient where we saw that people who were less advantaged in terms of socioeconomic position presented worse mental health outcomes, stressing, in this sense, the need to bring the best public health responses for these specific groups of the population.
Introdução: A pandemia de COVID-19 é uma ilustração de como uma doença física pode prejudicar a mente das pessoas. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi verificar como diferentes fatores sociodemográficos e comportamentais se associaram a sintomas de ansiedade e depressão num grupo de indivíduos residentes em Portugal. Métodos: Entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, foi realizado um estudo online transversal de bola de neve. A população-alvo do estudo foram os adultos maiores de 18 anos, residentes no país. Para a análise estatística foi aplicada uma técnica de cluster – algoritmo K-médias. O teste qui-quadrado foi utilizado para determinar as relações entre os clusters e as características sociodemográficas e comportamentais. As análises estatísticas foram realizadas na linguagem R, com nível de significância de 0,05. Um total de 453 participantes foi incluído. Resultados: A maioria era do sexo feminino (69,8%), com menos de 40 anos (60,8%), com nível de ensino superior completo (75,3%) e não casados (54,4%). Além disso, a maioria era da região Norte do país (66%). O cluster 1 (n = 194) foi caracterizado por um nível baixo ou inexistente de sintomas de ansiedade e depressão, que significa normal, o cluster 2 por sintomas altos (n = 82), que significa caso e o cluster 3 por sintomas leves (n = 177), que significa limítrofe. Participantes mais jovens (valor-p 0,024), do sexo feminino (valor-p 0,041), que consumiam álcool (valor-p 0,002), com insegurança alimentar (valor-p < 0,001), exacerbação da acessibilidade alimentar (valor-p < 0,001), comorbilidade (valor-p < 0,001), uso de ansiolíticos (valor-p < 0,001), rendimento familiar insuficiente (valor-p 0,017) e alteração de rendimento (valor-p < 0,001) foram significativamente associados aos clusters ansiedade-depressão. Dos três clusters, o cluster 2 foi representado principalmente por participantes mais jovens, com mais pessoas a afirmar que o seu rendimento familiar era insuficiente e que sofreu alteração em decorrência da COVID-19, apresentando maior probabilidade de insegurança alimentar. Conclusão: Os impactos de uma crise na saúde mental vão além do evento em si. Pudemos observar que as mulheres mais jovens com rendimento familiar insuficiente que sofreram alteração do mesmo devido à COVID-19, e classificadas como tendo insegurança alimentar, apresentaram maiores níveis de sintomas de ansiedade e depressão. Esses resultados destacam a presença de um gradiente social onde observámos que as pessoas menos favorecidas em termos de posição socioeconómica apresentam piores resultados em saúde mental, ressaltando, nesse sentido, a necessidade de trazer as melhores respostas de saúde pública para esses grupos específicos da população.
